29 de setembro de 2013

Não



Eu não procuro um amor.



Não procuro alguém que me dê o carinho de que tanto necessito, que me proporcione risadas durante meus sonhos, que faça os meus olhos brilharem no escuro.

Eu não procuro por abraços apertados, cafunés de despentear cabelos, beijos acalorados e nem conchinhas nos fins de semana.

Não procuro por momentos felizes, de simplicidade sem preço, repletos de particularidades de nós dois.

De risadas escancaradas, conversas em silêncio, amor sem adjetivações.
Não, eu não procuro um amor.

Amor é daquelas pequenas coisas intrínsecas ao nosso destino, como uma borboleta que está fadada a passar pela mais bela de todas as metamorfoses.

É a mistura de um não sei o quê de sentimentos, ações e omissões, uma homogeneidade disforme, sobre a qual nada se sabe, mas se tem certeza de ser a oitava maravilha do mundo.
 
 


É... Eu realmente não procuro um amor.

Porque tenho você.

E não há sensação melhor no mundo do que não precisar de procuras.
 
 
 
 

Por Bia de SouZa
 
Imagens:



Por Justiça



Existe uma linha nítida
Como a do bem e do mal
Como a da vida e da morte
Porém difícil de se enxergar

Não se pode estar sobre ela,
Pois não há equilíbrio ali
Se enxergá-la e não escolher
Cairá do lado mais fraco

Um lado está em chamas
O outro queima em labaredas gigantes
Alguns tentando apagar,
Outros, fugir
Muitos não sabem aonde ir
E, após jogarem gasolina,
Os heróis aparecem para as fotos

Meus heróis tem morrido por isso
Desde os tempos de Cristo
Tem alguém apagando a linha
Tem alguém bebendo seu suor
Tem alguém escondendo as cartas
Trapaceando com mangas curtas
Tem alguém que não deve existir

Tem alguém aí?
Entre sem bater
Seja bem-vindo
Muito prazer
Este é o lado mais forte
Que está prestes a desaparecer
Lutaremos lado a lado
Sem nada mais a temer
Até o dia em que a linha se vá
O dia em que a justiça não será apenas uma palavra
E então tocaremos nossos sonhos

Jesus Não Voltou E O Pão Não Se Multiplicou


Queria ser Jesus por um dia
Pra entender tudo o que faço
E até já tenho os pés descalços
Era bem o que eu queria

Queria ser Jesus por um dia
Pra passear pelos desertos
Mas nem sei o que quero ao certo
Pois esta noite está tão fria

Queria ser eu por um dia
E ter alguém pra me escutar
Mas nem conseguem me enxergar
Nunca terei tais alegrias

Queria que desprezo fosse comida
Que vinho fosse água
E que esse beco, a saída

Queria ir
Queria sair
Não quero ter
Preciso comer
Queria agora
E se é que chegará a hora
Eu queria apenas ser
Ou, que seja, morrer

Eu queria ser
Mas sequer posso querer
Eu já nasci com a cruz
E eu não sou Jesus

24 de setembro de 2013

Ol-fato



O cheiro da chuva entra pelo meu nariz e vai se ramificando por todos os meus poros, minhas veias, minhas células, como se capaz fosse de me fazer florescer.


O cheiro de terra molhada me inebria e me hipnotiza, como um pêndulo mágico dos mais eficazes, daqueles dos mais renomados encantadores, repletos de magia e misticismo.


Mas não há terra molhada. A chuva cai sobre o asfalto quente, 30 graus de pura civilização, fazendo a fumaça branca subir pelos ares, formando desenhos tortos e sem sentido.


Estranhamente, o cheiro permanece. Como se tudo cheirasse a terra molhada, lembrando-nos que a terra construída nada mais é do que terra originária modificada.


Agora, a chuva cessa e o vento refresca o ambiente. O calor infernal de há poucos segundos se abranda lentamente, deixando espaço para que a respiração volte a funcionar com perfeição.


E voltando a respirar, percebo ainda mais forte o cheiro de terra molhada, inundando-me por inteiro, como numa verdadeira tempestade tropical.




21 de setembro de 2013

Meditação Literária


"Creio nos livros, todos Poderosos,
Criadores das mais belas obras humanas,
E em seus pais, magníficos e mágicos, nossos Autores!
Os livros foram concebidos pelo poder da imaginação,
Nasceram de nossas escolhas,
Não padecem jamais, frente a nenhuma adversidade.
São muitas vezes crucificados, julgados e calejados (mas isso faz parte!)
Desceram para atingir a todos que queiram ler
Ressucitam a cada dia!
Subiram ao Céu Literário.
Estão assentados nas mais belas estantes das bibliotecas do Saber,
Donde hão de vir a servir a novatos e veteranos.
Creio na Literatura,
Na Santa Criatividade,
Na comunhão de ideias,
Na remissão dos pecados linguísticos,
Na ressurreição das ideias,
Na Vida Eterna...

Amém."


http://www.sebodomarcao.com.br/Images/LivrosAvalizacao.jpg

16 de setembro de 2013

Sob os auspícios divinos



Desgraçada...! Surge de um além tão próximo, como um fantasma rebolante e vira meu mundo de cabeça para baixo. Me mata, me devora, me consome num piscar de seus olhos grandes, sorrindo tão sínica ao ver as labaredas do circo em chamas.

Você tranformou a minha paz num inferno dantesco. Não. Num inferno maquiavélico, gregoriano. Você, com essa sua verdadeira boca do inferno, capaz de dizer bombas atômicas com um simples sorriso branco, de uma beleza satânica e repleta de saliva venenosa.

Sua Víbora de cabelos longos...! Transborda dos meus olhos lágrimas do mais puro desamor, da decepção de um dia ter acreditado que não haveria mais mentiras, mais ocultações, mais atos falhos milimetricamente pensados.

Você conseguiu desaparecer por sonhados dias, dias de esperança ao meu coração partido, momento em que pensei retornar ao meu ponto de equilíbrio. Ao meu viver em pequenos momentos de felicidade.

Mas Fênix! Resurge, e maltrata, desmata o que morto estava, sabendo que pode causar todo o furor quando bem entender. 


Mas escuta - Maldita! - Rapariga de estonteantes olhos viris: ser cega ao próprio veneno é o que te condena.

É Medusa, mas o sol do luar não te fez perceber que a sátira interior é o que, auspiciosamente, te petrificará.



O nego e a cigana

Segue seco
o rato no beco
que segue sem medo
de se amedrontar.

Segue nego
subindo no gueto
mas segue sabendo
que vai apanhar.

Segue seco
com opala preto
subindo no gueto
"Eles vão te rachar"

Segue o merengue
do circo mambembe
cigana contente
quer se aproximar

Cigana contente
seguindo em frente
mas segue bem crente
que o amor "tá" no ar.

Então sobe nego
vá pedir arrego
o circo é o preço
pra se libertar

Ô cigana
Cuida desse nego
Porquê esse nego
Vai é te beijar.

Ô neguinho
Cuida da cigana
Porque ela te ama
e quer se casar.

Bela




Era Bela.
De uma beleza estonteante, de parar o mundo.
Era assim, e dela emanava a beleza de ser feliz.
Mas não só bela se fazia, corpo esbelto e juvenil.
Era animal.
Tinha nos olhos a destreza de um passarinho, a esperteza de uma pequena raposa,
A inteligência de uma coruja branca.
O amor de uma loba ao luar.
Era Bela...
Sentimentalmente forte, repleta de trejeitos e jeitos próprios,
Uma beldade de alma!
Daquelas raras, encontráveis nos mais altos picos do mundo,
Onde apenas os merecedores de tamanha dádiva alcançam com fervor.
Era Bela.
E por bela ser,
Merecia toda a beleza do mundo.

11 de setembro de 2013

Ilha desconhecida

Capa para o livro O Conto da Ilha Desconhecida de José Saramago

Apaixonei-me por uma sereia; ser fantástico de minha ilusões sonoras! Apaixonei-me pela possibilidade de ela ser uma sereia, e com teu canto fazer-me navegar por mares nunca dantes navegados por falta de coragem; os mares de meus sonhos, marés de ilusões que vem e vão, banhando meu ser com todo o tipo de esperança; esperança de um dia ser tudo o que quis e não fiz; com tuas palavras doces e densas, feito uma goiabada cascão, que se casa bem com o leve queijo de minha poesia infantil, com tuas palavras, repito, repito cada imagem que vejo brotar de seus lábios inertes, subir aos céus de meus desejos, e chover feito garoa em meus lábios, terra fértil para novas poesias, dedicadas sempre a ela, pois plantadas, cultivadas, regadas e ensolaradas por ela; com a madeira que emoldura seu belo rosto em quadro, faço a regata que um dia nos levará além mar, além de um horizonte sonhado, pois será um vivido, ultrapassando a barreira das possibilidades lógicas e literárias; com suas curvas. arquiteto nossa ilha deserta, com teus pelos crio a flora, com com teus olhos um arquipélago e com  tua voz, toda fauna imaginável; dos teus cabelos faço a rede, onde nas noites de verão passamos a contar as voltas das ondas, furiosas de inveja, contamos as folhas que caem de ternura só para nos proteger do frio, que embora seja pouco, castiga, faz tremer, se confundindo com os calafrios de prazer que temos juntos; enfim, quando tudo parece perfeito, ou ao menos satisfatório, eis que nosso abrigo, nossa ilha desconhecida, nos mostra que os sonhos não são coisas fixas, fixações cruéis de nossas mentes carentes; eis que, em verdade eu vos digo, eis que nossa embarcação começa a zarpar rumo a aurora que, vagarosamente, misturando-se em gradiente com o azul escuro do mar, surge apontando uma nova direção, onde encontraremos um mundo novo, onde nós, por sonharmos e realizarmos juntos, renovaremos nossas esperanças, pois lá é terra fértil, cujo nome deram Literatura!

8 de setembro de 2013

A Portuguesa


                Com alguns anos a minha frente, encantou-me justamente pela sua jovialidade. Seu sorriso, embora de aparência infantil, emanava, subliminar, toda a tranquilidade que acumulara durante os anos; era um sorriso simples no gesto, mas forte na expressão.
               
                Seus olhos pequenos pareciam sustentar, há tempos, um sofrimento distante, vago, talvez herança de sua terra natal, cuja musica popular é o fado, onde as notas nascem de uma lira que toca a si mesma. Porém, estes mesmos olhos, embora nostálgicos, não deixavam de emanar o brilho da novidade sobre uma nova terra fértil que adubara com seus sonhos, regara com suas esperanças e viu ser floreada pelas suas alegrias em auroras, tudo isso delicadamente enfeitada com suas lembranças de outrora. Jamais se esquecera de onde viera, de onde nascera. Trouxera de lá tudo o que lhe foi dado e ensinado, e como aprendera, ensinava-me, e isso a tornava ainda mais bela!

                Possuía uma estatura baixa, e por isso frágil. Quis protegê-la fisicamente assim como ela me protegia psicologicamente. Ao lado dela sentia-me seguro como um homem que se sente seguro em relação a si mesmo, e não preso à ideia de que a sua segurança depende de outrem; sustentava-me a ela, não como um telhado sobre pilastras, mas como um homem sobre um sonho; o que lhe mantém erguido não é o sonho em si, mas a própria fé que ele tem em seu sonho. E foi tentando protege-la assim, naturalmente, que acabei por me abrir aos poucos, gradativamente, enquanto ela fazia soar minhas notas feito um pianista, tecla a tecla, uma hora branca, outra hora negra! Abri-me a ela e ela tocou-me, razoavelmente, tocando-me apenas o tanto que eu me abria, sem violações ou abusos, até nos tornarmos duas cores em gradientes, nas quais circulavam algumas variedades tonais, como uma palheta girada por um pintor entediado.

                Caminhamos assim pelas ruelas da cidadezinha, visitando museus, lojinhas de souvenir e etc. Houve um instante em que ela desejou comprar uma rede de balanço, neste mesmo instante eu quis ter braços longos; estranha sensação, mas de um prazer sereno e casto. Seguimos passeio até um alto gramado, onde descansamos a vista com a paisagem mineira: casarios, arvoredos, uma longa e única cadeia de montanhas, uma grande igreja a frente de uma pequena escondida que se mostrava tímida. Não chegamos a presenciar o momento mágico que é o por do sol visto naquele exato lugar, estávamos lúcidos, calmos, respirávamos em silêncio, olhávamo-nos de vez em quando, trocamos algumas palavras, mas poucas, rimos claro, mas baixo, tão baixo que pudemos ouvir o reclame de nossos estômagos esquecidos, e então constatamos que era hora de voltarmos para casa e almoçarmos, enfim.

                No caminho, ainda conversamos um pouco, intermitentemente, entre risos e silêncios. Ela já estava a planejar sua partida quando um jovem nos parou com uma pergunta. A partir deste momento, tudo se passou em uma questão de segundo, e quando dei por mim, estava acenando-lhe com a mão direita, e ela respondia com a esquerda; assim nos despedimos, como quando nos conhecemos, com um único gesto repetitivo e brando, feito sem pensar. Não traçava um reencontro breve, e presumo que ela também não; estávamos contentes por termos nos conhecidos, e creio que isso nos bastava, naquele momento. 

A Visita

Visitei hoje um menino
Cheio de alegrias
Carregado de sonhos
Bem no fundo de mim mesmo

Deitei e olhei pro céu
O mesmo céu azul de antes
Não este fatigado e cinza
Um céu que brilhava sonhos

Vi um menino ingênuo
Que brincava descalço na rua
Que se emocionava ao sentir a brisa acariciar seus cabelos
Que esperava ansioso a chegada do seu pai cansado

Vi também um pingo de tristeza em seu olhar
Cabisbaixo no caminho da escola
Sem muitos amigos
Mas cheio de esperança

Vi um fogão de lenha com panela de feijão
Uma fortaleza debaixo da cama
Onde nada nem ninguém o faria mal
Vi também sua inocência indo embora um dia

Vestiu-se de preto, ficou de luto
Pela morte de si mesmo
Mas nunca chorou

Seus cabelos cresciam e o deixavam mais forte
E então insistiu na pureza já quebrada
Mergulhou dentro do seu coração
E encontrou lá um menino no canto
Querendo ver de novo a beleza invisível

Do canto de um pássaro
Do verde do seu quintal
Da musica que cantava o rádio
Do alvorecer
E até daquele espinho que se encravou no seu pé

E assim eu retornei
Dizendo: "Olá" pr'aquele garoto
Que eu visitei
E que eu trouxe de volta comigo



Por: Guga Ferreira, em Canto, Prosa e Poesia

Breve

Y nos conocemos en este plano
Y en otro no
Y en otro, no existimos
Nuestro amor solitario
Brilla en el dia, mas que el sol,
Que vos y yo
Y en otro plano existimos
Y no






7 de setembro de 2013

Tédio das sombras

por Jéfferson Veloso.


Nada.
É exatamente o que se passa na minha cabeça.
Pensamentos vêm, vão, mas nenhum fica.
O tédio, então, predomina.
Tédio.
É como se minha consciência estivesse em coma profundo, deixando apenas minha capacidade de movimentar. E é isso que está acontecendo.
Quando o tédio vem, imagino-me andando na rua movimentada e, aos poucos, as pessoas vão sumindo... os carros somem... os prédios deixam de existir... o chão não está mais ali.
E o breu toma lugar de tudo deixando minha sombra em tons esbranquiçados.

Coitada és tu, pobre sombra
condenada a vagar junto de mim.
Tanta coisa para conhecer neste vasto universo
e você aí,
incumbida de me fazer companhia.
Para todo o sempre.
Desculpe o fato de me lembrar de você apenas quando estou entediado. Isso não vai acontecer novamente.
Eu te dou atenção...
...e você me traz inspiração.

6 de setembro de 2013

LII

Os sofrimento do jovem WertherJ. W. von Goethe

Os poucos, longos anos que vivi
Passei-os estudando sobre a vida,
E toda experiência adquirida
Guardei-as para usá-las no porvir.

Casei-me à teoria que sorvi
Amante literário sem guarida,
E por casar-me assim, sem ter medida
Da prática do amor, jamais sorri.

Por certo, risos falsos eu menti,
Copiosamente a esta desdita:
Sobre uma folha parda e envelhecida,

A minha história eu mesmo a escrevi,
E mesmo tendo-a escrito, nunca a li,
Nem mesmo esta epígrafe vencida!

6,9,13


5 de setembro de 2013

Exemplar

Por Bia de SouZa


Ela pensava na vida. Parada em frente à TV sem som, ela pensava em todas as coisas pelas quais já tinha passado nesses poucos, mas duros, anos de existência. E mais, pensava no que haveria lhe aguardando na virada da próxima esquina.

Tinha sido uma garota exemplar. Um exemplo de tudo aquilo que é condenado e abominado pela sociedade pré-conceituosa e desprovida de raciocínio. Ela tinha passado pelos piores momentos que alguém poderia imaginar, sempre de cabeça em pé e deixando apenas que seu travesseiro sentisse as lágrimas quentes daqueles pequenos olhos azuis. Ela havia provado o amargo do mundo, sem deixar de expressar sempre uma palavra doce para cada espinho que lhe atiravam.

Tinha sido forte. Como uma rocha, havia aguentado as tempestades de palavras, os trovões de opiniões, os ventos da discórdia. Permanecera firme, concreta, belamente intacta.

Mas seu espelho interior começava a rachar. Tantas batidas no casco visível de sua pele haviam criado pequenos buracos, imperceptíveis aos olhos nus e crus, mas que aos poucos começavam a deixar a água ardente infiltrar naquela alma calejada.

Naquele momento, ela não sabia o que fazer. Para onde ir.

O que sentir.

Sentia que a cada alargamento da infiltração, mais vazia se encontrava a sua cápsula de vida.

O futuro não mais lhe pertencia. Nem mesmo um amigo distante ela poderia considerá-lo. Não o conhecia. Não sabia de sua existência. Ignorava-o como se ignora o que há fora da nossa bela e estrelada galáxia.

Tinha o passado como seu único trunfo. E de mãos dadas com ele foi que deixou para trás a programação sem sentido da televisão e virou a esquina do desconhecido.


http://armasradioativas.blogspot.com.br/2011_12_01_archive.html

4 de setembro de 2013

Lira I


                                 POETA LÍRICO

Como o belo quadro
Posto em desvantagem,
Detrás a tua imagem
Desenha outro quadro.

Se eu venho pintá-lo
Com meus pobres versos,
É pra pendurá-lo
Em meu universo.

De cima lhe desce,
Em tons de dourado,
Cobrindo-lhe a face,
Teu manto sagrado.

Olhando Jesus,
Os olhos cerrados,
Tão tristes, sem luz
Estão sombreados.

Aquele que pode
Perfumes sentir,
A luz desta ode
Está a refletir.

O extremo dos lábios,
Num gesto impreciso,
Esboça sem sábios
Um falso sorriso.

Descendo uma a uma,
Sobre o belo busto,
As contas em bruma
Reluzem de susto.

Impávido o tronco
Exibe o rosário,
Cobiça do bronco
E bravo corsário.

De tão reluzente
Eu vejo teu manto
Do corpo, decente,
Cobrir-lhe de encanto.

Vou teu quadro belo,
Maria tão pura,
Guardá-lo singelo
Na literatura.

3 de setembro de 2013

Desejo sinestésico



Cansada dessa vida pacata
Lisa e chata
Cheia de m--n--a--h--s   u--s--s
                o--t--n--a   r--s--a

Que ainda se acham 
Na época da União Soviética.
Vontade de um morango
Repleto de chocolate

Doce de abacate
Para colorir o preto e branco
Das noites claras
Sem luar.
Por Bia de SouZa

2 de setembro de 2013

Sermão das entranhas

O Sermão da Montanha - Carl Heinrich Bloc - 1890

"Escrever é traduzir. Sempre o será. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua"
José Saramago

"Escrever é tirar sangue com as unhas.(...) Mas tem que sangrar abundantemente."
Caio Fernando Abreu

Em verdade eu vos digo;
aqueles que não escreveram, morreram mudos de fome;
escrever é engolir as próprias palavras, é engolir a si mesmo,
é sentir vossas palavras, guardadas por anos em vossas mentes,
arranharem vossas gargantas, queimarem feito ácido vossos estômagos
e rasgarem vossas entranhas, saindo feito fezes por entre vossas pernas;

Em verdade eu vos digo;
escrevam, por mais que vos doem as fibras carnais,
por mais que vos doem vossos ossos, vossos músculos, escrevam,
pois o vento que rasga é o mesmo que semeia,
o resto é vaidade, e tempo que passa;

Em verdade eu vos digo;
semeiem vossas palavras, adubem-nas com o esterco
que escorre de vossas mentes, reguem com o suor de vossos lábios,
e verão nascer rosas, crisântemos, cravos, margaridas, anêmonas,
antúrios, amarílis, angélicas e lírios, lindos lírios em campos desmaiados;

Em verdade eu vos digo, vos repito;
com vossas flores adornais vossas almas,
pois ela é somente o que tens de valor,
onde fostes nascer, subtilmente plantados,
onde fostes viver, cruelmente cultivados,
e onde morrerão, enfim devorados;

Pois o resto são flores e  vento que as passam!

All you need




It's so weird when you have nothing to say with words
But so much to express with silence.

In moments like this, you better sit down,
Drink coffee
And 
Write.

Write as much as you can.
Because writing is a way to express too much
Without the need of tongues, lips and 
Said words.

All you need is your feelings.
Writen by the voice of your
Silence.


By Bia de SouZa



Simplicidade


1 de setembro de 2013

Poeminha de última hora




Queria um poema fofinho...
Minha cabeça dói
E você me enche de beijinho.
E diz que nada rima com "dói"
Só "constrói" "destrói", "corrói" e "Caloi".
Ah... nessa busca maldita, encontrei
- que lindinho!
Meu super
Herói.


Fim.




Por Bia de SouZa