5 de setembro de 2013

Exemplar

Por Bia de SouZa


Ela pensava na vida. Parada em frente à TV sem som, ela pensava em todas as coisas pelas quais já tinha passado nesses poucos, mas duros, anos de existência. E mais, pensava no que haveria lhe aguardando na virada da próxima esquina.

Tinha sido uma garota exemplar. Um exemplo de tudo aquilo que é condenado e abominado pela sociedade pré-conceituosa e desprovida de raciocínio. Ela tinha passado pelos piores momentos que alguém poderia imaginar, sempre de cabeça em pé e deixando apenas que seu travesseiro sentisse as lágrimas quentes daqueles pequenos olhos azuis. Ela havia provado o amargo do mundo, sem deixar de expressar sempre uma palavra doce para cada espinho que lhe atiravam.

Tinha sido forte. Como uma rocha, havia aguentado as tempestades de palavras, os trovões de opiniões, os ventos da discórdia. Permanecera firme, concreta, belamente intacta.

Mas seu espelho interior começava a rachar. Tantas batidas no casco visível de sua pele haviam criado pequenos buracos, imperceptíveis aos olhos nus e crus, mas que aos poucos começavam a deixar a água ardente infiltrar naquela alma calejada.

Naquele momento, ela não sabia o que fazer. Para onde ir.

O que sentir.

Sentia que a cada alargamento da infiltração, mais vazia se encontrava a sua cápsula de vida.

O futuro não mais lhe pertencia. Nem mesmo um amigo distante ela poderia considerá-lo. Não o conhecia. Não sabia de sua existência. Ignorava-o como se ignora o que há fora da nossa bela e estrelada galáxia.

Tinha o passado como seu único trunfo. E de mãos dadas com ele foi que deixou para trás a programação sem sentido da televisão e virou a esquina do desconhecido.


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