31 de março de 2013

àqueles sonhos de sonhador

por Jéfferson Veloso.


Certa vez, eu tive um sonho.
Desses sonhos que a gente lembra depois.
Desses sonhos que a gente se pega sonhando quando está acordado.
Desses sonhos que não nos permitem voltar à realidade.
Desses sonhos que nos fazem desejar não voltar ao mundo real.

Eu estava caminhando dentro de uma casa escura.
Escuro de um lado.
Escuro do outro.
Uma janela à frente.
E na janela, um clarão
E no clarão, um jardim
E no jardim, eu a vi.
Então, fui ao seu encontro
E tudo ficou tão real quando a senti
Tudo tão claro
E tudo ficou mais sereno quando ela me tocou
Senti sua tranquilidade me acolher como uma mãe
E digo, com todas as palavras, que eu a vi.
Ou pelo menos sonhei de verdade...
           Eu sonhei com a paz.

Mas não sonhei com uma paz qualquer.
Não era esta paz ilusória criada na realidade.

No meu sonho, a paz não era da cor branca
Não tinha a pomba branca como símbolo
A paz não tinha cor
Nem precisava de um animal como mascote
A paz nem precisava existir...

Minha paz ia muito além
Muito além de uma paz que poderia chamar só de minha
Muito além de algo que possa tê-la Criado...
Minha paz era de todo mundo
E todo mundo vivia em comunhão por partilhar da mesma paz

Ninguém saía em busca de paz
Era preciso apenas olhar para o lado e ela estava lá
ou talvez nem precisava estar...

No meu sonho
a paz não existia...
No meu sonho
a paz nem sequer tinha nome.
A paz não existia.
Não precisava existir
Ninguém sabia o que poderia significar a paz

Mas todos sabiam viver de verdade
Todos viviam em total liberdade
Todos compartilhavam a mesma vontade
E destas palavras
nem precisava saber de qual era a necessidade.
Então, como em qualquer outro sonho comum, acabou.
E, como em qualquer outro sonho comum,        tentei voltar à ele.
Mas, como em qualquer outro sonho comum,      não consegui.
Porém, como em qualquer outro sonho comum, sempre me lembrarei dele.
E assim, este sonho se tornará realidade nesta realidade em que vivemos.

Ainda vejo o dia em que todos caminharemos na mesma direção
Todos juntos, em perfeita união
partilhando a mais bela visão
Cantando uníssonos a mesma canção.


Minha paz não tem nome,
Minha paz não tem significado comum
Minha paz é só minha
E se é minha, é de todo mundo.

O menino e o Mestre.

Um menino pequeno e franzino se postou perante seu Mestre, que se encontrava sentado em um banco feito de bambu e folhas marrons, no meio de uma floresta de árvores secas.

Meio sem jeito, disse baixinho:

- Mestre... queria lhe perguntar uma coisa..

E o Mestre, com um sorriso discreto, aguardou.

- Porque sentimos algo que não queremos sentir?

O Mestre o olhou com atenção.

- Não se pode querer controlar tudo. Os sentimentos são uma parte de nós que não controlamos como o resto. Por isso sentimos, e não raciocinamos para isso.

- Mas é possível que passemos a sentir algo que não sentíamos antes? Algo que sempre achamos errado?

O Mestre respondeu calmamente:

- É possível. Porque os sentimentos são imprevisíveis e, como parte de nós, também são mutáveis - e olhando para o pequeno garoto, perguntou com certa curiosidade - Mas porque um menino tão jovem se preocupa com uma questão tão adulta?

E o menino, sem hesitar:

- Porque percebi que penso mais como eles deveriam, e vejo que eles se comportam como eu deveria.

O Mestre então, colocou o menino em seu colo e acariciou seus cabelos arrepiados.

- Esse é mais um mistério da nossa vida, meu pequeno. Ainda que sejamos controlados pela idade que temos, somos pegos de surpresa por uma parte de nós que não se deixa controlar pela idade.

- E o que devemos fazer? - perguntou o menino.

- Por incrível que lhe pareça - disse o Mestre com um suspiro - tentar nos manter sob controle. 

- Mas como controlar o que não tem controle?

O Mestre, então, perdeu-se em pensamentos profundos.

- Muitas vezes tentar na busca pelo impossível vale mais do que agir pelo que se conseguirá sem esforço. Mas vá brincar, meu pequeno. Não se deixe consumir por questões tão profundas.

- E o que farei quando me sentir errado? - perguntou o garoto, já saindo.

O Mestre sorriu.

- Apenas seja criança. Para você, pequeno, é o que basta.



Por Bia de SouZa
Imagem:

30 de março de 2013

O Psicopata



Parte I - O Velho Mundo

          Era um cara qualquer. Não muito jovem a ponto de não saber o que queria da vida, nem experiente o suficiente pra conhecer o mundo ao seu redor. A única diferença perceptível entre ele e os demais era o fato de não ser nada sociável. Tinha seu intransponível mundo particular, que na verdade não era característica exclusiva sua, ele apenas estava velho demais para ainda guardar as chaves da porta entre dois mundos da qual somente o próprio tinha acesso, mas nunca tivera a ousadia e a vontade necessária para enxergar e sentir o belo dia lá fora. Bela era a vida, pelo menos até o momento em que botou os pés para fora do seu universo particular. Pelo menos até o momento em que suas pupilas se dilataram ao extremo e seus olhos engoliram todo o espantado rosto. Um absurdo.

Parte II – Descobertas

          Não se sabe ao certo qual a motivação para tirar a chave do bolso e botar o cabelo contra o vento que soprava lá fora, mas estava, enfim, no mundo novo. Num primeiro momento apenas observava e analisava de longe, porém minuciosamente. Ainda sem entender muita coisa, apenas seguia alguns passos na areia. Obedecia a certos costumes que na realidade não eram exatamente seus, certos rituais que não pareciam normais, seitas estranhas com entidades que não eram daquele mundo e muito menos do seu velho casulo. Começou então a se arriscar mais e seguir pessoas de perto. De início, apenas pessoas normais. Quase como uma sombra, quase invisível, intangível e imperceptível. Estava aprendendo da pior maneira, descobrindo as crateras e abismos desse mundo tão distinto do seu simples, monocromático e unilateral mundo. Eram constantes as explosões em dor na sua cabeça, uma tortura sem fim, sem fonte ou início que fosse explicável. Só conseguia certo alívio ao se camuflar e continuar a seguir.
          Seguir. O tempo e a repetição traziam o tédio. Nada de novo é o que o faz buscar o novo. Passou a seguir gente grande, gente esperta. Agora todos sabiam quem ele seguia e quais seriam seus próximos passos, embora ninguém parecesse se importar muito, pois ele estava apenas explorando e... seguindo. Perceptivo como sempre, observou que muitos já haviam sido condenados por toda uma vida, muitas vezes ao sofrimento eterno, apenas por simplesmente seguir, assim como ele estava a fazer mesmo que sem saber o porquê. Percebeu também que muitos, muitos mesmo, não eram tão perceptivos quanto ele. Um absurdo.

Parte III - Dor, Sede E Vício

          As dores de cabeça eram cada vez mais insuportáveis e frequentes, chegando ao ponto de obrigá-lo a passar noites e mais noites em claro a surtar. Seu mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo, nem mesmo parecido com o que era antes, muito menos o seu cérebro. Aquele sonho imaginado através da parede tempos atrás, quem diria, viria a se tornar um frequente e sangrento pesadelo na grande obscuridade da realidade entre dois mundos não tão distantes, mas completamente distintos. Pode aguentar por muito tempo as dores de cabeça mas não foi capaz de evitar ter de remediá-las. Algo na sua inflamada mente lhe dizia, logo após os momentos de tormenta, que só havia um modo anestesiar aquela tortura a ponto de salvar-lhe de uma morte lenta e certeira. Haveria de escolher seu primeiro alvo mas não fazia a mínima ideia de como fazer isso e nem mesmo sabia como se aproximar sem causar espanto ou medo, pois nunca havia saído das sombras.
          Mais uma vez começou pelos normais. Uma, duas, dez. Pessoas vazias molhavam sua sede de alívio assim como um quase beijo, como um leve encostar de lábios acende a libido. Nunca encontrava perguntas suficientes ao destrinchar suas vítimas, somente inúteis verdades. Ambos, pessoas e verdades, eram descartados. Aquilo não era nada saudável, mas era viciante por mais frustrante que fosse. Queria cada vez mais e mais... e depois mais um pouco. Não se mete o dedo no bolo sem a intenção e sem o desejo de saboreá-lo em cada centímetro. Haveria de se saciar. Mais uma vez se via diante dos grandes, mas dessa vez eram muitos, muito mais do que acreditava que existissem. Isso era só mais uma das coisas que a grande parte dos indivíduos, nem um pouco coletivos, sempre ignoravam. Um absurdo.

Parte IV - Dissecando

          Os grandes, que não lhe pareciam novos, eram por dentro, para sua surpresa e frustração, tão vazios quanto os outros, muitas vezes até mais frágeis, e algumas vezes podres ou com órgãos quase petrificados, sem qualquer uso há décadas. Alguns órgãos, como o cérebro, tinham sempre cores distintas, mas na maioria dos que ele tinha analisado até agora a gama de cores não variava para nada além de alguns tons de cinza. Um, dois, dezenas. Nada. Cansado e com nojo de só encontrar carcaças vazias, cheias de verdades, traçou como alvo os grandes ignorados, os pobres desesperados. Um, dois, três...

Parte V - A Pergunta No Espelho

          Finalmente uma gama de cores completa onde encontraria toda cor que quisesse. O suficiente, o essencial. As dores foram diminuindo a intensidade pouco a pouco, e embora nunca tenham parado, já não incomodam mais. Pelo contrário, elas se tornaram um indicador de que se estava no caminho certo. Sempre esteve, aliás. Até que enfim entendera. Nunca havia se olhado no espelho e acabara de perceber no reflexo do cristal que ele próprio era demasiado grande. Percebera também que foram as perguntas que fez após transitar entre os mundos que o tinham tornado assim. Por final, se esqueceu quase que por completo do cara que se escondia atrás do muro, restando apenas uma breve lembrança do que imaginava que encontraria deste lado.
          Viu-se maior no cristal, mais forte, e ao contrário do que imaginava, enxergou atrás de si um mundo completamente distorcido, de pernas e cabeça pra baixo, com pessoas vazias, comercializáveis e descartáveis. As cidades em chamas com alguns jogando gasolina e outros, por sua vez, aplaudindo e derretendo na multidão, como quem aplaude o toureiro e também a tourada a mirar em sua direção. Ao invés de cores, ritmos e sabores, atrás do muro havia um mundo completamente diferente, de regras informais, desconhecidas e um tanto quanto violentas. Aliás, bastante violentas, escondidas em várias formas, de forma a serem até mesmo... aplaudidas. Mundo de codinome louco e entorpecente. Uma tortura. Um absurdo. Um psicopata.

28 de março de 2013

My Dear...

Por Bia de SouZa




Sitting here, I just listen to the beats of my heart. Drum Beats, as if it was part of a Rock Band. It's even difficult to breathe, as my heart seems to expand inside my chest, while I listen to its sound.

The sound of missing you.


Why aren't you here, by my side?

Should it be fair not to see your face, not to feel you arms while you are hugging me so tenderly? 
No.
It shouldn't. 
And it isn't, for sure.


I really don't know what to do, anymore.

I have no reasons to continue pretending you will come back soon. I have no reasons to look at your pictures left all over the bedroom and think they will make me laugh once again. Actually, I have no reasons to live well without you here.

I'm afraid.

Yesterday, I woke up with a will. I opened the old trunk and found that little paper where you whote the recipe of  "The Magic Chocolate Cake". I chose all the ingredients carefully and prepared everything in slow motion. Quite funny, you should have seen it. When it was finally ready to be tasted... I simply couldn't eat a piece of it without thinking it would be just fine if I could share it with you.

Billy the Kid ate it all. He's a good dog and my loyal company at the moment, the one who is holding me tight, making me find a sort of strengh that comes from I don't know where.

Listen... I just wish you were here.

Lucca is growing up fast inside me. I'm almost getting into the fourth month. He hears the stories I tell him so carefully that it's almost as if he could really see my face. And I also tell him about you, quite often. About how beautiful you are, how kind and strong is your personality, how good is your heart. Why you are not with us right now.

And he answers... With little "pops" in my belly. 
When he does it, I know he is going to be just like you.

It's probably what makes me stand and don't give up.

----- 

It's almost 10 p.m. now and I have to sleep. You know that if I don't go to bed early I cannot wake up in the other day felling good enough to do all my work.

My first task is to send you this mail. I don't know exactly where you are and if you can read letters during the week, but I cannot wait until the end of it to send you my words.

Who knows if you are really going to read them?


Please, I just wish I could receive a hello from you. To make sure you are okay. Alive, at least.

Try to do it for me, okay?

Imagens: asfaltoemato.blogspot.com ; naianacarapeba.blogspot.com
I love you, Baby.
You know you'll always be my hero.

XXX  OOO

Manu.




26 de março de 2013

Eu quero.

Por Bia de SouZa



Eu quero.

Eu quero um travesseiro macio, para
minhas ideias descansar.
Eu quero um chocolate quente, para
meu coração aquecer.
Eu quero uma chuva fria, para meu desânimo
matar.
Eu quero uma noite vazia, para meu grito
nascer.

Eu quero.

Eu quero um amigo sincero, para meu cabelo
afagar.
Eu quero um suspiro triste, para minha alegria
esquecer.
Eu quero um amor de verdade, para de verdade
me amar.
Eu quero um buraco fundo, para dentro dele
morrer.

Eu quero.

Eu quero uma flor selvagem, para meus olhos
brilhar.
Eu quero pimenta ardente, para minha alma
ferver.
Eu quero um bichinho fofo, para meu peito
arfar.
Eu quero uma dor doída, para meus olhos
arder.

Eu quero.

Eu quero chorar sem motivo, para um motivo
encontrar.
Eu quero uma música ouvir, para simplesmente
entreter.
Eu quero abrir um livro qualquer, para a minha escrita                     
inspirar.
Eu quero olhar para você, e realmente te
ver.

















Quero tanta coisa, sem ao menos
notar.
Que de tanto querer, posso  até me
iludir.
Mas se não quiser, como posso
afirmar
Que meu simples querer é o que me faz
conseguir?


25 de março de 2013

Carreras

Caminas sin saber a donde
corres en ciertos trechos
pero finalmente
paras a respirar
y sentís el tiempo
pasar al lado tuyo
como un viento
como un susurro
en medio del acto final.

Y al mismo tiempo
que lo ves adelantarse
empiezas a correr de nuevo
con la misma energía de siempre
con la misma voluntad,

pero tus pensamientos
tan cansados, cansados,
solo vagan por lugares extraviados
dejan a tu cuerpo
correr hasta quebrarse lo huesos
nada lo para, nada lo hace desistir,

porque en sus adentros
todavía quiere,
con tanta ganas se confiesa,
ganar, al que gano
antes que vos
empezaras a agitar tus piernitas.

El suelo se abre en dos
y sin darte cuenta
sos tragada por la furia de tu corrida
y no sos mas
nunca mas,
se fue
el todo
y la nada que esperaba.


Por Paloma S. Rebes, em Mahmilapintapei

O Dia Que Não Terminou


Paralisado por final
No cinzento campo aberto.
Num colapso cerebral
Nas ruinas do deserto.

Olhos arregalados,
A pele se arrepia.
Olhos falantes, vidrados.
E ao seu redor tudo gira.

Paralisado pelo terror.
Um filme se passa,
Um filme de horror,
Um final em desgraça.

O fogo ajudou com a brasa
E agora está a cobrar,
Como quem constrói a casa
Só pra vê-la desabar.

A vida valendo ouro,
Negro ouro, doce vida
Enxergue, estático olho,
Procure por uma saída.
No final, uma emboscada.
E a vida valendo nada.

Morre o peão,
Morre o guerreiro.
Pela nação
No tabuleiro.

Fim de jogo, afinal
Fim de uma era.
Parecia normal
A rotineira guerra.
O olho de vidro não acredita.
Paralisado, de terror grita.

Silêncio e nada mais,
O eco se esconde.
É tarde demais,
Nem o deserto responde.
Hoje é o dia que durará para sempre,
Só restam escombros de uma civilização doente.

Sonhos, pelo caminho deixou.
E se houve esperança,
Morreu ao esperar o findar do dia
Aquele que não terminou

24 de março de 2013

En un Mundo

No puedo tener miedo
en un mundo
creado y sustentado en base del miedo.

No puedo soñar,
mis propios sueños
en un mundo de sueños vendidos
en cada esquina de cada ciudad.
Sueños enajenados
que enferma
al comprador.
No puedo,
ya que seria competencia
para tantas tiendas.

No debo decir mis verdades
en un mundo que crea mentiras
para olvidar un pasado
o crear un futuro
tan incierto e inseguro
como esas mentiras baratas.

Debo dejar de ser
en mundo que solo importa el tener,
no importa lo que tengan solo tener,
en un mundo donde igualan
sentimientos y plata,
tecnología
a contacto humano.
No se puede vivir
en un mundo que no es humano
siendo uno,
un humano
que por este mundo inhumano
es ahora
un extraterrestre
con un pesar y soledad
tan humanos.

Por Paloma S. Rebes, em Mamihlapinatapei.

22 de março de 2013

Magia Branca

   Por Bia de SouZa



A cortina estava fechada. Ela ainda tinha alguns segundos para respirar e ser ela mesma. Depois de tanto tempo, o frio na barriga se tornara seu melhor amigo, a companhia mais fiel e envolvente. Praticamente, tinha nele seu amante mais confiável.
  60 segundos. A luzinha vermelha anunciando os instantes anteriores à abertura das cortinas de veludo reluzia ao seu lado. Como odiava aquela luzinha. Ofuscava sua vista mais do que os holofotes ao entrar em cena. Provavelmente, tudo não passasse de mera implicância. Implicância com a luz vermelha.

   5 segundos. Sentiu o ar mudar de densidade e, ao abrir os olhos, viu milhares de olhos famintos ao seu redor, sedentos por um movimento dela.
   Aproximou-se do centro do palco. Apenas o ecoar dos seus saltos extremamente finos eram ouvidos. Nenhuma mosca, nenhum grilo, nenhum suspiro. Nada. Apenas seus saltos agulha.
   Parou ao lado do mastro e, num movimento rápido e aveludado, despiu-se de sua capa de couro, sentindo na pele semi-nua o movimento do vento, reiniciado pelos suspiros prendidos da plateia atenta.
   Música.
   Tudo fluía ao som rítmico da batida sensual, os movimentos precisos de uma dança quente, provocante e rotineira.
   Ela executava toda a sua performance com maestria e destreza, percebendo na multidão que a rondava centenas de olhos famintos conhecidos.
   Ela subia e descia no mastro. Seus saltos já não mais ecoavam, apenas serviam como molas propulsoras para seus movimentos mais ousados, momento em que invertia seu campo de visão e virava do avesso o mundo do seu séquito de vampiros. Sedentos por sangue.
   Os seus vampiros. Anjos caídos; Seres Noturnos.
   Tudo era um ritual. A cada sétimo dia da semana, ela se apresentava, como uma bruxa invocando seus espíritos, sendo observada de perto por seus discípulos, bem educados. Tudo era cronometradamente esperado.
   Suspiros no momento um. Risos no momento dois. Gemidos no três. Palmas no quatro. Novo silêncio no quinto ato.
   Ciclo vicioso e viciante, que a fazia Mestre na Arte em que se iniciara.
   E naquela noite, como num romance, num filme ou novela, havia um novo par de olhos.
   Não famintos.
   Concentrados. Curiosos.
   Femininos.
   O ar novamente mudou de densidade. Mas dessa vez, pareceu ralear. Ela não estava acostumada a olhos assim.
   Excitação.
   Pulso acelerado.
   Fluxo sanguíneo descontroladamente ativo.
   Ela desceu as escadas do palco, caminhando lenta e felinamente, diante da novidade.
   Os olhos estavam a alguns passos de distância, compenetrados e - quem diria? - divertidos.
   Um divertimento quase infantil.
   Porque eram olhos de uma quase criança.
   Quase.
   Bem à sua frente estava a constatação de que as aparências são enganadoras.
   Os demais olhos famintos estavam vidrados às costas dela, curiosos frente ao novo. Um passo fora do comum causava erupções desestruturantes.
   Aqueles olhos femininos vinham acompanhados de cabelos castanhos, olhos amendoados e boca rosada. Corpo esguio, fino e coberto por um vestido de seda preto, na altura dos joelhos. Sapatilhas cor de chumbo lhe cobriam os pés pálidos como a lua.
   Ali estava uma imagem contrastante com os cabelos vermelhos curtos e pele bronzeada dela.
   Como uma cobra antes do bote, ela se agachou em frente àqueles olhos, sabendo que os gemidos de plano de fundo se sobressairiam à música ambiente.
   Delicada como uma pluma, ela subiu-lhe o vestido, deixando os joelhos e parte das coxas à mostra. Afastando-lhe gentilmente uma perna da outra, ela apoiou um dos seus pés na cadeira e olhando aqueles olhos profundamente, sorriu.
   Foi retribuída com um sorriso travesso, seguido por uma mordida nos lábios. Achando aquilo divertido, ela aproximou-se mais e deixou que seus próprios lábios roçassem-lhe a pele, ao mesmo tempo em que, ajeitando-se com carinho, sentava-lhe no colo.

   Nunca havia contato físico em suas apresentações.
   Assim como não havia olhos femininos.
   Percebeu que se tocavam delicadamente, com certo receio e ousadia.
   Os vampiros ao redor não ousavam interromper a mais nova parte ritualística. Duas bruxas geravam mais faíscas, portanto, mais combustão.
   Ela pôs-se de pé e rodeou-lhe a cadeira. Não fora seguida pelos olhos femininos, que permaneciam onde estavam.
   Deslizando-lhe os braços por sobre os ombros, tocou-lhe o busto, sentindo-o arfar.
   Ela, mais uma vez, sorriu e, pela primeira vez, olhou ao redor.
   Olhos famintos, sedentos, excitados e hipnotizados. O poder do desconhecido era muito forte.
   Caminhou em direção ao palco, consciente de seu movimento, e subiu num salto único. Agarrou-se ao mastro, girando, girando, girando... e parando no solo gelado, que arrepiava sua pele.
   Viu a luz azulada ir se esvaindo, num fluxo lento e lânguido, e o momento quatro finalmente chegar.
   Não houve quinto ato naquela noite.
   As cortinas se fecharam à frente dela, e ela conseguiu ouvir seu próprio gemido.
   Uma noite memorável, poderia dizer.
   Especialmente por saber que aqueles olhos infantis seriam revistos. Brevemente.
   Lá estava seu amante mais confiável novamente a envolvê-la.
   Sorriu.
   Cerimônias ritualísticas mudavam com a introdução de novos feitiços.

18 de março de 2013

Quinto ato

 por Jéfferson Veloso.


                                           Prefácio

"Querida Margott,

 te escrevo hoje esta carta, na intenção de despedida. Despeço-me de você e do mundo inteiro. Desisti desse jogo. O 'tudo ou nada' nada mais me importa. Não encontrei outra saída.

PS.: não me responda.

Com carinho,
eu."

I-
    Acordo na manhã do primeiro dia de inverno do ano. Roupas minhas e suas jogadas em todos os cantos da sala onde, ali mesmo, dormimos. Minha vista ainda cansada percorre aquele espaço em que horas atrás foi cenário de uma foda fenomenal. O cheiro de sexo e vinho seco ainda está presente no ar e principalmente em meu corpo. Peças de roupa, garrafas de bebida alcoólica e preservativos eram prova de que tudo o que está passando em minha mente realmente foi real.  Mesmo assim, era como se eu estivesse acordando de um sonho, mesmo tendo a certeza de que tudo tinha acontecido. Tento fechar um pouco os olhos para pensar um pouco do que aconteceu ontem à noite. Mas ao virar a cabeça para o lado, vejo-a despertar, linda e delicada. Seu cabelo negro chanel contrastava perfeitamente com a sua pele morena. Era como uma recompensa para mim, aqueles lindos olhos se abrirem juntamente com seu sorriso ao me ver.
 - Bom dia, querido. - diz, com tom de bocejo.
 - Bom dia. Dormiu bem?
 - Nossa, melhor do que qualquer outro dia. Você ainda sabe satisfazer uma mulher, hein...
  Engraçado, em um breve momento, essa frase ecoou em minha mente.
"Você ainda sabe..."
"...ainda sabe..."
"...ainda sabe.."
  Para um pessimista, isto apenas seria apenas um mal dizer sobre sua idade, ou seja, estaria chamando-o de velho. Para um otimista, estaria dizendo o quanto era bom de cama, mesmo tendo alguns anos a mais. Deixando minha modéstia de lado, ainda digo que esse meu corpo de 42 anos 'ainda' conquista muito mais mulheres do que esses garotos de 24. E não faço esforço algum. Elas simplesmente vêm atrás de mim. Eu apenas aproveito da situação. Coisa normal para um oportunista, quente e calculista.
Mesmo sabendo que não vão valer mais do que uma simples noite de sexo para mim, elas simplesmente me adoram.
 - Você me deixou doidinha ontem... - sua voz me faz voltar ao mundo real.
 - Pequena...você ainda não viu nada. - digo isto enquanto cubro seu corpo com o meu.
 - Hum... - gemeu - não vi? Você ain...
  Beijo seus lábios carnudos antes dela terminar a frase, enquanto ela me abraça cada vez mais forte, fazendo-me encostar meu peito nu em seus seios ainda guardados em minha camiseta do AC/DC, mas com um leve destaque de seus mamilos. Seu abraço me fazia perceber cada vez mais que ela me queria 'dentro' dela novamente. E eu quero estar dentro dela.
  Vou descendo minha boca em direção a seu pescoço. O gosto do vinho seco que derramei nela na noite passada ainda está presente, mas vai diminuindo a cada lambida ou chupão que dou. Sua respiração ficando cada vez mais densa devido ao prazer era como êxtase para mim, e eu correspondia com beijos mais quentes e abraços cada vez mais fortes, a ponto de fazê-la arranhar minhas costas com suas grandes unhas. Enquanto eu roçava meu pau por cima de sua virilha, sua calcinha ficava cada vez mais úmida perante os movimentos que fazia por cima dela. E posso dizer que aquilo definitivamente não era apenas suor. Ela estava 'molhadinha' novamente...
  Mesmo sendo eu quem dava as direções no sexo, ela me deixava louco de prazer ao falar, ofegante:
  - Assim... acaba comigo... me come... vem se encaixar em mim, vem...
  Não penso em outra coisa senão a colocar sentada por cima de mim, para que eu possa tirar minha camiseta do seu corpo. Então, seu busto surge. E lá estão eles: redondos, fartos, perfeitos, como se estivessem me olhando, implorando por carinho. Melhor não deixá-los desamparados. Faço carinho com minhas mãos, amaciando-os suavemente, enquanto ela apenas sente com os olhos fechados em direção ao nada, com sua respiração cada vez mais densa. Para dar o tesão, abocanho o seio direito enquanto continuo com acariciando o esquerdo com a mão. Sinto uma respiração se transformando em pequenos gemidos. Sei que ela gosta disso. Depois de um certo tempo ela cai na cama, extasiada, com as pernas entrelaçadas em minha cintura. Parei um pouco para admirar aquela visão: cabelo jogados para o lado esquerdo, olhos entre-abertos em um rosto jogado para o lado direito, pescoço úmido, seios fartos, curvinhas da cintura, calcinha... calcinha? Por que não tirei você dela ainda?
  Coloco a música The Jack (AC/DC) para dar um clima a mais e então recomeço a beijar-lhe o pescoço; vou descendo até seus seios e dou mordidinhas carinhosas enquanto ela se contorce cada vez mais fortes. A cada movimento que ela faz, aproveito para descer cada vez mais em direção à sua calcinha. Antes de tirá-la permaneço um tempo beijando a parte interna de suas coxas, fazendo-a dar algumas reboladas quase que involuntárias.
  Em um só movimento tiro sua calcinha, o que a faz cruzar as pernas para esconder, digamos, o seu 'tesouro'. Com um pouco de força, abro suas pernas. Sem tirar meu olhar ao seu começo a beijar seus lábios, enquanto suas pernas esquentam minhas orelhas. Sua respiração densa se transformou por completo em pequenos gemidos e aumentavam cada vez mais a cada parte diferente em que eu direcionava minha língua. Tudo se destacava perfeitamente: virilha, clitóris, pequenos e grandes lábios, vulva... tudo aquilo estava sobre meu controle. Fica cada vez mais gostoso quando ela segura meu cabelo com as mãos e me direciona aos lugares na qual ela sente mais prazer.
  Agora estou deitado na cama, e ela está por cima de mim, fazendo os mesmo movimentos que acabei de fazer, mas sempre com seus olhos voltados aos meus. Seu olhar e seus movimentos mostram o quanto ela é insaciável. Por muito custo, percebo que a música parou de tocar. Então, e em sua homenagem, coloco Little Lover (também do AC/DC) para fazê-la sentir-se mais à vontade (se é que precisava disso).
  Nunca ninguém me tirou a cueca tão rápido quanto essa mulher. Se seu objetivo era me deixar louco de prazer, pode considerá-lo alcançado


continua...(ou não)

2













Silêncio.                                                                                                   Barulho.


                Sol.                                                              Trovão.


    Poeira.                                                                                                Ar Puro.


         Mago.                                                                  Pagão.


                                   Preto.                                                                                    Branco.


  Chocolate.                                                       Pimenta.


                         Calcinha.                                                     Cueca.         




                             Nude.                       Magenta.



                                         
                 Bonnie.                      Clyde.
                       


         Tequila.                                                                                                Sake.                                                      



                                            Loiro.                                              Castanho.                                                  
                                                 
                                     

Botão.                                                                                                                          Buquê.                                                 


                                    





Rock.
Arte.
Livros.
Sonhos.
Vida.
Olhos.
Paixão.
Amor.






Café.

2.







Por  Bia de SouZa