31 de março de 2013

àqueles sonhos de sonhador

por Jéfferson Veloso.


Certa vez, eu tive um sonho.
Desses sonhos que a gente lembra depois.
Desses sonhos que a gente se pega sonhando quando está acordado.
Desses sonhos que não nos permitem voltar à realidade.
Desses sonhos que nos fazem desejar não voltar ao mundo real.

Eu estava caminhando dentro de uma casa escura.
Escuro de um lado.
Escuro do outro.
Uma janela à frente.
E na janela, um clarão
E no clarão, um jardim
E no jardim, eu a vi.
Então, fui ao seu encontro
E tudo ficou tão real quando a senti
Tudo tão claro
E tudo ficou mais sereno quando ela me tocou
Senti sua tranquilidade me acolher como uma mãe
E digo, com todas as palavras, que eu a vi.
Ou pelo menos sonhei de verdade...
           Eu sonhei com a paz.

Mas não sonhei com uma paz qualquer.
Não era esta paz ilusória criada na realidade.

No meu sonho, a paz não era da cor branca
Não tinha a pomba branca como símbolo
A paz não tinha cor
Nem precisava de um animal como mascote
A paz nem precisava existir...

Minha paz ia muito além
Muito além de uma paz que poderia chamar só de minha
Muito além de algo que possa tê-la Criado...
Minha paz era de todo mundo
E todo mundo vivia em comunhão por partilhar da mesma paz

Ninguém saía em busca de paz
Era preciso apenas olhar para o lado e ela estava lá
ou talvez nem precisava estar...

No meu sonho
a paz não existia...
No meu sonho
a paz nem sequer tinha nome.
A paz não existia.
Não precisava existir
Ninguém sabia o que poderia significar a paz

Mas todos sabiam viver de verdade
Todos viviam em total liberdade
Todos compartilhavam a mesma vontade
E destas palavras
nem precisava saber de qual era a necessidade.
Então, como em qualquer outro sonho comum, acabou.
E, como em qualquer outro sonho comum,        tentei voltar à ele.
Mas, como em qualquer outro sonho comum,      não consegui.
Porém, como em qualquer outro sonho comum, sempre me lembrarei dele.
E assim, este sonho se tornará realidade nesta realidade em que vivemos.

Ainda vejo o dia em que todos caminharemos na mesma direção
Todos juntos, em perfeita união
partilhando a mais bela visão
Cantando uníssonos a mesma canção.


Minha paz não tem nome,
Minha paz não tem significado comum
Minha paz é só minha
E se é minha, é de todo mundo.

5 comentários:

  1. Eu fiquei comovida com seu texto, porque você tocou num assunto que muito me incomoda, no sentido de que penso muito nisso.
    A paz.
    Fiquei pensando ainda mais... só pensamos que a paz pode existir prque há algo oposto a ela que nos faz querer que ela em si exista.
    Talvez fosse mesmo interessante se a paz não existisse. Por não ser necessária.
    Gosto de pensar que um sonho assim possa existir.

    Lindo texto.
    Mais bela ainda a reflexão que nos causa.

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  2. O equilíbrio acaba sendo o vilão nessa necessidade de haver sempre um oposto pra tudo.
    Se o ying não existe sem o yang, que não existam nem o ying, muito menos o yang.

    Que bom que gostou!

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    1. Pois é. Essa questão de oposições, ainda que seja algo que nãodeva existir, é também algo do qual não podemos fugir, porque tudo é estabelecido com base numa questão de oposição. Taí mais uma coisa que não concordo, mas não sei muito como evitar..

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    2. Talvez nos sonhos... nos sonhos, somos livres...

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  3. Imagine.

    Costumo pensar que liberdade não existe, e sei que você também. Orwell afirma que "liberdade é escravidão". Costumo dizer que a paz não existe. Orwell afirma que "guerra é paz", veja só. A paz é um sonho, assim como a liberdade. (Estas duas que se abraçam e se beijam sem ao menos se tocar, numa perfeita sintonia).

    Esse sonho, meu amigo, só será mesmo um sonho, quando não precisar mais sonhar. Mas para isso, meu caro, é preciso que sonhe, em todos os sentidos da palavra.
    Imaginem.

    Seus textos são sentimento puro, o suor da sua alma. Talvez por isso sejam tão bons.

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