31 de julho de 2013

Espelhos

por Alexandre P. Sales (uma amigo de tantas datas que se resumiram em um dia)


Outro dia
Ao me olhar
No espelho
Vi a minha imagem
Refletida e ela sorria,
Mas o estranho
É que eu chorava.
Eu disse uma palavra
Dura para ela
No entanto, ela só
Dizia que me amava;
Tentei convencê-la
De que nada valia
A pena ser que
Eu era;
Então, a vi se
Transformar
Em uma árvore
Totalmente nua, sem folhas
Com vários
Espelhos dependurados
Em seus galhos secos;
E nesses espelhos eu vi
Refletidas pequenas
Árvores se formando
Ainda,
Mas com folhas
Esverdeadas e já
Começando a florir;
Logo depois dessa
Visão,
A minha própria
Imagem reapareceu
Tal omo era;
Então a perguntei:
"O que eram aquelas
Pequenas árvores floridas?"
A imagem respondeu:
"São todos os seus sonhos
Que ainda não envelheceram."

29 de julho de 2013

In(consciente)



Ele estava deitado, olhando para o teto. Já nem mais o via, tamanha era a sua identificação com ele, nesses últimos dias. Olhava-o fixamente, sem vê-lo realmente, deixando o pensamento vagar para outros lugares.

Para ela.

Por mais que tentasse, não conseguia explicar para si mesmo aquilo que passara a sentir por aquela garota. De repente, ela simplesmente estava ali, presente em sua vida e ele não conseguia entender nem mesmo de que lugar ela havia saído.

Provavelmente, de um conto de fadas sombrio, pensou ele com um ligeiro sorriso. Aqueles olhos cor de mel, enormes e expressivos, o cabelo longo, ondulado e com as pontas descoloridas e o batom constantemente da cor roxa não caberiam em uma história da Barbie. Não, ela era diferente...

Diferente.

E, mesmo assim, ele não conseguia conter seus instintos. Sentia-se atraído por inúmeras outras mulheres (algumas nem poderia chamar de "mulher". Eram apenas meninas...), relacionava-se com essas tantas outras, sentindo-se pleno, extasiado em sua masculinidade e potencial. Era como exemplificar a função de um ímã: ele se via atraído perdidamente pelos polos opostos, e via-se grudando a eles de um jeito instintivo e natural, sem que houvesse qualquer explicação plausível, salvo a própria natureza das coisas.

O que o deixava perdido e sem chão era que, sempre que deitava em sua cama, não conseguia de forma alguma dormir o sono dos justos, pois tudo o que fazia era ver aqueles enormes olhos de mel encarando-o, zombeteiros e simplesmente lindos.

Talvez, ele não dormisse o sono dos justos porque tudo o que fazia era de extrema injustiça, ele agora pensava. Mas injustiça para quem? Ele não conseguia pensar que suas atitudes pudessem ser consideradas erradas. Vivia em um mundo que se dizia livre de preconceitos, e gostava de ser livre, sem amarras. Além disso, ninguém sabia de nenhuma de suas aventuras. Ele não contava a ninguém, fazia tudo consigo e para si mesmo.

Parecia, porém, que ele era o único que vinha se afetando diretamente com as próprias ações. Naquela noite, ele pensava em como aqueles lábios cor de uva eram os mais macios que já provara, e em como aquela pele alva, macia, arrepiava-se com mera menção de um toque. Tudo nela era naturalmente belo, sem esforços desnecessários e com a pureza de uma garota que aos poucos se descobria mulher. Notava, pelo que indicava seu inconsciente, que essas descobertas afetavam a ele também. Uma mudança no seu status de menino para homem. Ou seria o contrário?

Ele viu a luz do seu notebook piscar, seguida do som característico de uma nova notificação.  Uma de suas conquistas recentes acabava de chamá-lo pelo chat, elogiando-o pelas últimas fotos que postara. No mesmo instante, o frio na barriga característico de todas as vezes em que pressentia um provável encontro o assomara, e ele retribuiu a ela o elogio. Conversaram coisas inúteis por alguns instantes, até que o papo tornou-se quente, e ela lhe disse que o visitaria, naquela noite.

Ele sorriu no escuro do quarto, digitando-lhe que a aguardava. Sabia que teria uma noite extremamente prazerosa, como foram as últimas duas.

Sabia, também, que ela não dormiria lá, nem mesmo usariam a cama dele. Ele sabia, com a sensação de quem leva um soco no estômago, que ao deitar naquela cama, tudo o que veria seriam olhos cor de mel e bocas de uva.

Imagens:http://www.tumblr.com/tagged/meia?language=fr_FR
http://www.tumblr.com/tagged/fuma%C3%A7a?language=pt_BR
http://cafesemcigarros.blogspot.com.br/2008/08/sobre-caf-e-cigarros.html




E isso era uma das tantas coisas que apenas ele tinha conhecimento.










Por Bia de SouZa

24 de julho de 2013

Vida



Do chão brota a face, semente que nasce
Espelho pequeno do seu "via-a-ser"
No solo germina, ao sol da matina
Quieta, esperando pelo florescer
Com a troca das luas, e as quatro estações
Cresce à vista nua, cheia de prazer
Num ritmo forte, sem nenhum desnorte
Apenas cumprindo seu belo crescer
E ao cair da noite, num simples deleite
Atinge, enfim, sua copa a brilhar
E, num gesto bem nobre, tão firme, tão forte
Espalha ao vento um novo semear.

Por Bia de SouZa
Imagem: http://www.hdwallpaperspics.com/colorful-tree-wallpapers.html


15 de julho de 2013

Devaneio.

Por Bia de SouZa.



Era tão difícil...
Esquecer-se dos momentos inesquecíveis, 
momentos marcantes, fortes,
mas em nada agradáveis.
De tempos em tempos, o relógio voltava a soar,
badalando e chiando,
revirando a memória à procura de tudo o que já se tinha esquecido.


Era tão agoniante...
Pensar sem querer, ver sem pedir,
procurar por tudo o que mais longe se queria ficar.
Saber que de nada adiantava fazer, pois a regra era
que tudo o que se mais queria matar, teimava em mais forte viver.


Era tão triste...
Alimentar-se do sofrimento próprio, dando-lhe pernas
cada vez maiores,
criando raízes de uma planta nascida em veneno.
Cultivar uma horta, cheia de medo e ansiedade,
por simplesmente não ter vontade de acabar com tudo de uma vez.




Era tão desesperador...
Uma dor com motivos, uma dor sem nova motivação,
sentimento profundo e cheio de insegurança,
vivendo nos cantos da alma, com espaço o bastante para

dominar toda a imaginação.

Era tão fictício...
Quanto tão verdadeiro,

uma mistura de sim e de não,
de verdade e criação,
um complexo tão grande e indecifrável que sobrevivia
tão completo,
num devaneio inventado, cheio de realidade.




Imagens:

9 de julho de 2013

Ponto declarado em reticências.

Por Bia de SouZa


Um dia me questionaram o que é o amor.

Naquele momento, dei uma resposta já formulada, sem nada pensar, apenas querendo responder, sem pretensão nenhuma.


Mas, hoje, ainda que não me perguntem de novo, quero responder autenticamente a essa pergunta.


O amor é aquilo que você sente ao acordar e lembrar que logo, logo, verá o sorriso mais lindo do mundo ser dado a você, sem ao menos você pedir.


É o bater do peito acelerado ao imaginar a voz suave e profunda, bem no seu ouvido, dizendo simplesmente "bom dia".


É a sensação indescritível de querer sorrir sem motivo, apenas porque o outro ama o seu sorriso, despretensiosamente.


Amor é dormir no chão, como se estivessem em uma cama de rosas macias.


É xingar e ser xingado, no meio de gargalhadas e beliscões.


É querer agradar pelo simples fato de todos os dias serem especiais.


É fazer café e colocar, junto com o açúcar, todo o coração, que nem cabe em nenhum pote.


É se declarar ao vento, na esperança de que ele leve o recado, quando a sua metade está fora de alcance.


Amor é perceber que, ainda que se esteja triste, a lágrima escorrida dos olhos do outro será sempre mais dolorida que a sua, e que, para enxugá-la, os seus olhos precisam estar sorrindo.


Amor é viver a sua vida, na certeza de que ela é completamente dependente e viciada na vida do outro.


É baixar a guarda quando o que está em jogo é a felicidade.


É buscar o equilíbrio andando de montanha russa.


Amor... é tentar definir o indefinível, na esperança de entender aquilo que não se explica, apenas se sente.


Com o coração repleto de fogos de artifício.

8 de julho de 2013

Shhh...!

Shhh...
Tá ouvindo...?
Um zumbidinho, oh...

Ali...
No cantinho...

Tem uma formiguinha fazendo cócegas na minha cabeça...
Oh, ali...
Do ladinho...
A formiga...

Já ouviu o zumbidinho ali no cantinho...?
A formiga está coçando a minha cabeça...
Não a orelha...!
Tô ouvindo, e a formiguinha também deve tá...


Meus dedos tremem, oh...
Os seus também...?
É ruim, oh...
Dói...
Mas é por causa do zumbido...
Ali, oh...
No cantinho do ladinho...

Shhh...!!!
Oh...!
Viu lá...?
Eu ouvi, ali, oh...
Você não...?
Ah, uai...


SHHHHHH....!


Por Bia.

4 de julho de 2013

Entre quatro mãos



E no cair de uma lágrima
transborda em mim a inspiração
do que valeria a vida
sem o som do coração?
E de que valeria a desculpa
se não houvesse conciliação?

No cair dessa lágrima
Sinceramente, aqui, digo:
Ela de nada valeria
Sem este som tão contido
E nada mais é a conciliação  do 
que o reflexo das desculpas
aceitas de coração... 


Não existe máquina do tempo
o livro da vida é feito sem uso da borracha
nada continua os momentos de contentamento
nada apaga os momentos de desgraça.

Não existe máquina do tempo,
mas existem sentimentos,
Que, quando sublimes e verdadeiros,
transformam o negativo em positivo
contentamento. 


Eu sou escada, e você é meu corrimão
eu sou espelho, e você é minha reflexão
eu sou ímã, e você é minha obsessão
O buraco negro de um túnel iluminado
Minha doce ilusão.

Eu sou o conteúdo, e você é minha forma

Eu sou a ordem que você desorda
Eu sou a paz que vence as suas guerras
E você é o café que me mantém alerta. 

Te faço estrada, para eu ter motivo de chegada
Você se torna meu corrimão, enquanto me faço escada
É meio que assim
Um pouco de tudo para mim
Enquanto eu sou seu 'tanto faz'
Você é meu 'pode ser desse jeito'.

Te faço forma, pois o conteúdo é por ela moldado
Como a água, é móvel, líquido,maleável
É meio que assim
Você me molda, sem começo nem fim
Tanto fazendo,
Desse jeitinho sendo.

E assim vou fazendo meu caminho
Te fazendo mulher para eu ser o seu menino.

E assim vou caminhando
Meu menino ninando,
 E, bastantemente mulher,
Vou te amando.
Ponto.


Por Jéfferson e Bia.

3 de julho de 2013

Sinfonia em dó maior.




E, não mais que de repente, o sol nasce na janela...
Frio, pálido... mas, ainda assim, reconfortante.
Como é bela a cor amarelada que reluz nos prédios ao redor daquela janela.
Uma luz divina, quase inexplicável, de uma pureza indistinta e natural... tão cálida e afável.
É como se o mundo renascesse a cada surgir solar.

Mas o rio infinito de lágrimas ainda teimava em jorrar do poço dos olhos dela...
Uma água rala, suja dos sentimentos encrustados nas paredes oculares e que agora escorriam pelos vales das olheiras passageiras, mas tão constantes.

Como o brilho do sol nascente doía naqueles olhos molhados...

Uma dor excruciante, que a fazia lembrar de todo o repuxar que as veias e artérias do seu frágil coração vinha suportando, uma tortura incansável que a visitava nas noites mais frias e aconchegantes daquele inverno permanente. 
A dor do estilhaçar do vidro que se quebrou internamente.
Um vidro raro, difícil de ser colado, quiçá reinventado.
O seu próprio espelho... espelho seu.

Ah, dor... como possui a coragem faltante nas almas mais sensíveis?
É tão bela como as sinfonias dos gênios, quase como se fosse sua grande musa.
E por ser assim, acaba embalando e ninando os corpos mais desprotegidos, desprovidos de força interna e externa para abraçá-la por inteiro.

Só o que se externa são as águas rubras vindas de um mundo interior, onde não há mais a segurança da barreira intransponível do amor-salva-vidas.
O Cerberus de três pontas, guardião do mundo inferior a que se chegou com a mais completa descrença em si mesma.
Talvez ela tenha atingido o nível mais profundo e perigoso dos níveis disponíveis.
E sabe o quão difícil será convencer Caronte a voltá-la à luz da sua simples janela.

E o sol...?
Ah, o sol...
Como que se apiedando da dor causada aos olhos e à alma tão devastados pela peste, se esconde...
Entre nuvens brancas de um céu azul, aparentemente desprovido de tempestades.
Por Bia de SouZa
Imagens:




1 de julho de 2013

Respingos.



Peguei-me pensando na possibilidade de ser Pintora.
Dessas que usam palhetas, cheia de tintas, pincéis variados e roupas largadas, repletas de respingos multicoloridos.
Ser Pintora me possibilitaria colorir o mundo de um jeito real, não apenas figurativamente.
Usar todas as variedades de tons existentes, e criar tantos outros a partir dos primeiros,
sendo livre para usar e abusar da tela até que não houvesse um mísero espaço sem tinta.
Gostaria de colocar o mundo do tom que meu coração estivesse em cada instante:
Vermelho, quando o amor dominasse.
Verde, quando a raiva viesse.
Roxo, quando o mistério pairasse.
Azul, quando a paz vencesse.



A cada pincelada, deixaria na tela um pouco das cores que rodeiam a minha alma, esperando que pudessem, de algum modo, circundar as almas desprovidas de cor.
Ainda que de Preto e Branco, eu fosse responsável pela avivação do que ainda era incolor.
Talvez eu me torne, realmente, uma Pintora.
E, ao me tornar assim, quero que meus primeiros movimentos sejam, de uma única vez, capazes
de inundar o mundo num mar claustrofóbico de pura vibração em tinta.





Por Bia de SouZa
Imagens: