E, não mais que de repente, o sol nasce na janela...
Frio, pálido... mas, ainda assim, reconfortante.
Como é bela a cor amarelada que reluz nos prédios ao redor daquela janela.
Uma luz divina, quase inexplicável, de uma pureza indistinta e natural... tão cálida e afável.
É como se o mundo renascesse a cada surgir solar.
Mas o rio infinito de lágrimas ainda teimava em jorrar do poço dos olhos dela...
Uma água rala, suja dos sentimentos encrustados nas paredes oculares e que agora escorriam pelos vales das olheiras passageiras, mas tão constantes.
Como o brilho do sol nascente doía naqueles olhos molhados...
Uma dor excruciante, que a fazia lembrar de todo o repuxar que as veias e artérias do seu frágil coração vinha suportando, uma tortura incansável que a visitava nas noites mais frias e aconchegantes daquele inverno permanente.
A dor do estilhaçar do vidro que se quebrou internamente.
Um vidro raro, difícil de ser colado, quiçá reinventado.
O seu próprio espelho... espelho seu.
O seu próprio espelho... espelho seu.
Ah, dor... como possui a coragem faltante nas almas mais sensíveis?
É tão bela como as sinfonias dos gênios, quase como se fosse sua grande musa.
E por ser assim, acaba embalando e ninando os corpos mais desprotegidos, desprovidos de força interna e externa para abraçá-la por inteiro.
Só o que se externa são as águas rubras vindas de um mundo interior, onde não há mais a segurança da barreira intransponível do amor-salva-vidas.
O Cerberus de três pontas, guardião do mundo inferior a que se chegou com a mais completa descrença em si mesma.
Talvez ela tenha atingido o nível mais profundo e perigoso dos níveis disponíveis.
E sabe o quão difícil será convencer Caronte a voltá-la à luz da sua simples janela.
Talvez ela tenha atingido o nível mais profundo e perigoso dos níveis disponíveis.
E sabe o quão difícil será convencer Caronte a voltá-la à luz da sua simples janela.
E o sol...?
Ah, o sol...
Como que se apiedando da dor causada aos olhos e à alma tão devastados pela peste, se esconde...
Como que se apiedando da dor causada aos olhos e à alma tão devastados pela peste, se esconde...
Entre nuvens brancas de um céu azul, aparentemente desprovido de tempestades.
Por Bia de SouZa
Imagens:
Me admiro cada vez mais com a clareza na qual você define seus sentimentos em sua escrita.
ResponderExcluirMe faz querer sentir o mesmo que voce sente, independente se for um sentimento bom ou mal.
Lindo texto, Bianca.
Obrigado.
O texto às vezes não é feito para ser bonito, e sim o mais feio e dolorido possível.
ResponderExcluirFico contente por tê-lo achado belo, mas esse, em especial, foi feito para em nada ser assim.
Talvez a questão seja que a poesia é sempre bela, ainda que por vezes triste.
Eu que agradeço o comentário e o elogio..