24 de fevereiro de 2015

Era manhã


Mais uma vez.
Sento na velha poltrona, vento batendo num rosto marcado e molhado de sal.
Cabelos secos, andantes e opacos, repleto de histórias.
Emaranhado de fatos.

Penso... Sem querer pensar.
Peno... Um penar individual e sem escolha.

Arrisco alguns versos, riscados na pele, habitando meu sangue e mostrados na carne.

Riscos. Arranhões. Desconhecidos formatos abstratos, de momentos concretos e, ainda assim, um pouco desconhecidos.

Bate o peito, fortemente. Mente forte e juvenil. Ligados por um fio invisível, destoante das veias, por onde passa um fluxo constante de sentimentos e ideias totalmente desconexos e complementares.

A porta bate. Não há ninguém.
Poderia haver um amor, uma notícia de última hora ou o carteiro.
Mas é apenas o vento.
O mesmo que bate no rosto e faz lembrar que vivo.

Aqui.


Por Bia de SouZa

21 de fevereiro de 2015

Eu sou ator

Por Jefferson Veloso

Nos palcos da vida
O universo é o cenário
Sempre em busca da deixa
De entrar no compasso
Personagens principais
De cada história que se passa
Ensaiando, buscando
Esse tempo que se arrasta
O espetáculo é agora
Sem ensaio ou improviso
Imprevisto presente
Futuro de risos
De que valeria a peça
Se houvesse destino traçado?
De que valeria o homem
Com futuro premeditado?
A cortina se abriu
A muito tempo atrás
Seguindo o fluxo do rio
Sem saber pra onde vai
A cortina que se fecha
Quando não sei dizer
Sua conclusão é incerta
A gente só deixa acontecer
Pelo sabor que desperta
O essencial do ser
Pelo bem que se acerta
Quando o melhor a fazer
É apenas ser


Procura-se?

Por Jefferson Veloso

Procura-se alguém
Que não espere ser encontrada
Mas que eu me perca em seus braços
Quando o destino nos for traçado

Que não esteja à espera
Muito menos estagnada
Que me encontre quando queira
Quando eu quiser encontrá-la

Não demore
Nem se adiante
O tempo faz tudo
A eternidade é um instante

Chegando o esperado dia
Café, queijo e prosa
Conversa se faz formosa
No romance de cada dia

A espera se faz tranquila
Mas indago caso queira escutar
Nessa minha humilde escrita
Em qual estrofe você está?


Tua voz, meu silêncio

Por Jefferson Veloso
Só um sol
Para iluminar
Minhas noites sem melodia


Desafina
Desatina
Imenso grito piano
Staccato coração.

Faz comigo um dueto
Segunda voz com primeira
Transformando meu solismo
Em batida de dois tempos

Seja a musa da minha canção
Com sua voz, minha humilde mansão
Introduza seu ego
Invada meu ismo
E soletre egoísmo
Em uma noite de concerto
Consertando meu eu
Transformamos o nós
Em dupla de um só.


14 de fevereiro de 2015

O Pássaro

Amar você é deixar-te partir
Ver seus cabelos nas costas bater
No peito o frio da distância sentir
E quando sua voz não puder ouvir
Fechar meus olhos para os teus eu ver

Ter você é saber que não tenho
Sentir entre dedos o soprar do vento
Ouvir o cantar suave do pássaro
E com ele gorjear desalentos

Amar você é também te abandonar
Roubar teu antigo álbum de fotos
Talvez conhecer-te em outra vida
Com outro nome no velho olhar

Ter você é também me prender
Reservar parte do meu respirar
Para, contigo, tragar o luar

Ter você é tão só te amar
E te amar é jamais ter você
É estar louco pra te segurar
Mas partir te dizendo que parta
É velejar solitário em alto mar
Sabendo que terra firme não falta


10 de fevereiro de 2015

Se Ninguém Ganha

Mãos trêmulas esboçam a prece
Para que o amanhã me absolva
Por não ser quem o mundo exige
Por não poder jogar os dados
Das paixões que me rodeiam

Espero que o Sol se vá tranquilo
Que não o culpem quando noite
Do pecado de não pecar
De brilhar sem ofuscar
De ser grande e se esconder
E de negar seu brilho à lua
Quando não puder voltar

Muitos passos não existiram
Vez ou outra, pra trás foram
Para que a estrada não fosse estreita
Pra quem vinha ao meu lado

Muitos prazeres sufocados
Para poupar cicatrizes
Pois o dedo na velha ferida
Dói menos que um novo corte

Sou aquele que quase foi
Está indo e nunca será
Para que as crianças durmam
Perco o sono a vigiar

Que o descanso seja leve
Quando o destino vier cobrar
A palavra que perdeu a hora
A vida que perdeu a rota
Um quase beijo
Sem fruto
Sem futuro


3 de fevereiro de 2015

A São João



Com passos leves eu sigo
Caminhos tortos, antigos
De pedras maciças e ricas
De história e cantigas
Ambiente secular

Com olhos abertos
Bem grandes e fartos
Fotografo bem certo
Cada igreja, lampião
Lenda, construção
Meu divino e puro lar

Destes montes verdejantes
Respiro ar mais belo e claro
E se calo ante tua fonte
Das belezas que deixei

Volto a tempo de amar-te
Tão mais forte e intensamente
Colorida e almamente
Minha amada
És Del Rei


Por Bia de SouZa

2 de fevereiro de 2015

Mentes, Coração

Por Rafael Mota e Jefferson Veloso


Num futuro não tão distante
Algum neto de certo ouvirá
De algum velho falante
A estória que seguirá
De dois jovens andantes
Que viviam a sonhar

Sonhos de vida bendita
Mal ditos por terceiros
Mas bem dizia o sábio em Gita
No início, fim e meio:
Somos o amargo da língua
Nas caminhadas noturnas
Sem medo, sem freio

Duas sedentas crianças
Sem saber como crescer
Sem querer entrar na dança
Que todos pareciam saber
Mas criança nunca se cansa
E se arriscaram a viver

Criando histórias daquela certa vez
Que de vez em quando acontece sempre
De dois caminhos distantes
Que se unem mesmo ausentes
Que se separam quando se unem
Unindo passado, futuro e presente
Sintonia de coração e mente

Jovens vidas que se esgotam
Quebrando muros, erguendo pontes
De vigas que homens não notam:
Não se toca o horizonte
Estradas sem chão nem rotas
Paraíso atrás dos montes

Em viagens de toda espécie
Coisas novas aprendiam
Transformando em alicerce
O que plantavam, o que colhiam
Cultivando a velha prece
De que lado a lado correriam

Duas linhas, duas ilhas
Uma delas é sentimento
Verbo solto, irregular
Chamas sólidas ao vento
Adjetivo ultrairmão
Substantivo simples:
Coração

Do outro lado, subsequente
Caminha o louco prudente
Doentiamente são
Descendente do rei Salomão
Aqui se faz, aqui se sente
Corpo nu trajado de mente

Estória gravada nas curvas
Que o vento insiste em fazer
E a brisa por si continua
Em deixar tudo acontecer

Linhas que fazem poesia
Da arte que a amizade cria