31 de dezembro de 2012

adeus,

por Jéfferson Veloso.


Em algum lugar do oriente médio, 21 de setembro de um dia qualquer da semana. Desperto-me de meu doce sono, no qual me arrependo de não conseguir controlar a vontade automática de acordar. Como qualquer ser humano normal que acaba de ter um lindo sonho, tento voltar a dormir para voltar aonde parei. Sem sucesso. Redireciono meus pensamentos à missão que me foi dada por pessoas que prezam pelo bem da sociedade ocidental: mirar e matar, sem pensar. Estou em um deserto que nem sei o nome, que fica próximo à zona de combate, no qual os inimigos insistem em chamar de casa. Montamos uma tática de invasão e está tudo marcado para ser realizado no período da tarde desse dia. Invasão surpresa, sempre funciona. Dá até mais adrenalina acertá-los quando não sabem o motivo, nem de onde, nem de quando.
Fui encarregado de colocar munição nas armas para o combate, marcado às 15:30 desse dia, que deve ser uma terça-feira, mas parece quinta. Pentes cheios nas MAC-10, .40 e MAVERICKs, e um pacote cheio de balas para a 44 que meu pai me deu de presente. Granadas de todas as espécies, e preparar mais dois Panzerfaust  que a tropa de reforço trouxe dois dias após nossa chegada. Tudo pronto.
Mais uma hora e partimos. Começo então a me concentrar no objetivo da missão: mirar e matar, sem pensar.
Mas... me pego pensando em você, Manuella. Você que, no fundo, sabe que eu não queria estar aqui. Você que me deseja a seu lado a todo momento, e que detesta o fato de eu estar aqui do outro lado do mundo destruindo vidas de uma nação para o suposto bem de nossa nação. Será esse o preço que se paga para haver a paz? Se for, ainda não estou me sentindo muito pacifista.
15:00. Todos os combatentes ficam à espera do início da missão. E eu fico pensando em você, enquanto olho a foto que me entregou no dia de minha partida. Nunca vou esquecer aquele beijo e o que me disse depois: "Quando olhar para o céu e perceber que o brilho de uma estrela for mais intenso que as outras, será a prova de que continuarei te amando. E cada brisa que lhe correr pelo corpo ao dia, será meu corpo te chamando para uma junção de prazer entre nós dois. Te amo." Penso todos os dias em cada palavra dita, e mais ainda quando sinto essas brisas ou vejo tal estrela. Será que você olha a mesma estrela que eu? Mesmo que não olhe, sei que estás a pensar em mim, pois estou fazendo o mesmo agora, enquanto olho para sua foto, na qual é a único objeto que tento manter conservado. Guardo sempre no bolso esquerdo do uniforme. Enquanto penso em você, nem vejo o tempo passar. Nem me lembro que estou vivo de verdade (se é que eu ainda esteja realmente). O tempo passa, mas eu bem queria passá-lo todo tempo a seu lado.
15:30. Operação em andamento. Partimos em direção à zona de combate, enquanto decidimos que a melhor forma para interceptar é atirando uma bomba no centro da cidade com a Panzer. E eu sou o encarregado de fazer isto.
Tudo parece estar movimentado no centro. Pela mira da arma, vejo centenas de pessoas, indo e vindo, com suas sacolas de compras de mercado. Parece ser uma feira. Ou pode ser algum bom evento, como toda cidade pequena sabe fazer. Mas tenho que direcionar meus pensamentos e dizer para mim mesmo que tudo se trata de uma zona de guerra onde cada sacola esteja guardando granadas, que em cada tenda tenha um estoque cheio de AK-47 e que cada pessoa seja um soldado treinado para matar sem piedade, o que lembra muito os soldados que fazem parte do meu pelotão.
Mira travada. Corpo firme para o impacto da arma. Um simples movimento de "venha cá" do meu dedo indicador da mão esquerda faz com o que o gatilho seja apertado, acionando impulso dentro da Panzer, fazendo com que cuspa a mesma bala que demorei 5 minutos para conseguir colocá-la na arma. Tudo tão rápido. Fecho meus olhos e a única coisa que faço é ouvir o estrondo da explosão misturando-se com os gritos amedrontados da população. Quando abro meus olhos, não consigo enxergar mais soldados. Só consigo ver monstros. Monstros sedentos de carne. Prontos para tirar a vida de qualquer um que não seja de sua amada nação. Olho para minhas mãos e percebo que não são mais as mãos de uma pessoa normal. Me tornei um monstro também. Não consigo colocar os pensamentos mais em ordem. O único impulso que me governa no momento é o de acompanhar o bando de monstros e fazer tudo o que eles estão fazendo, que é seguir a missão: mirar e matar, sem pensar.
Vidas e mais vidas vão sendo tiradas da pequena cidade. Os chamados 'inimigos' poderiam ser qualquer um.
Acabo fazendo uma história de vida para cada vítima de minha Maverick. A bala que uso para matá-los vira sua água de batismo (ou certidão de nascimento no cartório), o que me faz ter o direito de dar nomes.
Começo pela história de Alfred. Depois que vejo minha bala atravessar seu peito, imagino que, com seus 32 anos, ele poderia ser um daqueles comerciantes que ficam batendo de porta a porta, a fim de vender o seu produto revolucionário (qualquer produto se torna revolucionário na mão de um comerciante autônomo). Imagino que ele tenha dois filhos, um menino e uma menina, no qual nunca os deixaram passar fome, já que, com o salário de sua esposa e suas vendas, conseguem manter o sustento para sua casa. Mas isso não importa mais, pois existe uma bala em seu peito o impedindo de fazer suas vendas, contando que não terá mais vida para fazer isso. Adeus, Alfred.
Conheceremos então a história de Rosemary, 29 anos, dona de casa, mãe de filho único, e forçadamente casada com um dono de padaria a seis anos. Rose acordava todos os dias às 7 da manhã, colocava o leite para ferver enquanto prepara a mesa para o café-da-manhã. Enquanto o leite ferve, ela regava as plantinhas de sua varanda. Depois, colocava o leite na mesa do café-da-manhã, enquanto seu filho se aprontava para ir à escola. Logo após comerem, ela ia com seu filho até o portão e lhe dava um beijo de bom dia na testa. Então ela voltava para dentro de sua casa e começava os preparativos para a refeição da tarde. Vai ficar um pouco difícil fazer tudo isso agora que alojei uma bala em sua cabeça. Adeus, Rosemary.
É engraçado pensar que cada vida que está sendo tirada poderia tanto ter a chance de se tornar uma ameaça no futuro, quanto não tornar. Infelizmente, para nós, soldados, deixá-los vivos não é uma opção.
Meu estado de monstro começou a desaparecer quando me deparo com o pequeno Raphael, com seus singelos 12 anos. Antes de matá-lo, vi um brilho intenso em seus olhos, parecido com o brilho da estrela em que olho toda a noite pensando em você, Manuella. O pior parte é que não consegui evitar puxar o gatilho antes de voltar ao meu estado normal. Que mal um garotinho tão cheio de vida poderia representar à uma nação? O que me fez pensar que tenho o direito de arrancar-lhe a vida?
Mirar e matar, sem pensar.
Ficamos tão interessados em acabar como o terrorismo que nos tornamos os verdadeiros terroristas.
Não consegui criar uma vida para o pequeno Raphael. Simplesmente, coloquei minha vida dentro dele. Enquanto vejo o brilho de seus olhos se apagarem, devido ao projétil alojado no peito, imagino todas as minhas vontades, todos os meus sonhos de 12 anos sendo apagados junto com sua vida. Adeus, pequeno garoto, aproveite e levo tudo de bom que restou em mim.
Quando você está em guerra tudo ao seu redor vira conflito ao seu redor e dentro de você. Suas sensações, decisões, tudo. Chego a entrar em conflito com minha própria missão, o que me faz pensar e deixar de matar. Tudo começa a rodar e ficar confuso ao meu redor. Mas a sensação que estou tendo é prazerosa. Pois estou em tão completo estado de paz que nem reparo uma granada de mão explodir ao  meu lado.
A guerra só acaba quando a morte começa. E está acabando para mim.



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Se existe uma cor para caracterizar a paz que senti no decorrer de mais ou menos 30 segundos finais de vida,essa cor era azul. O azul de seus olhos, doce Manuella.
Você é meu ponto de paz. E a única sensação que posso sentir é do seu corpo junto ao meu, enquanto uma leve brisa passa por mim, já imóvel do tronco aos pés.
Não, não estou triste por estar morrendo. Estou feliz por saber que eu tive alguém a quem amar antes dizer "Sim, eu vou à guerra pela minha nação". Desde essa frase, me tornei um monstro de guerra insensível.
Espero que esta mensagem chegue à você, nem que seja em seus sonhos. Nem que seja daqui a 52 anos.
Adeus, Manuela.


PS.: Sabe a estrela com o brilho mais intenso? Serei eu.


Atenciosamente,
Um monstro apaixonado.


Meu corpo voltará como heroi de uma pátria na qual tive que pagar o preço de ser o vilão de outra nação.

30 de dezembro de 2012

Pode ser Estranho ou Bizarro o que importa é estar bem

Sabe, às vezes eu me ponho a pensar, sera que vale a pena ficar velhinho, viver uma vida regrada e cheia de cuidados, juntar dinheiro, para depois usufruí-lo ou deixar para alguem? Ou talvez preferir uma vida sem limites, aproveitando ao máximo, sem ligar para regras ou cuidados e consequentemente viver menos? Pois bem, são escolhas como essas que nos fazem refletir sobre como levar a vida, se vamos ligar para que os outros pensam, ou se vamos viver como a gente quiser, às vezes questões como estas me revoltam, você pode ser uma pessoa que sempre agrada e faz tudo certo, quando decepciona uma única vez, a sociedade te crucifica, e cair na opinião dos outros é se deixar ser um peão do sistema, o correto é fugir disso, viver como se quer, estando bem consigo mesmo não fazendo o sucesso proprio apagar o sucesso de quem está do seu lado, tipo só acho! Isso foi meio que um desabafo, mas acontece a todo tempo e como todo mundo.

29 de dezembro de 2012

15 de dezembro de 2012

parte do eu que já não faz parte

por Jéfferson Veloso.



E tudo se vai
minha alma se despede de mim
Vá!
Oh! doce sereno de mim
afasta esse caos que me persegue
que me faz igual a todo mundo

Por quê?
Pra quê?
De que vale?
Viver no meio do povo escravo do papel numerado
No meio desses que abrem seus escudos para algo tão belo como a chuva
Você não merece isso, vá!

Despeço do meu corpo
Adeus...
"uma gota d'água te chama lá fora"
vá, e tente ser feliz
meu amor, minha alma.
Leve consigo todas as minhas euforias
todos os meus estardalhaços
minhas lembranças
meus prazeres
e faça deles tua morada

Sufoca todo o que tem de mal
esqueça tudo que fiz de ruim
se não me fez bem, não fará a ninguém

tu, tão doce
tão delicada
espere aqui mais uma noite
deite comigo
faça acordar esse instinto maligno
e tire-o de mim,
antes de tua ida
antes que tudo esteja consumado

Te achava tão pertencente a mim
mas descobri que estava errado
tarde demais para consertos.
E quando você for
meu eu se tornará nada.

O corpo fez um contrato com a morte
e a alma é o tributo a ser pago
Mas pode ser o contrário
pois não mais se sabe quem é o verdadeiro proprietário.
essa é a vida.

minh'alma canta em delírios
"você é tudo que eu que eu quero, mas nada do que preciso"
e segue seu caminho
sem rumo
sem arrependimentos
sem olhar para trás
enquanto eu,
eu me tornei um monstro
Desses de terno e gravata
sem expressão facial
sem sentimentos
sem vida.


Somente mais um escravo do papel numerado.

14 de dezembro de 2012

Setenta E Poucos E Vinte E Sete



Capítulo I – Setenta E Poucos


Parte I - Nascimento

Meu nome é Alberto García, mas me tratam como Senhor García. Senhor. Esse deve ter se tornado o meu nome. Vamos começar de onde parei, ou melhor, do princípio da minha existência. Nunca fiz muito sentido e a indecisão corre em minhas veias desde a primavera em que fui concebido. Uma herança um tanto quanto indesejada, mas válida. Sempre fui muito extremo, como dizem tudo ou nada, mas sempre buscando meios de alcançar um equilíbrio. Organizado e desleixado, tímido e cara de pau, triste e eufórico, frio e sentimental, engraçado e insuportável, o introvertido palhaço, costumava ser muito subjetivo, mas sem perder o foco. Um péssimo otimista. Esse fui eu até a juventude - 17 - e tudo se resume nisso, até que os extremos passaram por conflitos entre si que nem gosto de relembrar. Minha mente virou uma arena onde lutavam os mais temidos e controversos pensamentos em busca de um espaço maior, num processo quase natural. Passei algum tempo me descobrindo e analisando o que estava ao meu redor. Tristes tempos bons: o que era duplo passou a se tornar um só e a balança não mais existia, mas ainda reinavam as suposições. Creio que estou me tornando hoje o que fui décadas atrás, porém estou um tanto quanto atrasado - e arrependido - já que viver não é mais uma certeza e, por ironia, também não era naquela época.
            
             Parte II – Aquelas Velhas Decisões

Naquela época tomei as decisões mais difíceis da minha vida e talvez as mais importantes, que se refletiram durante toda a minha existência e que ainda possuem força para me motivar a escrever isso. No trabalho, milhares de dólares, euros, libras, reais, pesos, papéis... Tudo isso multiplicado cuidadosamente sob meus olhares atentos e meu ágil aparelho cinzento que nunca me deixou errar e que me tornaram essa máquina infalível de transformar água em vinho, e milhares de decisões que tomei para construir todo esse patrimônio são apenas uma gota d'água no mar da importância das decisões que tive que tomar na adolescência. A intensidade da infância teve que voltar à tona, pois não existia meio termo, não mais, e a situação estava insustentável, beirando ao colapso do meu sistema. Pois bem, pode imaginar agora qual o caminho escolhi e quais os extremos prevaleceram. Costumava ser um homem de negócios, competente, fiel a tudo e a todos. Resolvi me entregar aos encantos do meu meio depois de desistir de ser dono de mim mesmo. Durante a maior parte do tempo fiz tudo conforme me mandaram, conforme me ensinaram e conforme o esperado, mesmo que isso nos primeiros anos me causasse um grande desconforto, mas as coisas são assim e você acaba se adaptando.

Parte III – Linha De Isolamento
           
           Perdi alguns amigos e a confiança de outros, mas também fiz uns novos, e isso tem que valer de algo, afinal tudo era reciclável naqueles tempos. Trabalhei, estudei, trabalhei, forcei uns sorrisos, menti aos montes, fiz alguns inimigos e briguei pelas ideias de quem pagava por minhas viagens trimestrais para o exterior, de quem pagava pelo meu Audi, por essa mansão na qual estou eu na varanda, olhando para o nada com o mar dando o contraste ao fundo e a linha que corta o azul infinito me mostrando que é tarde demais para mudar de opinião, na qual eu escrevo agora na esperança de que não seja tão tarde a ponto de deixar que outros saibam como é ser um fracassado de sucesso, para que saibam fazer suas escolhas, lutar por suas próprias ideias ou então apenas deixar o que quer que seja determinar ou não sua existência insignificante, assim como a minha.
         Nunca tive mulher ou filhos, pois sempre afastei as pessoas que tentavam se aproximar, e não farei testamento. O que parece meu na verdade não é, eu só fiz parecer que sim. Será que tenho mais um dia ou dois para viver? Não sei e, sinceramente, não quero saber! Eu tive medo, prolonguei o meu sofrimento mais do que o necessário nesse plano e gosto de pensar que esse é o único que me restou, se é que me resta alguma coisa palpável além desses longos cabelos brancos que insistem em me lembrar de que não fui melhor do que aquela simples criança indecisa. Se o amanhã não vier, agradeço desde já ao tempo por me fazer esse favor.

                                                                              _____

            Capitulo II – Vinte E Sete

            Parte IV – Universo Paralelo
           
           Sabe-se muito sobre mim então dispenso cerimônias. Sabe-se quem eu sou. Sete minutos. Sou o senhor da minha existência, meu próprio criador, minha própria criatura, selvagem, intuitiva, intensa, obscura, instintiva e livre de qualquer amarra - pelo menos eu era até o momento presente.
           
          Observando minhas escolhas que me trouxeram até aqui, ao fundo do poço outra vez, aprendi que há apenas duas maneiras de um homem seguir em frente sem foder consigo mesmo, sem fritar o seu cérebro todos os dias quando bota a cabeça no travesseiro ou quando se está prestes a tirá-la dele. Nunca fui de resumir tanto assim as coisas, você sabe, mas essa é uma ocasião de extremos e considerando que um homem saiba de tudo o que eu sabia há uma década, interprete e obrigatoriamente terá que escolher um dos dois modos de sair dessa encruzilhada: ou ele se veste de criança e se esconde dos seus sonhos, seus desejos, e principalmente dos seus medos, perde o brilho nos olhos e nunca mais tira essa máscara e essa fantasia perfeita, ou ele encara tudo isso, deixa de apenas viver, passando a existir. Não há meios termos. Cinco minutos. Quase sempre me dou bem quando estou sobre pressão, mas não creio que seja esse o caso. Infelizmente, ou felizmente, depende do ponto de vista, a maioria dos homens da minha época e do passado escolheram a primeira saída. Até entendo-os, muitos tinham família e prezavam por elas, mas eu não podia dizer o mesmo, muito menos meus companheiros, sem contar que, para muitos, é muito fácil viver com uma máscara permanente. Não, eu não caminhei sozinho até aqui e pra ser sincero eu não chegaria tão longe não fossem meus fiéis camaradas, cada Sancho, cada Camilo, cada fiel escudeiro – cada ator principal - a quem considero irmão de batalha, aqueles que derramaram sangue comigo e por nós, aliás, mais do que por nós, mas pelo resto do mundo.

            Parte V – Ouro Vermelho    
      
          Mal sabem os tiranos que o que escorre depois do estalo seco da bala vale mais do que qualquer coisa nesse mundo. Três minutos. Escorre ali nada mais que um ideal, uma causa, um delírio compartilhado, um sonho, e isso hoje em dia é tão escasso quanto olhos de verdade uma década atrás, olhos próprios. Foram esses olhos que viemos trazer, espalhar essa epidemia para que se tornasse incontrolável tal como está a acontecer nesse exato momento mundo afora. Minha intenção aqui não é fazer uma retrospectiva, mas apenas refletir e relembrar com orgulho das decisões que me fizeram estar aqui nesse momento, nessa sala escura, trancafiado há dias e, por ironia, observando o pavio do meu destino diminuindo na velocidade do som enquanto o som do meu povo lá fora, comemorando a liberdade e a vitória sobre os opressores, ecoa como música aos meus ouvidos, num silenciar suave que me serve de fundo perfeito para esta reflexão. Dois minutos. Cá estou agora, numa espécie de calabouço, amarrado a um poste e tudo o que vejo é o vazio. Foi tudo o que restou aos antigos donos do poder depois de sentirem na pele que quando se comprime demais uma mola ela tende a se expandir mais do que o normal quando se solta, atingindo várias vezes extremos para que enfim repouse no seu equilíbrio. Foi assim com minha sociedade - nossa sociedade - e tudo o que fiz nessa curta vida, junto aos meus companheiros, foi fazer com que a mola se desprendesse do seu estado comprimido.
         
            Parte VI - Renascimento

Sendo assim me despeço silenciosamente com a sensação de dever cumprido. Um minuto. Tudo o que eles querem de mim é que eu implore por piedade, que eu admita que eles estejam certos e que a vitória não foi justa, o que justifica todo esse cenário lento e reflexivo. Entendo-os, pois o que mais poderiam querer nesse momento de fracasso total? Eu sou o orgulho. Estão acuados, perdidos e seu fim será o mesmo que o meu. Eu sou a vitória. A vida é insignificante e escorre entre meus cabelos compridos, então porque me preocupar com a perda dela se esse é o ciclo natural e não vai abalar – não de forma negativa – tudo o que já foi conquistado? 30 segundos. Estou indo, mas vou ficar sem pedir permissão na memória de quem ouvir falar ou ler num livro de história sobre um evento qualquer em 2022. Eu sou o movimento. Sempre gostei do clássico, do antigo, do velho mundo, mas sem fugir da realidade, e não seria diferente com relógios: os digitais me irritam. É o que tenho agora. 15 segundos. Não no meu pulso, mas pulsando em reflexos nos meus olhos os últimos segundos, que mais parecem anos. Talvez ele queira tardar seu suicídio. Entendo-o também e já estou com saudades, pois provavelmente não nos veremos no inferno. Está conversando comigo:
 “Vejo-te lá em:” 5.
Ou não.  4.
Por que demora tanto?  3.
 “Feche seus olhos.” 2.
 “Acorde! Está apenas ressurgindo!” - grita minha mente.
       

Por Rafael Mota

12 de dezembro de 2012


Loucura/Lucidez

“Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura” Aristóteles


Afinal o que é ser normal?
Há um aparente paradoxo no que tange a conceitos acerca da normalidade.
A loucura ou a lucidez podem ser consideradas como o que beira ou foge aos padrões de comportamento de uma sociedade. O que em minha análise é equivocado, já que esse pensamento induz a reflexão de que tudo o que é comum é normal, além de que só pode ser aplicada a cultura em que se observa. Desta forma comportamentos atípicos inofensivos, são recriminados, e condutas hostis e comuns, são bem aceitas.
Comportamentos fora do padrão são taxados de anormais, mesmo que não atrapalhem a vida alheia, temos hoje o bullying, a homofobia, a xenofobia... Uma série de “fobias”. Já condutas hediondas são socialmente aceitas (ou ignoradas), como a agressão às mulheres pelos seus companheiros, a corrupção (evidenciada pelo “jeitinho brasileiro”), a banalização de valores e atitudes humanas, dentre outros exemplos.
 Somos julgados pelos rótulos, vistos, no mínimo com um pouco de estranheza se não usamos roupas/acessórios da moda, se não gostamos de músicas, filmes, livros, opiniões, religiões, sexualidade, posição, política, cultura, padrões da moda ou momento em que se vive. Além de que o que é normal em uma cultura pode não ser para outra. É o que se pode notar, por exemplo, a estranheza que causa a um brasileiro, entrar em contato pela primeira vez com a cultura hindu, ou índios antropofágicos.
Assim, indivíduos que fogem aos padrões pré-estabelecidos são postos à margem da sociedade. É o que se pode notar através de influentes estudiosos dotados de inteligência ímpar em seu tempo. Quase todos considerados no mínimo atípicos, loucos, simplesmente por fugirem do padrão. Um bom exemplo a ser citado, já na Grécia antiga: Sócrates, que “atormentava” pessoas pelas ruas, fazendo questionamentos que colocavam em dúvida todo o conhecimento que elas julgavam ter sobre o mundo. Este comportamento custou-lhe a vida, sendo obrigado a suicidar-se tomando um cálice de cicuta. Há uma infinidade de exemplos de pessoas que sofreram por sua atipicidade, mesmo que extremamente lúcidas.
No meu entendimento, o significado de normalidade ultrapassa o que é comum...
Quem é tão são para diagnosticar a loucura? O que é o anormal para quem julgamos louco? Deve-se adotar um comportamento somente porque é considerado normal? Deve-se seguir um padrão? Que tal repensar sobre o assunto...Opine!

9 de dezembro de 2012

Filósofo de Rua


Nada a acrescentar. Falou tudo, e de tudo, um todo!



Créditos: Inútil ARNC (A Rua é Nossa Casa) - http://www.inutilarnc.com.br/

Money Bloody Money



Dinheiro sujo
Dinheiro vivo
Dinheiro deles
Dinheiro amigo

Lavagem de dinheiro
Lavagem cerebral
São apenas negócios
Nada pessoal

Dinheiro imundo
Dinheiro cego
Dinheiro que nunca
Satisfaz o seu ego

Rios de dinheiro
Somem no infinito mar
E o limitado horizonte
Não o deixa sonhar

Moeda verde
Que cheira à podridão
Vermelho do sangue
Da inocente servidão

Dedo na ferida
Mas não se zangue
Continue a corrida
Pelo diamante de sangue

Escravidão
Muito pesado
Usemos então
"Consumizado"

Dinheiro inútil
Santificado
Vá se deitar
Estás atrasado

Finalizando
Fica o conselho:
Reflita se o seu dinheiro
Não está manchado de vermelho!

8 de dezembro de 2012

Bruxas, feitiços

por Jéfferson Veloso
título: Rafael F Mota

para uns sou psicótico, para outros, transtornado;  para mim, sou o futuro.


tudo implantado.
a seca destroi aquilo que o homem plantou
o mato vai fazendo sua moradia onde deixaram de cultivar
sem perceber
tudo é tomado.

e o homem continua atônito, sem reação
por ver sua criação sendo dominada
e por assim dizer, desiste de tentar mudar a realidade
por achar que a realidade é imutável.

aos poucos o homem vê que nada mais vale de se fazer
então simplesmente desiste
e a criação vira-se contra o criador
e o domina.

então o homem se deixa levar por aquela realidade
e sua falta de reação torna-se sua humilde fraqueza
se entrega nos braços da morte
conta até 10
e espera que no 10 tudo tenha se consumado
mas nada acontece
a criação ainda quer ver mais sofrimento
quer ver o criador de joelhos suplicando clemência
tenta roubar a cena, ser superior
e isso também acaba virando sua mais luxuosa fraqueza

e nesse momento  o homem consegue voltar para si
e vê que sua realidade está de joelhos
com as palmas das mãos juntas pedindo perdão pelo qual nem sabe o motivo
então, com um ar suave de coragem ele se levanta
e domina novamente sua criação, aproveitado-se de sua fraqueza transposta
e isso o faz um novo homem.

mas esse novo homem sabe pensar
pensar com clareza
pensar com razão
e essa razão o faz refletir
refletir que todos somos iguais
e sendo iguais nada nem ninguém deve dominar
muito menos deixar-se dominar
e, por meio dessa percepção
o homem vê que a vida seria bela
se todos soubessem amar.

seria esse o caminho para a Liberdade
ainda não. Paciência, paciência...


faço parte do  meu próprio domínio.

7 de dezembro de 2012

os movimentos não páram



no final das contas
todo mundo é hippie,
todo mundo é punk,
todo mundo é alternativo,
todo mundo é comunista
todo mundo é consumista
todo mundo é capitalista

todo mundo é nazis... não, pera!
todo mundo é tudo
todos somos fruto daquilo que vivenciamos.
Morou?



E continua infinita a busca pela paz, pelo amor.


2 de dezembro de 2012

Não (des)espere

por Jéfferson Veloso.



não estou querendo  muito
mas também não quero pouco
o prazer no meu mundo
ou algo mais louco

o tempo se chama agora
não espero pra depois
procurando a felicidade
eu, você, nós dois

não sei de onde eu vim
nem sei para onde vou
só sei que a vida é um mar
no qual a onda me levou

e nesse pequeno poema
deixo uma simples indagação
de que vale viver
sem ter sua própria opinião?
qual o sentido da vida
se nela não houver paixão?
como alcançar algo mais
e não tirar os pés do chão?


sorrir alegremente
chorar pelo mesmo motivo
fazer o que der na mente
isso me deixa mais vivo

não sei nada desse mundo
mas uma coisa sei de cor
não quero esperar outra vida
para ter uma vida melhor