12 de maio de 2015

Retrato a Tainah

Movido fui a escrever,
Às vozes do tempo clássico,
Ao teu louvor e prazer
Sumamente literário,
Este canto eclesiástico.

Tens nos olhos um querer
Oriental de natureza,
Que às Gueixas vem oferecer
Liberdade ocidental
Sem a mentira ou surpresa.

De medusa, os teus cabelos
Revoltos e em movimento,
Cristalizam-se-me os olhos,
Feito mármores marinhos,
Quando os vejo a todo tempo.

Tens no queixo alexandrino
As curvas de toda a história;
Desde as artes de menino,
De um adulto o aprendizado,
Até dos velhos a glória.

Co'a soberba de um Augusto
E beleza sem limite,
Sustenta-lhe o resto o busto
Com tamanha maestria
Que dá inveja até a Afrodite.

Este teu retrato pinto
Com as cores da liberdade,
E quando canto, não minto,
Pois não existe exageros
Quando se impera a verdade!

11,5,15

11 de maio de 2015

Medusa

Os seus olhos de medusa
Transformaram-me num quadro,
E as cores, de tão difusas,
Preencheram-me um adro

Que da acesso u'a sala lusa
Com azulejos sagrados,
Onde uma imagem confusa
Está a servir-lhe de ornado;

Esta estátua vil abusa
De ter o seu nome herdado,
E julga-se ser a musa
De meu sonho consternado.

A.P.

8 de maio de 2015

Batalha

Por Jefferson Veloso



No sofrimento que assurgires
E nãos ilusões da vida sofrida
Esqueça as batalhas simples
A maior guerra é antes da vida

Milhões e milhões de vocês
Procurando vaga para existir
No ovo que em si fecunda
O big-bang natural de surgir

Vida esta que começa
Batalhou antes de ser
Mas se esquece de que quand'era
Brigou bravamente para ser você



7 de maio de 2015

Quero

Por Jefferson Veloso



Cachaça que vem da cana
Desencana meu saber
Me faz ser mais sacana
Sacando o que quero fazer

Marijuana que dá brisa
Mais em conta tu me faz
Faz surgir a calmaria
Com a risada fugaz

Opostos que se atraem
No doce este que é amargo
Ou sem gosto de miragem
Dos dragões nos quais afago

Cada qual com o seu nome
Cada efeito sua viagem
Onde encontra ou talvez some
Caminhos novos que o (des)fazem




3 de maio de 2015

Singelo

Por Jéfferson Veloso



Num colchão bem macio
Ou no chão de sala qualquer
Como pão bem quentinho
Ou torradinha com café

Chá de camomila
Produto que sai da terra
Sachê cheio de vida
Vida que sai da caneca

Biscoito de trigo e leite
Com chocolate bem quente
Desenho completa o deleite
Do prazer que se faz presente

Café preto e bem coado
Coador de pano certeiro
Pão de queijo agraciado
Que agrada o povo mineiro

De manhã cedo e chocolate em pó no copo
Vai no curral e acompanha a ordenha
Pra sentir o fenômeno natural
De tomar leite fresquinho da teta

Maçã e banana que acalma
Chá de romã que acompanha
Para o descanso do sono prevalecer
E acordar com xícara de café
Enquanto assiste o Sol nascer



1 de maio de 2015

A Bailarina

         


           Quando ouço Für Elise, de Ludwig von Beethoven, sinto que ela dança em minha mente, transformando esta em uma caixinha de música, habitando, intermitentemente, os mais belos recônditos de meus devaneios poéticos; sinto que suas leves sapatilhas de cristal deslizam sobre minha massa cefálica, levantando toda poeira de neurônios e fazendo-os iluminar meu sótão de pensamentos brilhando feitas estrelas no firmamento; seu vestido rosa-bebê, girando em cirandas sincronizadas, sinto acariciar sob meu couro cabeludo todas as ideias, afastando para longe as ruins e convidando para dançar as boas, como um repentista que enfeitiça outros a serem também repentistas enquanto entoam seus cordéis pelas praças; rodando e voando, feito as asas de cisnes apaixonados, eu vejo seus braços regerem mil versos em meus pensamentos, desenhando Ilíadas, Odisseias e Lusíadas, como uma Musa-maestrina de uma orquestra divina; seus cabelos pairam ondulantes por entre as raízes dos meus, feito um convés a levar um marinheiro que busca novos horizontes para descansar. Assim é formada a bailarina de minha cabeça, esta caixinha de música, dando corda a todos os meus sonhos, tanto diurnos quanto noturnos.

            E quando a música para, e sua valsa termina, ela se senta sobre meu cérebro, macio feito colchão de nuvens, com as pernas cruzadas, os pés debaixo de suas coxas, esperando que eu lhe conte uma história para dormir, repleta de fantasias verdadeiras, daquelas capazes de fazerem todas as mulheres se unirem em um único canto de vaidade e prazer; após essas historietas, ela dorme, deitando-se sobre meu único sonho verdadeiro: o teu corpo desnudo afogando meus medos e anseios, encobrindo-me de prazer e amor por toda noite.


Augusto Procópio

Casinha Branca

                 Quando dei por mim, vi que todas as paredes eram brancas, completamente brancas, sem rodapés ou quinas amadeiradas de cor parda ou marrom; tudo cheirava a branco de tão claro, e isto me dava uma enorme sensação de conforto, como se toda minh’alma, feito um camaleão, aderisse a cor onipresente e onisciente da casa. Havia algumas pessoas, todas inidentificáveis pela minha consciência em nirvana, pois parecia estar havendo ali uma pequena festa, serena feito o dia que, pelas enormes janelas ocupando quase cinquenta por cento das paredes, iluminava todo o interior.

                Após atravessar uns tantos quantos corredores e portas, encontrei-me em uma varanda retangular, com o comprimento três vezes maior que a largura, onde, no final de uma das extremidades, avistei um pequeno grupo de pessoas formando uma roda, como as feitas para se dançar ciranda. Curioso, aproximei-me, e fui dar de rosto com um grande amigo que há tempos não via, sentindo que a cada passo mais próximo a ele, a saudade que lhe guardava ia aumentando, gradativamente. Qual não foi o meu espanto quando trocamos mirradas frases e ele se retirou, abrindo uma porta na roda humana; aproveitei a abertura e ocupei o lugar do meu amigo, e, de um susto ao outro, vi-lhe, encostada na parede, feito uma estatua de Michelangelo rodeada por visitantes em um museu.

                Novamente aproximei-me, sentindo outra vez aquela saudade indefinível crescer em mim, pouco a pouco, até dar-me rosto a rosto contigo, mas, desta vez, sem a coragem de proferir palavra alguma. Qualquer cumprimento que fosse dirigido a você, ali, estragaria o meu solo de contemplação. Após um longo silêncio, pude então aperceber-me de todo o seu ser, que estava vestido com uma blusa de frio com capuz da cor preta, destacando-se naquele mar de leite em que nos encontrávamos; teu cabelo era curto, tanto quanto as poucas palavras que trocávamos, segundos antes de eu tentar roubar-lhe um beijo, mas você virou o rosto, deixando-me apenas tocar meus lábios úmidos em sua bochecha esquerda e vermelha. Você sorriu, corou ainda mais, eu calei, gelei, e então a estátua de mármore era eu, sem saber como agir, ou melhor, reagir ao seu sublime e terno gesto. Não demorou muito, você mudou as tintas do quadro que nós pintávamos, segurando-se em minha nuca com a mão direita, ao me dar um leve e longo beijo na boca. Ficamos assim por um vasto tempo, sentindo as pétalas de nossas bocas se roçarem com o vento de nossas almas unidas e em êxtase, formando um pequenino furacão de emoções que rodeava nossos corpos.

                Não tive tempo de me despedir, nem mesmo de sentir sua boca desvanecer-se da minha; acordei bem devagarinho, meditando, ainda sentindo uma sensação gostosa de minha alma levíssima feita um pavão branco voando dentro do meu corpo, que também era, por agora, uma casa branca, totalmente branca.


Augusto Procópio - 2,2,15