Quando
dei por mim, vi que todas as paredes eram brancas, completamente brancas, sem
rodapés ou quinas amadeiradas de cor parda ou marrom; tudo cheirava a branco de
tão claro, e isto me dava uma enorme sensação de conforto, como se toda minh’alma,
feito um camaleão, aderisse a cor onipresente e onisciente da casa. Havia
algumas pessoas, todas inidentificáveis pela minha consciência em nirvana, pois
parecia estar havendo ali uma pequena festa, serena feito o dia que, pelas
enormes janelas ocupando quase cinquenta por cento das paredes, iluminava todo
o interior.
Após atravessar uns tantos
quantos corredores e portas, encontrei-me em uma varanda retangular, com o
comprimento três vezes maior que a largura, onde, no final de uma das
extremidades, avistei um pequeno grupo de pessoas formando uma roda, como as
feitas para se dançar ciranda. Curioso, aproximei-me, e fui dar de rosto com um
grande amigo que há tempos não via, sentindo que a cada passo mais próximo a
ele, a saudade que lhe guardava ia aumentando, gradativamente. Qual não foi o
meu espanto quando trocamos mirradas frases e ele se retirou, abrindo uma porta
na roda humana; aproveitei a abertura e ocupei o lugar do meu amigo, e, de um
susto ao outro, vi-lhe, encostada na parede, feito uma estatua de Michelangelo rodeada por visitantes em um museu.
Novamente aproximei-me, sentindo
outra vez aquela saudade indefinível crescer em mim, pouco a pouco, até dar-me
rosto a rosto contigo, mas, desta vez, sem a coragem de proferir palavra alguma.
Qualquer cumprimento que fosse dirigido a você, ali, estragaria o meu solo de
contemplação. Após um longo silêncio, pude então aperceber-me de todo o seu
ser, que estava vestido com uma blusa de frio com capuz da cor preta,
destacando-se naquele mar de leite em que nos encontrávamos; teu cabelo era
curto, tanto quanto as poucas palavras que trocávamos, segundos antes de eu
tentar roubar-lhe um beijo, mas você virou o rosto, deixando-me apenas tocar
meus lábios úmidos em sua bochecha esquerda e vermelha. Você sorriu, corou
ainda mais, eu calei, gelei, e então a estátua de mármore era eu, sem saber
como agir, ou melhor, reagir ao seu sublime e terno gesto. Não demorou muito,
você mudou as tintas do quadro que nós pintávamos, segurando-se em minha nuca
com a mão direita, ao me dar um leve e longo beijo na boca. Ficamos assim por
um vasto tempo, sentindo as pétalas de nossas bocas se roçarem com o vento de
nossas almas unidas e em êxtase, formando um pequenino furacão de emoções que
rodeava nossos corpos.
Não tive tempo de me despedir,
nem mesmo de sentir sua boca desvanecer-se da minha; acordei bem devagarinho,
meditando, ainda sentindo uma sensação gostosa de minha alma levíssima feita um
pavão branco voando dentro do meu corpo, que também era, por agora, uma casa
branca, totalmente branca.
Augusto
Procópio - 2,2,15
Nenhum comentário:
Postar um comentário