Quando
ouço Für Elise, de Ludwig von Beethoven, sinto que ela dança em minha mente, transformando
esta em uma caixinha de música, habitando, intermitentemente, os mais belos recônditos
de meus devaneios poéticos; sinto que suas leves sapatilhas de cristal deslizam
sobre minha massa cefálica, levantando toda poeira de neurônios e fazendo-os
iluminar meu sótão de pensamentos brilhando feitas estrelas no firmamento; seu
vestido rosa-bebê, girando em cirandas sincronizadas, sinto acariciar sob meu
couro cabeludo todas as ideias, afastando para longe as ruins e convidando para
dançar as boas, como um repentista que enfeitiça outros a serem também
repentistas enquanto entoam seus cordéis pelas praças; rodando e voando, feito
as asas de cisnes apaixonados, eu vejo seus braços regerem mil versos em meus
pensamentos, desenhando Ilíadas, Odisseias e Lusíadas, como uma Musa-maestrina
de uma orquestra divina; seus cabelos pairam ondulantes por entre as raízes dos
meus, feito um convés a levar um marinheiro que busca novos horizontes para
descansar. Assim é formada a bailarina de minha cabeça, esta caixinha de
música, dando corda a todos os meus sonhos, tanto diurnos quanto noturnos.
E quando a música para, e sua valsa
termina, ela se senta sobre meu cérebro, macio feito colchão de nuvens, com as
pernas cruzadas, os pés debaixo de suas coxas, esperando que eu lhe conte uma
história para dormir, repleta de fantasias verdadeiras, daquelas capazes de
fazerem todas as mulheres se unirem em um único canto de vaidade e prazer; após
essas historietas, ela dorme, deitando-se sobre meu único sonho verdadeiro: o
teu corpo desnudo afogando meus medos e anseios, encobrindo-me de prazer e amor
por toda noite.
Augusto
Procópio
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