1 de maio de 2015

A Bailarina

         


           Quando ouço Für Elise, de Ludwig von Beethoven, sinto que ela dança em minha mente, transformando esta em uma caixinha de música, habitando, intermitentemente, os mais belos recônditos de meus devaneios poéticos; sinto que suas leves sapatilhas de cristal deslizam sobre minha massa cefálica, levantando toda poeira de neurônios e fazendo-os iluminar meu sótão de pensamentos brilhando feitas estrelas no firmamento; seu vestido rosa-bebê, girando em cirandas sincronizadas, sinto acariciar sob meu couro cabeludo todas as ideias, afastando para longe as ruins e convidando para dançar as boas, como um repentista que enfeitiça outros a serem também repentistas enquanto entoam seus cordéis pelas praças; rodando e voando, feito as asas de cisnes apaixonados, eu vejo seus braços regerem mil versos em meus pensamentos, desenhando Ilíadas, Odisseias e Lusíadas, como uma Musa-maestrina de uma orquestra divina; seus cabelos pairam ondulantes por entre as raízes dos meus, feito um convés a levar um marinheiro que busca novos horizontes para descansar. Assim é formada a bailarina de minha cabeça, esta caixinha de música, dando corda a todos os meus sonhos, tanto diurnos quanto noturnos.

            E quando a música para, e sua valsa termina, ela se senta sobre meu cérebro, macio feito colchão de nuvens, com as pernas cruzadas, os pés debaixo de suas coxas, esperando que eu lhe conte uma história para dormir, repleta de fantasias verdadeiras, daquelas capazes de fazerem todas as mulheres se unirem em um único canto de vaidade e prazer; após essas historietas, ela dorme, deitando-se sobre meu único sonho verdadeiro: o teu corpo desnudo afogando meus medos e anseios, encobrindo-me de prazer e amor por toda noite.


Augusto Procópio

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