22 de abril de 2015

Poesia póstuma

Por Jéfferson Veloso


Ao invés de flores brancas
Quero capim no meu caixão
Camisa barata, surrada de antemão
E uma chave amarrada em cordão

Não quero pedir que não chores
Pois a tristeza sim, prevalecerá
Mas o riso surge, mesmo disforme
Serena o coração e o faz acalmar

Olhe em volta, meu amigo
Quanta gente neste velório
Família, amigos e conhecidos
E meu corpo deitado, simplório

Mamãe vai querer rezar
E papai vai acompanhar
Não se assuste nessa prosa
Sou de família religiosa

Pra onde vou?
Confesso que disso eu não sei
Mas lembre-se
Lembre-se de quem fui ou sou
Talvez lá eu estarei

Na caminhada para o enterro
Estranho pode parecer
Mas dizer isso seria um erro
No nosso suposto "último rolê"?

Me enterre em terra molhada
Em túmulo simples e sem concreto
Pois este chão que será meu teto
Terá flores vivas na porta de entrada

Só sei do que sou agora
Pois quando eu era, já não sou mais
Quando serei, só depende da hora
Desse tempo contínuo que se/me desfaz.




Desenhado por Thiago Moreira

18 de abril de 2015

Artista?

Por Jefferson Veloso


Artista não come
Pois mata sua fome
Na sua própria incerteza
De que sua arte sem nome
Banhar-se-á em bendita beleza



Artista não trabalha

Em sua luta diária 
Por um cigarro de palha
E nas noites sem dormir
Stanislavski dizia e clamava
Seu teatro ideal de seguir

Artista?
Não vê o tempo passar
Em suas malditas imaginações astrais
Não ajuda com o futuro do país
Desenhando seus sonhos de arte e afins

Artista não é desse mundo
Não é desse tempo
É só mais uma folha no vento
No telhado de qualquer Raimundo

Cachê?
Artista quer um nome
E também quer arroz e feijão
Sua corrida é planejada
Para sua fama e seu pão

Cada um com sua cruz
Artista também é trabalho
Trabalho que encanta e seduz
Mas onde se rala pra caralho

Sem cultura não temos nada
Sem nada, nada sabemos
Cultura morta
Sociedade condenada
A viver
Na 
Maldita
Rotina
De um dia vivido sem amor.