Como diria o
ditado, o último suspiro é sempre o da esperança. Mas quem disse que ditados
não mentem? O último suspiro é também o da redenção, podendo ser uma negação ou
uma aceitação, e requer tamanho esforço dos pulmões, os quais jamais voltarão a
festejar se embriagando de oxigênio, que suspendem a energia da festa e todos
se vão dormir – para sempre. Um suspiro que pode ser acompanhado por um olhar
fixo ao horizonte, ao nada ou até mesmo um olhar delirante que, por minúsculos
lapsos temporais, fotografa desordenada e disparadamente tudo o que virá a ser
o álbum mais revelador de todos os tempos daquela vida perdida, numa tentativa
desesperada de levar pra onde quer que seja um pedaço desse lugar que parecia
infinito.
Já não resta
mais tempo pra uma cerveja ao pôr do Sol, nem para uma conversa boba pela qual
não se tem muito interesse, mas há tempo o suficiente para um último suspiro do
cérebro, o dono da festa. Ainda há tempo para uma última pergunta sem resposta:
o que se esperava da vida? A cada momento de euforia ou de profunda desilusão
apareciam planos fantasiosos e planos de fuga, respectivamente, e poucas vezes
algum plano decolou, não se sabe se por azar ou sorte. Em ambos os casos era
produzida uma estranha matéria negra que entupia as veias de maneira gradativa.
Uma mistura de decepção e desilusão chamada frustração. Uma sensação direta e
cortante, tal qual um tiro à queima roupa que extingue a vida antes mesmo que
se perceba, antes que se pense em algo digno de final de filme hollywoodiano.
A esperança
que move um ato de compaixão quase sempre é acompanhada de um pote de
ingratidão como sobremesa. Assim também é com o dito amor, com a amizade e
outros fortes e subjugados substantivos que expressam fortes laços entre duas
ou mais pessoas. Até mesmo no âmbito individual criam-se demasiadas
expectativas em torno de si mesmo, onde desde muito jovens as pessoas se
fantasiam como sendo o centro do universo, na esperança que o mesmo gravite em
torno do massivo ego. Fugir de ilusões próprias ou criadas por terceiros pode
ser um exercício um tanto quanto desconfortável, e então entram em cena os
atores que vendem a imagem fantasiosa que todos querem comprar: entre deuses e
livros de autoajuda existe um universo infindável de fantasias em liquidação.
Espaços
vazios tendem a se preencher com qualquer coisa que tenha massa, qualquer coisa
que exerça gravidade. Isso explica a curvatura do espaço, explica o caos do
universo, explica a dependência de ter sempre alguém por perto e até mesmo a
relação entre o recém-nascido e a mãe. Além disso, explica também o fato de não
se aprender o caminho mesmo após mil tentativas frustradas. Espera-se demais da
vida. Espera-se demais das pessoas. Esperando um mundo melhor, com pessoas
melhores e esperando melhorar, mesmo sem sair do lugar, sem quebrar ilusões,
acabamos por aceitar assistir de camarote a este show de horrores da vida real
como estáticos espectadores e, apenas na esperança de que algo grandioso aconteça, também somos meros expectadores.
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