16 de setembro de 2014

Dois Ou Um

          Nós somos crianças mimadas procurando por pessoas mais frágeis do que nós mesmos, do tipo que são fáceis de usar e descartar, mas quando nos descobrimos frágeis, procuramos pelas mesmas pessoas, que agora parecem ser grandes pilares, e então nos apoiamos novamente.
          Somos crianças na tempestade procurando por abrigo, por alívio, por um chão que sustente nossa dança egoísta. Com a inocência no olhar sustentamos ilusões egocêntricas, cada qual com a sua, acreditando que é possível se esconder do mundo quando se fecha os olhos, quando não se olha pra dentro.
          Somos garotos brincando de ser homens, ignorantes brincando de ser sapiens, movendo pessoas no tabuleiro como se fossem peões e manipulando-as como se fossem... crianças. Mas mal sabemos que os homens sempre afogam os garotos que um dia foram livres, puros e sensatos.
          Somos crianças perdidas tentando sobreviver ao abismo do isolamento, sobretudo, e então nos agarramos desesperadamente uns aos outros, nos abraçamos, nos beijamos e, quando novamente nos iludimos pensando ser uma união, não conseguimos nos desviar do soco que o espelho preparou.


          Somos crianças brincando de ser deuses, assim como os deuses brincam de ser criança, modelando o destino e desafiando o acaso. Somos subconscientes, abstratos e sequer existimos para além de nós mesmos.
          Somos muito além do que se pode escrever, descrever, sentir, imaginar, perceber, julgar ou limitar. Somos egoístas sendo altruístas. Somos luz negra que ilumina e luz branca refratada decifrando a escuridão. Somos a boca que nada diz e o olho que a traduz, ou mesmo o olhar que muito diz sem querer fazendo com que bocas se calem. Somos dois, quase um só, mas antes disso eu sou e tu és. Somos homens, somos humanos. Sobretudo, somos apenas crianças.

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