5 de junho de 2013

(Piloto)

Por Bia de SouZa



Ela acordou com um sobressalto. O sol iluminava parte de seu rosto, raiando por entre as frestas da cortina. Levantou-se depressa e olhou pela janela. Tudo ainda estava ali. A floresta, o orvalho quase seco, os pássaros negros brilhantes. E olhando para dentro do aposento, ela viu que tudo também estava como antes. A pequena casinha de madeira. "Pequena e de madeira" porque nada mais era do que uma casa dentro de um grosso tronco de árvore milenar. E lá ela se encontrava, sozinha. Mais uma vez.

Rangidos foram ouvidos e a porta se abriu. Ele entrou. Alto, de cabelos loiro avermelhados, na altura dos ombros, presos delicadamente acima das orelhas, deixando-as à mostra. Mal cabia dentro da casa, algo que a deixava nervosa e ao mesmo tempo achando graça.

- Você acordou - ele disse, estendendo-lhe uma cumbuca com um líquido verde.

- E você está novamente me dando esse "negócio" nojento para beber - ela retrucou, tampando o nariz com os dedos.

- Ou era isso, ou o outro "negócio nojento azul berrante" - ele riu com a lateral dos lábios - Acho que verde combina mais com você.

Ela não respondeu e virou o conteúdo da cumbuca garganta abaixo de uma só vez. Aquilo conseguia ser pior do que o negócio nojento azul berrante. A ânsia foi imediata, mas ela a conteve.

- Você realmente quer me matar. Certeza.

Ele apenas caminhou em direção à janela e olhou para fora. Permaneceu ali por alguns instantes, enquanto ela o observava. A respiração estava serena, mas ela pôde perceber os músculos dos seu pescoço se contraírem. Foram apenas alguns segundos, mas ela não podia deixar de notar. Então, ele também estava apreensivo, ela pensou. Isso a confortava, de certo modo.

- Talvez devamos partir - ele disse, por fim, fechando a cortina atrás de si - O sol nos dará uma boa vantagem. Será mais seguro com ele acima de nós.

- Tudo bem, vamos.

Ela caminhou em direção a uma pequena mesa formada por galhos retorcidos da grande árvore e pegou a sua mochila vermelha. Começava a achar que ela era muito chamativa para quem tinha um caminho tão tortuoso pela frente, mas não tinha tempo para discutir aquilo. 

E num movimento lento, ela pegou o Livro.

- Por que Ele tem que ser tão pesado? - ela resmungou, colocando-o com muito cuidado dentro da mochila.

- O peso é proporcional ao conteúdo, você sabe - ele respondeu, colocando as mãos nos ombros dela - E se considerarmos o nosso futuro, imagino que logo, logo, eu mesmo terei dificuldades em levá-lo conosco.

Ela assentiu, sabendo que o que ele dizia era verdade. O livro se tornaria uma rocha incapaz de ser manuseado livremente. Eles tinham que agir depressa.

Ela deu uma última olhada no pequeno lugar por onde nutriu um apego em tão pouco tempo e saiu para a luz do dia.

Os raios de sol iluminaram-na por completo, cegando-a por alguns instantes. Percebeu que ele estava ao seu lado e a olhava atentamente.

- Você está pronta - ele afirmou - Sabe exatamente o que fazer.

Ela engoliu seco, concordando. Sabia exatamente o que fazer, ainda que fosse uma série de coisas completamente impensáveis a qualquer ser normal. E havia, dentre elas, "a" coisa.

- E se eu dormir? Como vou saber para onde iremos?

Ele deu um passo em sua direção, ficando a centímetros do seu corpo.

- Você não vai dormir - sussurrou - Mas se acontecer... Saberemos o que fazer.

Ele pegou suas mãos finas e frias e envolveu as dela num aperto caloroso e firme. Então, guiou-a para o lado            oeste da floresta, em direção ao sol. Iniciavam um caminho longo, tortuoso e cheio de surpresas. Mas ela se sentia bem. Bem o bastante para saber que ele a protegeria.


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