6 de março de 2013

Notas de Rodapé sem Poemas



(*)Is there anybody OUT there? Acho que não, certeza que sim. Terças-feiras não são nem um pouco dias inspirativos, pelo contrário, costumam ser cansativas e depressivas, o que dá no mesmo. Não, isso não é uma contradição. Não em sentido literal. Contradições são como regras, existem para ser quebradas, do mesmo modo de que clichês são para serem abusados.

(*)Depois de quase acabar uma novela magnífica, uma crítica perfeita à falta de crença de uma sociedade e, ao mesmo tempo, autocrítica, meu cérebro dava voltas e voltas ao redor do seu próprio "eixo" (assim como a Terra, "inexplicavelmente", gira), que é o mais exótico que conheço, e conheço apenas um semelhante. Is there anybody IN there? Tem sim, mas está acuado, talvez fugindo para o nunca, para o incompreensível, para a verdade de quem escolhe o caminho mais fácil. Não há pra onde fugir, talvez por isso eu escreva, pra fugir da vida real. Como é que eu troco de canal? Desta vez a resposta é simples e única. Bang.

(*)Aí está o meu fascínio pela ficção, só com ela me alivio, pois os planetas que giravam semelhantemente ao meu já morreram há muito, foram engolidos pela estrela maior, a verdade de que não se pode fugir. Alguns chamaram por ela, outros desistiram de procurar. Outros, como meus comandantes, morreram por tentar ultrapassar as barreiras da estrela negra, a estrela da morte. Eles conseguiram e isso aumenta ainda mais minha doce indecisão. A estrela deles ainda brilha, mesmo parecendo apagada, milhões de planetas anões ainda orbitam ao seu redor, e agora somente estes conseguem enxergar o tamanho brilho dessa estrela vermelha. Não saber o que fazer às vezes faz nossa certeza, às vezes faz nossa cabeça um par de olhos, um pôr do Sol. Às vezes faz a diferença.

(*)Tenho fugido da escrita ultimamente. Tem me feito mais mal do que o esperado, além do fato de que rascunhos passam como raios e eu não consigo mais fotografá-los. Mordi o meu próprio rabo com presas venenosas. Armas de brinquedo, medo de brincar. É incrível como não consigo deixar a escrita entre linhas embaçadas de lado, brincando com as palavras como se fossem instrumentos que me pertencessem. Toda vez que brinco, brinco sozinho, num show pra mim mesmo. Pra quem mais seria? Desconfio que minha vida seja um labirinto, planejado milimétricamente para não ter saída. Uma busca eterna pela perdição, nem sim, nem não, e no meio da corda bamba não se tem tempo pra respirar. I have become comfortably numb, my lips move but no one can hear what I say. Isso deve fazer parte do meu desespero. Desespero. Também na forma pouco utilizada de não ter expectativas, digamos assim, "desesperança". Já preciso me refugiar na minha ficção novamente, na música e na palavra indireta. Nas horas em que o mundo vai à sua caça, você é apenas a presa indefesa, sem Guevara, sem Chávez, sem seu escudo vermelho, sem deus, sem Odin, sem você mesmo. Não seria má ideia, nessas horas, ter à quem recorrer. Se a vida é um filme, eu não conheço o diretor. O que me conforta é que a tempestade está chegando enquanto os demônios estão comemorando uma suposta vitória. Nem só o amor é cego, e quem "já perdeu" tem um grande aliado nesse momento: o instável, insustentável e autoconfiante... inimigo, que não se cansa de morder o próprio rabo.

(*)Escrevi, escrevi... e não disse o que tinha pra dizer. Talvez eu nunca vá dizer. Sem plateia não tem show, mesmo que algum desinformado se defina como plateia. Sei que não quero deixar isso morrer no labirinto com meu corpo. Talvez daqui uns anos algum extraterrestre ouça meus gritos em interferências nas ondas de rádio, ou talvez um desavisado encontre um enigma vermelho, escrito a sangue, numa parede úmida qualquer de uma extremidade do labirinto, que na verdade sempre teve uma saída, a uma curva dali.


2 comentários:

  1. Porque acha que brinca sozinho? Não mesmo. Brinco da mesma brincadeira tantas vezes que acabo tornando o brincar algo extremamente importante. Coisa de gente grande. :)

    "Na corda bamba, serei seu contrapeso". O Jéfferson entenderá e concordará.

    Escrever para fugir da vida real é um dos meus programas favoritos. Para que uma tv, quando se pode criar tudo você mesmo?
    E o mais interessante é que, quando a fantasia começa a se tornar desinteressante, a realidade continua ali,ó: no mesmo lugar.

    E quanto às estrelas, um principezinho certa vez disse: "As estrelas sao todas iluminadas... nao sera para que um dia cada um possa encontrar a sua?"

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  2. O brincar sozinho significa que por mais que eu tente brincar de modo normal, ninguém sabe do que estou brincando, entende? Poucos ouvem, ninguém escuta. É mais ou menos por aí.

    Na corda bamba não tem espaço para quatro pés. Sei bem o que quer dizer com isso, entendo e é muito bom saber disso, assim como é ótimo ter uma referência como o Jéfferson, mas isso não diminiu meu desespero, apesar de preencher um vazio à distância.

    A sensação de não ter pra onde fugir é quase que claustrofóbica. Me sufoca em palavras mal escritas, sempre que escrevo. No meu caso é a realidade que me faz recorrer à fantasia.

    Tô meio cabreiro, eu sei, mas é que ontem a estrela do Chávez se apagou...
    Mesmo assim brilha mais forte do que nunca, aqui dentro, no meu planeta, e em vários outros. Mesmo assim não deixa de ser triste. Falando em estrelas, é fácil encontrar a minha, mas exitem outras forças no universo, forças maiores. Essas forças parecem querer repelir ao invés de atrair. Talvez eu nunca vá entender, afinal.

    Obrigado, Bi'a. Keep shine, little star, and make the sunshine.

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