31 de janeiro de 2013

Poesia &m Letra (I)

Por: Rafael Mota
         


          

          Eufórico como de costume, hoje quando ouvia uma playlist cirurgicamente desorganizada e andava pela cidade, pensei em começar uma série para o blog. Com os fones já como partes inerentes dos meus ouvidos, Roger Waters parecia estar em minha frente a olhar diretamente pra mim, Renato Russo me dava tapinhas nos ombros e Gessinger me dizia com os olhos e com um sorriso sincero na cara: "Faça isso, garoto!" Pois bem, é o que farei. Não sei com que regularidade aparecerão novos posts, talvez semanalmente, talvez mais frequente que isso. Maldita euforia! As postagens irão conter letras ou trechos de letras de variadas músicas, variados estilos, variadas línguas e variados gostos, claro. Letras que me inspiraram e me inspiram, letras que inspiraram gerações, letras que ninguém conhece, poesias em forma de canções. Aliás, música e poesia são, há muito tempo, um casal perfeito. Eternamente entrelaçados em algum lugar sagrado. Pode ser que eu queira, vez ou outra, acrescentar alguma informação, alguma nota ou explicação nos posts, com o tempo isso tende a ficar mais comum.
          O objetivo da série é compartilhar de um pouco de cultura musical, às vezes um pouco de informação, quebrar preconceitos e principalmente compartilhar boas músicas, letras que são mais para refletir do que para simplesmente "curtir". Se eu não fosse apresentado à boa música desde pequeno, sabe lá o quão pouco poético eu seria, se é que seria, se é que sou. Benditos irmãos mais velhos que ouviam músicas de qualidade, não sempre, mas com frequência considerável. Graças a eles. Graças a internet. Graças ao antigo toca fitas que me salvava do tédio em casa e na carvoaria onde ia com meu pai e minha inseparável fita (gravada por mim mesmo) do Detonautas. Graças ao Detonautas, ao Pensador, graças ao Rock, graças ao Rap... Graças a variedade cultural.
          Hoje, mais do que nunca e menos que amanhã, percebo que uma boa música independe do gênero, se tem letra ou não (sem letra quer dizer instrumental, não entendam de outra forma), independe de qual país seja, com qual língua foi escrita ou de quais instrumentos foram usados na composição da mesma. Boa música é toda aquela que consiga passar a mensagem, o sentimento. Boa música é a que tem voz, é aquela que serve como o transmissor, conectando o músico ao ouvinte, passando a mensagem desejada. Postarei nesta série músicas vivas, que dizem por mesmas as mensagens que precisam ser ouvidas. Boas músicas graças à poesia e, muitas vezes, graças a euforia do poeta compositor. Espero que gostem.


                                                                                               ______


          Como este é o primeiro post da série, a primeira poesia em letra - que é bastante conhecida -, não acrescentarei muita coisa, até porque nem precisa, pois esta é bem autoexplicativa e ao mesmo tempo profunda. Cada um tem seu modo de interpretar, cada qual com seu ponto de vista, e essa é uma das magias da poesia. O fato é que esta música me inspira bastante, sempre que o aleatório de minha playlist me agracia com os versos do Legião eu começo a cantar sem ver, me empolgo e... Quem nunca? Amo a reflexão que esta música traz e quase consigo tocar a carga de energia escura e desprezo pela humanidade em cada estrofe. Talvez por isso eu me identifique tanto. Essa indignação pertence a mim. Não preciso falar mais, até porque tal música é a chave da inspiração para um dos textos que postei aqui no blog, não só ela, mas o desprezo para com a humanidade também. Desprezo tal que percebi quando me deram espelhos, assim pude ver meu mundo doente. Quem me dera, ao menos uma vez, que todas as pessoas refletissem sobre essa música, ou sobre qualquer coisa mais complexa do que futilidades do dia-a-dia.

                                                        
 


                                                                            Índios - Legião Urbana


Quem me dera, ao menos uma vez,
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer

Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês -
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do inicio ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.


                                                                                      Arrepios e mais arrepios.

5 comentários:

  1. Adorei a sua ideia para o blog, e acho que estas postagens serao,rs, musica para os meus olhos...!
    O romance que uma vez comentei con vc que eu escrevi tem muito a dever às musicas. Elas me foram muito importantes enquanto eu o fazia.

    Adorei.

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  2. Infames trocadilhos, hehehe, mais uma coisa em comum. Músicas tem mais influências em nossas vidas do que a gente pensa. Que você continue ouvindo essas músicas então, pq tem dado certo. (=

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  3. Kkkkkkk, pois é, os trocadilhos... =p

    Ah,obrigada pelo elogio.... realmente a musica me faz muito bem.

    Como diria Nietzsche:

    "Sem musica,a vida seria um erro."

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