Por: Thiago Vidal - Vermelho à Esquerda
Um jovem que se diz revolucionário mas não é comunista, é
um uma pessoa num quarto trancado com uma venda e de mãos amarradas. Não
enxerga seu caminho, seu objetivo, não tem ferramentas para atingi-lo, não sabe
o que faz, nem para onde vai. Não existe a luta por uma sociedade “mais
igualitária”, existem dois modelos conhecidos, um excludente e desigual, outro
igualitário, não existem outras gamas, porque são modelos de apenas duas
classes, classes estas que a História provou ter interesses antagônicos.
O grande capital nunca conciliar-se-á com os interesses de
seus súditos, pois se uma empresa abrisse mão de seus lucros, perderia seu
principal propósito que é o de lucrar cada vez mais. O intuito de toda
aglomeração de capital, das grandes empresas, é controlar nichos cada vez
maiores de mercados e a ideia de igualdade do capital é justo essa, uma
meritocracia forjada, onde a escola dos liberais, austríaca, Friedman, Mises,
acreditam seriamente que uma empresa criada em um dia pode concorrer em
igualdade com uma megacorporação dominante do mercado. Ignoram dois conceitos
básicos, a capacidade do capital de gerar mais capital, fazendo com que quem
tem mais dinheiro, sempre possa gerar mais riqueza, e a propriedade do capital
de distorcer e influenciar o próprio mercado.
Um exemplo do capital gerando mais capital são os bancos,
expandindo infinitamente sua capacidade de produzir riqueza e engolindo todos
os recursos a sua volta, tomando casas, carros, bens de inadimplentes. Outro
exemplo seria do capital distorcendo o mercado, a capacidade de manipulação e
propaganda faz com que um país onde as pessoas não tenham casa, e/ou comida,
consumirem produtos como tablets, como pode um mercado carente de produtos de
necessidade básico, ter uma demanda por algo dispensável a vida humana? A
resposta está no modelo do Antigo Regime: Existe em toda nação um Primeiro e
Segundo-Estado que consomem supérfluos, pois não tem o padrão de renda igual ao
do resto da população, a classe média alta de um país X, não tem um perfil tão
diferente da classe média dos EUA, eles respondem ao mesmo perfil e cumprem o
mesmo papel no capitalismo. Por isso há uma ideia cosmopolita dessa classe, no
capitalismo as fronteiras são mero referencial para pessoas, mas o fluxo de
capital é livre. Sendo assim, as sociedades não são divididas entre
nacionalidades e uma Divisão Internacional do Trabalho, cada país tem sim seu
papel de contribuição com o capitalismo internacional, mas no âmbito de pessoas
e mercado de consumo, há uma casta que consome e outra que é explorada.
Por isso em um mesmo país há uma classe que consome em
abundância, enquanto outra conta as migalhas, a diferença entre o
Terceiro-Mundo e o Primeiro-mundo, é que no Terceiro-Mundo, se você dividisse
tudo produzido sem mudar o sistema, não seria suficiente para todos, e no Primeiro-mundo, você poderia fartamente
manter todos em um nível digno de vida, sem haver ricos, nem miseráveis.
Inclusive, Marx previu a revolução socialista no centro do capitalismo, não em
sua periferia, por isso há um certo problema prático ao se levar em conta as
particularidades dos países da periferia, a sua luta pela emancipação
histórica, liberta-se da submissão internacional, tudo isso muitas vezes se
confunde com o discurso da esquerda marxista, mas sempre caem no vício da
social-democracia, acreditam que com uma autonomia internacional maior, poderá
desenvolver um capitalismo reformado, menos excludente. Só ignoram a natureza
do próprio sistema que tem como intuito gerar cada vez mais riqueza,
concentrando cada vez mais as riquezas entre um grupo cada vez menor de
indivíduos, sendo que a estrutura que possibilita essa produção de riqueza, é a
circulação da mesma, e quanto mais concentrada a riqueza, menos ela circula,
gerando as crises cíclicas do capitalismo. É como uma corrente elétrica, uma
vez interrompida em qualquer ponto, a energia deixa de fluir em todo o sistema,
como na Crise de 29, quando a bolsa dos EUA, condenou todo o capitalismo, é uma
propriedade do capitalismo ser supranacional, o Estado é mera ferramenta do
imperialismo, não existem um interesse do Estado, existe um interesse do
capital. Os EUA não têm de fato necessidade de petróleo, possuem uma capacidade
tecnológica de produzir energias alternativas, a necessidade de petróleo
coincide é com a necessidade de lucro de um mercado, assim como a necessidade
de lucro de sua indústria bélica. A maior prova disso é a desaprovação da
maioria da população das intervenções militares, não é um interesse da
comunidade que representa o Estado, mas das empresas visando seu lucro e
utilizando o Estado como ferramenta.
O imperialismo não tem bandeira, a burguesia não tem
pátria, o que importa é salvar seus investimentos, seus lucros. Por isso, não
deve haver divisões entre os trabalhadores, por isso o comunismo é
internacionalista, porque é impossível um país resistir sozinho a toda uma
estrutura internacional criada para proteger o capitalismo, diferente de quando
quase metade do mundo era comunista.
Por isso não se
deixe enganar, a social-democracia é um mero instrumento de iludir os
trabalhadores, mas não enfrentar os antagonismos históricos de classe, e
renegar a luta de classes, tem um custo muito alto, existe um momento em que
esses interesses não tem mais como seguirem paralelos, os projetos encontram seus
pontos antagônicos e é quando o Estado burguês ressurge ou vai a falência. Um
exemplo seria a Grécia, o Estado social-democrata faliu, não existem condições
de se manter como está, só há duas opções, uma revolução da classe
trabalhadora, ou aceitar passivamente todas as medidas de austeridade e a
refundação do Estado-liberal, sendo o Estado social-democrata também um Estado
essencialmente burguês, mas com suas limitações, uma armadilha para os
inocentes e despolitizados.
*
Há tempos venho planejando escrever sobre tal assunto mas, como já devem ter percebido, prefiro mais me expressar, aqui, através da subjetividade fictícia do que através da objetividade e compromisso da opinião. Curiosamente ao visitar uma das páginas frequentes em meu dia-a-dia, me deparei com este ótimo texto que expressa uma opinião muito parecida com a minha, quiçá idêntica.
São tantos os fatores que fazem do modelo capitalista insustentável que, se fossemos citar todos eles e explicar detalhadamente, escreveríamos alguns livros, porém acho muito importante que se cite aqui a sua incompatibilidade com a capacidade finita do planeta em oferecer recursos naturais. Talvez só este assunto já renderia muitas páginas de argumentação, mas isso fica para um futuro texto, de opinião própria preferencialmente.
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Texto escrito por Thiago Vidal e retirado do blog Vermelho à Esquerda.
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