2 de dezembro de 2013

Não.

Hoje renego a inspiração.

Porque ela se origina de uma dor profunda, dor aguda e psicótica, dor sem cura e solução.

Recuso-me a me inspirar por tal tristeza, pois só o que vejo é caos e escuridão.

Não. Hoje não vou me inspirar.


Porque a dor que sinto é por me ver, tão claramente, repleta de um eu que não o sou, de uma mentira criada, falsa e farta, personagem de uma vida em pseudo-cor.

Sou nada, alma perdida, corpo sem casa, mentira criada na ilusão de um amor.


Por Bia de SouZa







27 de novembro de 2013

Visão Poética

 
 
A poesia está nos olhos de quem lê,
Colorindo o coração de quem sente.
Leio o sentido poeta,
Presente,
Sabendo de cor
A cor dos olhos dela.
Imagem:
http://www.spiderwebs.com.br/2013/01/os-olhos-da-esperanca-sem-cor.html
 
 
 
Por Bia de SouZa

22 de outubro de 2013

Ymago

Os mortos,
agora,
já não mortos,
espreitam.
Os caminhantes, fragmentados
pareciam fantasmas.

por Thiago Augusto Machado

Soneto Desejoso

"Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino..."
A uma mulher - Vinícius de Moraes

Desejo-lhe assim, como uma alma
Que quer somente um corpo p'ra habitar
E nele o bom pecado desfrutar
(Aquele que acalenta e nos dá calma).

Sentir cada centímetro da palma
De vossas mãos queimando a me tocar,
Os dedos, delicados de se olhar,
Fazendo-me um piano, onde se espalma.

Desejo-lhe, e é por lhe desejar
Que venho lhe escrever só e moribundo
Os versos de um sonho infecundo.

Desejo-lhe, não posso mais negar,
E por lhe desejar assim, profundo,
Desejo-lhe como quem quer o mundo!

21,10,13

18 de outubro de 2013

Do amor de Baco por Psiquê

Psiquê e Eros, de Jacques-Louis David

Fui ao psicólogo
e ele, sorrindo, disse-me
que maneira mais fácil de se curar
de um vício incurável era
simplesmente arrumar outro vício;

precisava urgentemente
parar de beber, fumar e usar
outros alucinógenos e calmantes.


Foi então que eu conheci você,
e, por você, parei de beber e me drogar,
pois por você, minha maior droga,
eu fui me apaixonar!

13,10,13 

16 de outubro de 2013

Monday

     Inescrupuloso. Ininterrupto. Seriam palavras que resumiriam meu sentimento desconsolado de dormir às cinco e meia e ter que acordar meia hora depois. Se bem que, se tivesse algo para fazer e repetir, com certeza seria o que eu faria.
     
     Eram dez horas de uma noite fria e tenebrosa, que mais tarde, como um camaleão sob atitude suspeita, transformar-se-ia a ponto de perder sua essência e se dissipar, se perder e misturar-se a outras doravante percebidas.  Tudo era pacato e chato. Outros humanos se divertindo, digladiando entre si por um mísero pedaço de um farto banquete, dançando ao som de uma musica indesejável e inconveniente,  tudo normal.  Mas algo me fez sair desse estado de introspecção e fuga dessa débil realidade. Um ser de lábios cálidos, olhar gélido e pele morna. Merda. Aquela imagem chegou de supetão deixando a mim, um ser tão frio e pessimista, com sensações desconcertantes.
     A festa parou. Para mim é claro. Espere, eu já a havia visto em um sonho dois ou três dias atrás, e a mesma sensação. Dei um passo à frente, mas voltei. Recuei como um coelho sob o ataque funesto de um lobo dos Alpes. Mas, por quê? As mulheres eram tão previsíveis para mim, seus movimentos eu previa, seus pensamentos eu lia e seus lábios eu beijava, mas de forma apática e sem emoção. Sim, emoções eram proibidas.
    Mas, como a seta disparada por um exímio arqueiro, ela deu um passo em minha direção e disse, de forma bucólica e ambígua.
   - Oi.
  Bom, eu respondi com um ar letárgico.  Seguiu-se então um diálogo qualquer que não me convém falar-vos por agora.
Quando dei por mim estava falando sozinho, com um copo de whisky e uma imagem inculta no fundo do copo. Enquanto isso ela estava no outro lado do pequeno salão conversando com algumas pessoas.
   Mas espere, em um momento abrupto ela se desprende daquele grupo, daquelas pessoas, e corre em direção a um dos quartos da casa. Ela passa por mim e o reluzir de uma lágrima maculando seu rosto limpo, deixando um rastro desastroso e a sulcar sua gélida face,  incomoda-me os olhos. Em um instante sutil e maquinal, como se não houvesse outra opção eu a sigo, e ao entrar no quarto, a única imagem que me recordo é a de seu corpo tristemente mórbido sobre a cama.
    Sentei-me ao seu lado. Perguntei-lhe o que havia ocorrido. Ela, por sua vez, com uma voz trêmula, cujas sílabas eram interrompidas e dificultosas pelo correr das lágrimas, respondeu apenas com um apertar, aflito, dos olhos e da minha mão. Sinceramente, talvez o motivo de fato não me importasse muito. Acheguei-me ao seu lado e ela colocou sua cabeça em meu colo. Senti o deleitar de seus cabelos apátridas descansando sobre a superfície trêmula das minhas pernas. Concupiscentemente  deitei ao seu lado, e vendo a escuridão de sua cabeleira voraz a me aliciar fui sorvido para uma dimensão desconhecida, restando apenas à sensação, cumprir seu dever ingrato de desvendar o que era o objeto incômodo preso ao meu punho, que desconcertava nossas atadas mãos.
Como um desalmado que acaba de voltar do hades, acordei procurando o precioso ar que eu tanto precisava, já irritado - ou totalmente amedrontado ainda não sei – olhei para o despertador que estava a me aborrecer no bolso do alheio parente ao meu lado. Eram seis horas de uma segunda-feira pacata e rotineira.  Olhei para o lado direito, com certo desconcerto no pescoço, e contemplei um grupo de pessoas eufóricas olhando em minha direção e com gritos ensurdecedores diziam que alguém havia acordado. Cinco anos em coma? Sim caros leitores, eram seis horas da manhã de uma segunda-feira sem escrúpulos.

Por: Victor Vinícius A. Mendes

9 de outubro de 2013

As coisas bonitas da vida

 
 
Tenho vontade de escrever sobre coisas bonitas. Sobre as cores fortes das flores nos jardins da praça, sobre o arco-íris em dias de chuva, sobre a relva molhada pelo orvalho da manhã.
 
Tenho vontade de escrever sobre poemas rimados, cantados e românticos, repletos dos mais vastos sentimentos, que encantam a alma com um simples verso.

Tenho vontade de escrever sobre as pessoas, sobre os sorrisos ao ouvirem uma piada boba, sobre os abraços apertados quando matam a saudade, e sobre as borboletas no estômago ao encontrarem a pessoa amada.

Tenho vontade de escrever sobre o sol, sua luz e seu calor, que enchem a Terra de vida e fazem brotar vida da terra. Escrever sobre os dias negros, sem luz, daqueles bem frios, que nos deixam com aquela preguicinha gostosa, boa para assistir a um filminho com pipoca e guaraná.
 
cores

Tenho vontade de escrever com lápis de cor, cada palavra num tom diferente, criando uma mistura visual tão grande a ponto de ficarmos tontos. Riscar as paredes com tinta, pincelar rostos com maquiagem, tornando a vida uma verdadeira brincadeira de criança.

Tenho vontade de escrever sobre as coisas belas existentes.

 
 

 

Mas não escrevo. Porque sei que não sou capaz de captar a beleza e eternizá-la em meras palavras bonitas.


Por Bia de SouZa

Imagens:


8 de outubro de 2013

Fado Elegíaco

Irmãos Hypnos (sono) e Tânatos (morte)
John William Waterhouse, 1874

Sinto a morte
como tentadora irmã,
onde eu possa em teus ombros repousar;

Vejo gélidas
tuas mãos com dedos finos
os meus cabelos ralos afagar;

O teu canto
embalando o meu sono
que chega levemente e sem cessar;

No teu colo
eu me deito sem pudor,
pois sei que ali não vão me perturbar;

E ali sonho,
como quem escreve poemas
e tem somente versos a deixar!

8,10,13

Soneto oriental

"Um Oriente ao oriente do Oriente."
Opiário - Fernando Pessoa

Os mesmos de uma gueixa, acentuados
Nas pontas longas como dois floretes,
E ornado por vermelhos ramalhetes,
Teus olhos deixam os meus orientados.

O céu, p'ra onde eles são levados,
É um forte escarlate em gradientes
Tão belos quanto os céus nos horizontes
Que cercam o oriente, ensolarados.

Teu rosto, com os colos enevados,
Parecem finas louças sem banquetes,
Tão puras quanto o céu e seus tapetes.

Assim meus olhos seguem encantados,
Observando-lhe sempre calados,
Como se lessem clássicos chineses!

07,10,13

6 de outubro de 2013

Sonhar Em Voar Sufoca Seus Sonhos


Não espere que eu vá chorar
Nem que eu perca a cabeça
Pois no meu eterno desespero
O fim é apenas uma solução

Não espere que eu me transforme
Nem que eu me despeça ao partir
Pois cada vez que eu me mudo
É o início de uma nova despedida

Não espere que eu seja mais
Nem que eu voe até o sol
Pois cada vez que me movo
Dou um mergulho ao centro da Terra

Não espere que eu tenha medo
Nem que eu me guarde em luto
Pois o inferno é uma realidade
E o paraíso uma aposta às cegas

Não espere que eu vá morrer
Nem que eu me inquiete com isso
Pois de todos os meus anseios
Esta é a única certeza

Não espere que eu te afirme
Nem que eu procure o culpado
Pois se tal culpa existe mesmo
Minha parcela se equivale a sua

Não espere, não se importe
Nem se apegue ou me siga
Pois quanto mais profundo o mergulho
Mais se alarga o vácuo sobre meus pés

5 de outubro de 2013

Canção da Liberdade



    Perdidos na infinidade do espaço eram apenas mais dois. Vagando pelo vácuo entre as frias e solitárias estrelas, estavam bem distantes entre si, e ao mesmo tempo muito próximos. Sonhavam com o novo Universo, onde as leis naturais transcendessem a simples gravidade. Queriam ir além, e sonhar também. Não queriam. Não queriam orbitar estrela alguma, e sem um Sol de amor paternal, se desligavam de seus sistemas.
   
    Ansiavam algo mais que a velocidade da luz, além da escuridão, sem destino, e certa vez conseguiram. Quase ao mesmo tempo, os dois frearam-se de repente, pegaram outra direção qualquer, a direção que queriam, sem freios ou faróis. Queriam aquilo tudo, sem querer muita coisa, e quase sem querer se encontraram perdidos, já quase sem fôlego. Um alicerce, um firmamento. Um era jovem e belo, um planeta ofuscado, sufocado por grandes planetas gasosos, sem vida, e com todos aqueles anéis que pareciam prendê-los em suas tristes e vazias existências. Era um planeta orgânico, fluido, radiante. Transpirava o suor da vida, e por onde passava, deixava um leve aroma de solidão, que de tão suave, era quase imperceptível. Seu interior vulcânico era instável, mas ele aprendeu a controlar esse problema de forma ímpar. Sua crosta era rochosa, mas nunca pareciam ser as mesmas rochas, numa constante metamorfose. Tinha um brilho incomparável. O outro, um planeta recém-nascido em corpo de planeta com milhões de anos. Cheio de vida, ansiava a morte de tempos em tempos, por acreditar que existir ou não existir eram faces da mesma moeda. Acreditava que nada, em momento algum, fazia sentido, e que nem precisava fazer, nem mesmo ele próprio. Tinha uma obscuridade travestida e intangível. De certo modo, se completavam. Pareciam saber disso desde que se encontraram, e pareciam saber o porquê. Dois ímãs de equivalente poder. Mentes instáveis e magnéticas. Suas engrenagens não seguiam nenhum padrão de funcionamento e seus motores não clamavam por combustível. Não estavam nem aí para quem deu  sopro inicial, se é que existiu o sopro, e se é que existiu alguém. Conversavam sobre isso. Compartilhavam dos mesmos devaneios. Perguntavam um ao outro aquelas coisas banais que, por fim, faziam toda a diferença. Amavam-se. Eram irmãos sem porquê. Perguntavam-se o porquê, mas não queriam nem saber. Admiravam o acaso. Na verdade, indagavam e murmuravam sobre tudo sem qualquer pretensão de saber. Necessitavam acentuar de modo curvo os finais de cada frase, apenas. Protegiam um ao outro em meio a tantas tempestades de meteoros da sua quase estrada no meio do nada, que sabiam ser árduas, porém passageiras.
   
    Eram assim, sem começo ou fim, e assim seguiam, lado a lado, no sentido contrário ao centro do universo, cada vez mais distantes do suposto início, cada vez mais perto do fim. Intensamente, mas sem aceleração, vagavam pelo vazio cada vez mais frio, sem preocupações ou delírios nostálgicos. Talvez ainda estejam por aí no vazio, cheios de si, ou em algum universo sombrio. Talvez tenham encontrado o fim dos tempos em uma despedida. Talvez tenham encontrado o inferno sagrado, um lar. Quem sabe ainda estejam por aí, sem querer estar ou ir, jogando cartas e sorrindo numa cela qualquer feita por leis naturais, numa prisão de sonhos, num quase lugar, onde ecos eternos de desespero melodiam numa canção da qual se ouve muito. Uma canção nunca cantada.

4 de outubro de 2013

Maré

Un bardo naufragado, 1883, Carlos Haes

Minha memória
é um mar raso mas extenso
onde aves raramente vêm pescar,

as que vieram,
por não encontrarem peixes,
pousaram em um barco a navegar;

sendo tão rasa,
minha mente sem corais
deixou o velho barco naufragar,

então as aves
juntas levantaram vôo
assim que o ferro poes-se a enferrujar!

Minha história
é um vaso com incensos
onde a água nem boninas fez murchar!

20,09,13

29 de setembro de 2013

Não



Eu não procuro um amor.



Não procuro alguém que me dê o carinho de que tanto necessito, que me proporcione risadas durante meus sonhos, que faça os meus olhos brilharem no escuro.

Eu não procuro por abraços apertados, cafunés de despentear cabelos, beijos acalorados e nem conchinhas nos fins de semana.

Não procuro por momentos felizes, de simplicidade sem preço, repletos de particularidades de nós dois.

De risadas escancaradas, conversas em silêncio, amor sem adjetivações.
Não, eu não procuro um amor.

Amor é daquelas pequenas coisas intrínsecas ao nosso destino, como uma borboleta que está fadada a passar pela mais bela de todas as metamorfoses.

É a mistura de um não sei o quê de sentimentos, ações e omissões, uma homogeneidade disforme, sobre a qual nada se sabe, mas se tem certeza de ser a oitava maravilha do mundo.
 
 


É... Eu realmente não procuro um amor.

Porque tenho você.

E não há sensação melhor no mundo do que não precisar de procuras.
 
 
 
 

Por Bia de SouZa
 
Imagens:



Por Justiça



Existe uma linha nítida
Como a do bem e do mal
Como a da vida e da morte
Porém difícil de se enxergar

Não se pode estar sobre ela,
Pois não há equilíbrio ali
Se enxergá-la e não escolher
Cairá do lado mais fraco

Um lado está em chamas
O outro queima em labaredas gigantes
Alguns tentando apagar,
Outros, fugir
Muitos não sabem aonde ir
E, após jogarem gasolina,
Os heróis aparecem para as fotos

Meus heróis tem morrido por isso
Desde os tempos de Cristo
Tem alguém apagando a linha
Tem alguém bebendo seu suor
Tem alguém escondendo as cartas
Trapaceando com mangas curtas
Tem alguém que não deve existir

Tem alguém aí?
Entre sem bater
Seja bem-vindo
Muito prazer
Este é o lado mais forte
Que está prestes a desaparecer
Lutaremos lado a lado
Sem nada mais a temer
Até o dia em que a linha se vá
O dia em que a justiça não será apenas uma palavra
E então tocaremos nossos sonhos

Jesus Não Voltou E O Pão Não Se Multiplicou


Queria ser Jesus por um dia
Pra entender tudo o que faço
E até já tenho os pés descalços
Era bem o que eu queria

Queria ser Jesus por um dia
Pra passear pelos desertos
Mas nem sei o que quero ao certo
Pois esta noite está tão fria

Queria ser eu por um dia
E ter alguém pra me escutar
Mas nem conseguem me enxergar
Nunca terei tais alegrias

Queria que desprezo fosse comida
Que vinho fosse água
E que esse beco, a saída

Queria ir
Queria sair
Não quero ter
Preciso comer
Queria agora
E se é que chegará a hora
Eu queria apenas ser
Ou, que seja, morrer

Eu queria ser
Mas sequer posso querer
Eu já nasci com a cruz
E eu não sou Jesus

24 de setembro de 2013

Ol-fato



O cheiro da chuva entra pelo meu nariz e vai se ramificando por todos os meus poros, minhas veias, minhas células, como se capaz fosse de me fazer florescer.


O cheiro de terra molhada me inebria e me hipnotiza, como um pêndulo mágico dos mais eficazes, daqueles dos mais renomados encantadores, repletos de magia e misticismo.


Mas não há terra molhada. A chuva cai sobre o asfalto quente, 30 graus de pura civilização, fazendo a fumaça branca subir pelos ares, formando desenhos tortos e sem sentido.


Estranhamente, o cheiro permanece. Como se tudo cheirasse a terra molhada, lembrando-nos que a terra construída nada mais é do que terra originária modificada.


Agora, a chuva cessa e o vento refresca o ambiente. O calor infernal de há poucos segundos se abranda lentamente, deixando espaço para que a respiração volte a funcionar com perfeição.


E voltando a respirar, percebo ainda mais forte o cheiro de terra molhada, inundando-me por inteiro, como numa verdadeira tempestade tropical.




21 de setembro de 2013

Meditação Literária


"Creio nos livros, todos Poderosos,
Criadores das mais belas obras humanas,
E em seus pais, magníficos e mágicos, nossos Autores!
Os livros foram concebidos pelo poder da imaginação,
Nasceram de nossas escolhas,
Não padecem jamais, frente a nenhuma adversidade.
São muitas vezes crucificados, julgados e calejados (mas isso faz parte!)
Desceram para atingir a todos que queiram ler
Ressucitam a cada dia!
Subiram ao Céu Literário.
Estão assentados nas mais belas estantes das bibliotecas do Saber,
Donde hão de vir a servir a novatos e veteranos.
Creio na Literatura,
Na Santa Criatividade,
Na comunhão de ideias,
Na remissão dos pecados linguísticos,
Na ressurreição das ideias,
Na Vida Eterna...

Amém."


http://www.sebodomarcao.com.br/Images/LivrosAvalizacao.jpg

16 de setembro de 2013

Sob os auspícios divinos



Desgraçada...! Surge de um além tão próximo, como um fantasma rebolante e vira meu mundo de cabeça para baixo. Me mata, me devora, me consome num piscar de seus olhos grandes, sorrindo tão sínica ao ver as labaredas do circo em chamas.

Você tranformou a minha paz num inferno dantesco. Não. Num inferno maquiavélico, gregoriano. Você, com essa sua verdadeira boca do inferno, capaz de dizer bombas atômicas com um simples sorriso branco, de uma beleza satânica e repleta de saliva venenosa.

Sua Víbora de cabelos longos...! Transborda dos meus olhos lágrimas do mais puro desamor, da decepção de um dia ter acreditado que não haveria mais mentiras, mais ocultações, mais atos falhos milimetricamente pensados.

Você conseguiu desaparecer por sonhados dias, dias de esperança ao meu coração partido, momento em que pensei retornar ao meu ponto de equilíbrio. Ao meu viver em pequenos momentos de felicidade.

Mas Fênix! Resurge, e maltrata, desmata o que morto estava, sabendo que pode causar todo o furor quando bem entender. 


Mas escuta - Maldita! - Rapariga de estonteantes olhos viris: ser cega ao próprio veneno é o que te condena.

É Medusa, mas o sol do luar não te fez perceber que a sátira interior é o que, auspiciosamente, te petrificará.



O nego e a cigana

Segue seco
o rato no beco
que segue sem medo
de se amedrontar.

Segue nego
subindo no gueto
mas segue sabendo
que vai apanhar.

Segue seco
com opala preto
subindo no gueto
"Eles vão te rachar"

Segue o merengue
do circo mambembe
cigana contente
quer se aproximar

Cigana contente
seguindo em frente
mas segue bem crente
que o amor "tá" no ar.

Então sobe nego
vá pedir arrego
o circo é o preço
pra se libertar

Ô cigana
Cuida desse nego
Porquê esse nego
Vai é te beijar.

Ô neguinho
Cuida da cigana
Porque ela te ama
e quer se casar.

Bela




Era Bela.
De uma beleza estonteante, de parar o mundo.
Era assim, e dela emanava a beleza de ser feliz.
Mas não só bela se fazia, corpo esbelto e juvenil.
Era animal.
Tinha nos olhos a destreza de um passarinho, a esperteza de uma pequena raposa,
A inteligência de uma coruja branca.
O amor de uma loba ao luar.
Era Bela...
Sentimentalmente forte, repleta de trejeitos e jeitos próprios,
Uma beldade de alma!
Daquelas raras, encontráveis nos mais altos picos do mundo,
Onde apenas os merecedores de tamanha dádiva alcançam com fervor.
Era Bela.
E por bela ser,
Merecia toda a beleza do mundo.

11 de setembro de 2013

Ilha desconhecida

Capa para o livro O Conto da Ilha Desconhecida de José Saramago

Apaixonei-me por uma sereia; ser fantástico de minha ilusões sonoras! Apaixonei-me pela possibilidade de ela ser uma sereia, e com teu canto fazer-me navegar por mares nunca dantes navegados por falta de coragem; os mares de meus sonhos, marés de ilusões que vem e vão, banhando meu ser com todo o tipo de esperança; esperança de um dia ser tudo o que quis e não fiz; com tuas palavras doces e densas, feito uma goiabada cascão, que se casa bem com o leve queijo de minha poesia infantil, com tuas palavras, repito, repito cada imagem que vejo brotar de seus lábios inertes, subir aos céus de meus desejos, e chover feito garoa em meus lábios, terra fértil para novas poesias, dedicadas sempre a ela, pois plantadas, cultivadas, regadas e ensolaradas por ela; com a madeira que emoldura seu belo rosto em quadro, faço a regata que um dia nos levará além mar, além de um horizonte sonhado, pois será um vivido, ultrapassando a barreira das possibilidades lógicas e literárias; com suas curvas. arquiteto nossa ilha deserta, com teus pelos crio a flora, com com teus olhos um arquipélago e com  tua voz, toda fauna imaginável; dos teus cabelos faço a rede, onde nas noites de verão passamos a contar as voltas das ondas, furiosas de inveja, contamos as folhas que caem de ternura só para nos proteger do frio, que embora seja pouco, castiga, faz tremer, se confundindo com os calafrios de prazer que temos juntos; enfim, quando tudo parece perfeito, ou ao menos satisfatório, eis que nosso abrigo, nossa ilha desconhecida, nos mostra que os sonhos não são coisas fixas, fixações cruéis de nossas mentes carentes; eis que, em verdade eu vos digo, eis que nossa embarcação começa a zarpar rumo a aurora que, vagarosamente, misturando-se em gradiente com o azul escuro do mar, surge apontando uma nova direção, onde encontraremos um mundo novo, onde nós, por sonharmos e realizarmos juntos, renovaremos nossas esperanças, pois lá é terra fértil, cujo nome deram Literatura!

8 de setembro de 2013

A Portuguesa


                Com alguns anos a minha frente, encantou-me justamente pela sua jovialidade. Seu sorriso, embora de aparência infantil, emanava, subliminar, toda a tranquilidade que acumulara durante os anos; era um sorriso simples no gesto, mas forte na expressão.
               
                Seus olhos pequenos pareciam sustentar, há tempos, um sofrimento distante, vago, talvez herança de sua terra natal, cuja musica popular é o fado, onde as notas nascem de uma lira que toca a si mesma. Porém, estes mesmos olhos, embora nostálgicos, não deixavam de emanar o brilho da novidade sobre uma nova terra fértil que adubara com seus sonhos, regara com suas esperanças e viu ser floreada pelas suas alegrias em auroras, tudo isso delicadamente enfeitada com suas lembranças de outrora. Jamais se esquecera de onde viera, de onde nascera. Trouxera de lá tudo o que lhe foi dado e ensinado, e como aprendera, ensinava-me, e isso a tornava ainda mais bela!

                Possuía uma estatura baixa, e por isso frágil. Quis protegê-la fisicamente assim como ela me protegia psicologicamente. Ao lado dela sentia-me seguro como um homem que se sente seguro em relação a si mesmo, e não preso à ideia de que a sua segurança depende de outrem; sustentava-me a ela, não como um telhado sobre pilastras, mas como um homem sobre um sonho; o que lhe mantém erguido não é o sonho em si, mas a própria fé que ele tem em seu sonho. E foi tentando protege-la assim, naturalmente, que acabei por me abrir aos poucos, gradativamente, enquanto ela fazia soar minhas notas feito um pianista, tecla a tecla, uma hora branca, outra hora negra! Abri-me a ela e ela tocou-me, razoavelmente, tocando-me apenas o tanto que eu me abria, sem violações ou abusos, até nos tornarmos duas cores em gradientes, nas quais circulavam algumas variedades tonais, como uma palheta girada por um pintor entediado.

                Caminhamos assim pelas ruelas da cidadezinha, visitando museus, lojinhas de souvenir e etc. Houve um instante em que ela desejou comprar uma rede de balanço, neste mesmo instante eu quis ter braços longos; estranha sensação, mas de um prazer sereno e casto. Seguimos passeio até um alto gramado, onde descansamos a vista com a paisagem mineira: casarios, arvoredos, uma longa e única cadeia de montanhas, uma grande igreja a frente de uma pequena escondida que se mostrava tímida. Não chegamos a presenciar o momento mágico que é o por do sol visto naquele exato lugar, estávamos lúcidos, calmos, respirávamos em silêncio, olhávamo-nos de vez em quando, trocamos algumas palavras, mas poucas, rimos claro, mas baixo, tão baixo que pudemos ouvir o reclame de nossos estômagos esquecidos, e então constatamos que era hora de voltarmos para casa e almoçarmos, enfim.

                No caminho, ainda conversamos um pouco, intermitentemente, entre risos e silêncios. Ela já estava a planejar sua partida quando um jovem nos parou com uma pergunta. A partir deste momento, tudo se passou em uma questão de segundo, e quando dei por mim, estava acenando-lhe com a mão direita, e ela respondia com a esquerda; assim nos despedimos, como quando nos conhecemos, com um único gesto repetitivo e brando, feito sem pensar. Não traçava um reencontro breve, e presumo que ela também não; estávamos contentes por termos nos conhecidos, e creio que isso nos bastava, naquele momento. 

A Visita

Visitei hoje um menino
Cheio de alegrias
Carregado de sonhos
Bem no fundo de mim mesmo

Deitei e olhei pro céu
O mesmo céu azul de antes
Não este fatigado e cinza
Um céu que brilhava sonhos

Vi um menino ingênuo
Que brincava descalço na rua
Que se emocionava ao sentir a brisa acariciar seus cabelos
Que esperava ansioso a chegada do seu pai cansado

Vi também um pingo de tristeza em seu olhar
Cabisbaixo no caminho da escola
Sem muitos amigos
Mas cheio de esperança

Vi um fogão de lenha com panela de feijão
Uma fortaleza debaixo da cama
Onde nada nem ninguém o faria mal
Vi também sua inocência indo embora um dia

Vestiu-se de preto, ficou de luto
Pela morte de si mesmo
Mas nunca chorou

Seus cabelos cresciam e o deixavam mais forte
E então insistiu na pureza já quebrada
Mergulhou dentro do seu coração
E encontrou lá um menino no canto
Querendo ver de novo a beleza invisível

Do canto de um pássaro
Do verde do seu quintal
Da musica que cantava o rádio
Do alvorecer
E até daquele espinho que se encravou no seu pé

E assim eu retornei
Dizendo: "Olá" pr'aquele garoto
Que eu visitei
E que eu trouxe de volta comigo



Por: Guga Ferreira, em Canto, Prosa e Poesia

Breve

Y nos conocemos en este plano
Y en otro no
Y en otro, no existimos
Nuestro amor solitario
Brilla en el dia, mas que el sol,
Que vos y yo
Y en otro plano existimos
Y no






7 de setembro de 2013

Tédio das sombras

por Jéfferson Veloso.


Nada.
É exatamente o que se passa na minha cabeça.
Pensamentos vêm, vão, mas nenhum fica.
O tédio, então, predomina.
Tédio.
É como se minha consciência estivesse em coma profundo, deixando apenas minha capacidade de movimentar. E é isso que está acontecendo.
Quando o tédio vem, imagino-me andando na rua movimentada e, aos poucos, as pessoas vão sumindo... os carros somem... os prédios deixam de existir... o chão não está mais ali.
E o breu toma lugar de tudo deixando minha sombra em tons esbranquiçados.

Coitada és tu, pobre sombra
condenada a vagar junto de mim.
Tanta coisa para conhecer neste vasto universo
e você aí,
incumbida de me fazer companhia.
Para todo o sempre.
Desculpe o fato de me lembrar de você apenas quando estou entediado. Isso não vai acontecer novamente.
Eu te dou atenção...
...e você me traz inspiração.

6 de setembro de 2013

LII

Os sofrimento do jovem WertherJ. W. von Goethe

Os poucos, longos anos que vivi
Passei-os estudando sobre a vida,
E toda experiência adquirida
Guardei-as para usá-las no porvir.

Casei-me à teoria que sorvi
Amante literário sem guarida,
E por casar-me assim, sem ter medida
Da prática do amor, jamais sorri.

Por certo, risos falsos eu menti,
Copiosamente a esta desdita:
Sobre uma folha parda e envelhecida,

A minha história eu mesmo a escrevi,
E mesmo tendo-a escrito, nunca a li,
Nem mesmo esta epígrafe vencida!

6,9,13


5 de setembro de 2013

Exemplar

Por Bia de SouZa


Ela pensava na vida. Parada em frente à TV sem som, ela pensava em todas as coisas pelas quais já tinha passado nesses poucos, mas duros, anos de existência. E mais, pensava no que haveria lhe aguardando na virada da próxima esquina.

Tinha sido uma garota exemplar. Um exemplo de tudo aquilo que é condenado e abominado pela sociedade pré-conceituosa e desprovida de raciocínio. Ela tinha passado pelos piores momentos que alguém poderia imaginar, sempre de cabeça em pé e deixando apenas que seu travesseiro sentisse as lágrimas quentes daqueles pequenos olhos azuis. Ela havia provado o amargo do mundo, sem deixar de expressar sempre uma palavra doce para cada espinho que lhe atiravam.

Tinha sido forte. Como uma rocha, havia aguentado as tempestades de palavras, os trovões de opiniões, os ventos da discórdia. Permanecera firme, concreta, belamente intacta.

Mas seu espelho interior começava a rachar. Tantas batidas no casco visível de sua pele haviam criado pequenos buracos, imperceptíveis aos olhos nus e crus, mas que aos poucos começavam a deixar a água ardente infiltrar naquela alma calejada.

Naquele momento, ela não sabia o que fazer. Para onde ir.

O que sentir.

Sentia que a cada alargamento da infiltração, mais vazia se encontrava a sua cápsula de vida.

O futuro não mais lhe pertencia. Nem mesmo um amigo distante ela poderia considerá-lo. Não o conhecia. Não sabia de sua existência. Ignorava-o como se ignora o que há fora da nossa bela e estrelada galáxia.

Tinha o passado como seu único trunfo. E de mãos dadas com ele foi que deixou para trás a programação sem sentido da televisão e virou a esquina do desconhecido.


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4 de setembro de 2013

Lira I


                                 POETA LÍRICO

Como o belo quadro
Posto em desvantagem,
Detrás a tua imagem
Desenha outro quadro.

Se eu venho pintá-lo
Com meus pobres versos,
É pra pendurá-lo
Em meu universo.

De cima lhe desce,
Em tons de dourado,
Cobrindo-lhe a face,
Teu manto sagrado.

Olhando Jesus,
Os olhos cerrados,
Tão tristes, sem luz
Estão sombreados.

Aquele que pode
Perfumes sentir,
A luz desta ode
Está a refletir.

O extremo dos lábios,
Num gesto impreciso,
Esboça sem sábios
Um falso sorriso.

Descendo uma a uma,
Sobre o belo busto,
As contas em bruma
Reluzem de susto.

Impávido o tronco
Exibe o rosário,
Cobiça do bronco
E bravo corsário.

De tão reluzente
Eu vejo teu manto
Do corpo, decente,
Cobrir-lhe de encanto.

Vou teu quadro belo,
Maria tão pura,
Guardá-lo singelo
Na literatura.

3 de setembro de 2013

Desejo sinestésico



Cansada dessa vida pacata
Lisa e chata
Cheia de m--n--a--h--s   u--s--s
                o--t--n--a   r--s--a

Que ainda se acham 
Na época da União Soviética.
Vontade de um morango
Repleto de chocolate

Doce de abacate
Para colorir o preto e branco
Das noites claras
Sem luar.
Por Bia de SouZa

2 de setembro de 2013

Sermão das entranhas

O Sermão da Montanha - Carl Heinrich Bloc - 1890

"Escrever é traduzir. Sempre o será. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua"
José Saramago

"Escrever é tirar sangue com as unhas.(...) Mas tem que sangrar abundantemente."
Caio Fernando Abreu

Em verdade eu vos digo;
aqueles que não escreveram, morreram mudos de fome;
escrever é engolir as próprias palavras, é engolir a si mesmo,
é sentir vossas palavras, guardadas por anos em vossas mentes,
arranharem vossas gargantas, queimarem feito ácido vossos estômagos
e rasgarem vossas entranhas, saindo feito fezes por entre vossas pernas;

Em verdade eu vos digo;
escrevam, por mais que vos doem as fibras carnais,
por mais que vos doem vossos ossos, vossos músculos, escrevam,
pois o vento que rasga é o mesmo que semeia,
o resto é vaidade, e tempo que passa;

Em verdade eu vos digo;
semeiem vossas palavras, adubem-nas com o esterco
que escorre de vossas mentes, reguem com o suor de vossos lábios,
e verão nascer rosas, crisântemos, cravos, margaridas, anêmonas,
antúrios, amarílis, angélicas e lírios, lindos lírios em campos desmaiados;

Em verdade eu vos digo, vos repito;
com vossas flores adornais vossas almas,
pois ela é somente o que tens de valor,
onde fostes nascer, subtilmente plantados,
onde fostes viver, cruelmente cultivados,
e onde morrerão, enfim devorados;

Pois o resto são flores e  vento que as passam!

All you need




It's so weird when you have nothing to say with words
But so much to express with silence.

In moments like this, you better sit down,
Drink coffee
And 
Write.

Write as much as you can.
Because writing is a way to express too much
Without the need of tongues, lips and 
Said words.

All you need is your feelings.
Writen by the voice of your
Silence.


By Bia de SouZa



Simplicidade


1 de setembro de 2013

Poeminha de última hora




Queria um poema fofinho...
Minha cabeça dói
E você me enche de beijinho.
E diz que nada rima com "dói"
Só "constrói" "destrói", "corrói" e "Caloi".
Ah... nessa busca maldita, encontrei
- que lindinho!
Meu super
Herói.


Fim.




Por Bia de SouZa


31 de agosto de 2013

Ideologia



Esse negócio de criar 
ideais
 que não se transformam em 
ideias 
é ideologicamente
chato.








Por Bia de SouZa
 

Destinos










Cada macaco no seu galho
Cada nariz no seu palhaço
Em cada laranja, o seu bagaço
E cada puta no seu caralho.


Cada um dá o nó na corda que o enforca.

27 de agosto de 2013

Chover


Por Bia de SouZa

Sinto falta de você, Chuva...
Para levar pelas ruas asfaltadas todo o meu entristecer.
Sinto falta da sua pureza, da sua simplicidade
E mais ainda da sua condecendência com as lágrimas dos meus olhos.
Você, Chuva, que se personaliza tão mutante
Enche-me de admiração e de algo parecido com uma inveja boa
Pois é através de você que tento mutar-me num ser mais condizente.

Sinto sua falta.
Do seu limpar da minha alma
Do seu inovar em minha realidade
Do meu imaginar a cada gota que de você vejo cair.


Simplesmente: sinto saudades.



http://confrariadapoesiainformal.blogspot.com.br/2011/12/para-os-dias-de-chuva.html