Era um garoto.
Moleque. Mais uma criança. Filho de dois perdidos por aí, no mundo. Cresceu
forte, à base de alimento e suor da família, no decorrer do tempo que passava
em seu dia a dia.
Mãe trabalhadeira,
mulher forte, mais uma guerreira.
Pai motorista, subindo e
descendo serras e ladeiras, na boleia dos caminhões de todo tipo de dono.
Todo santo
Biotônico de cada dia, fazia dar fome àquele menino, que comia e que crescia.
Fez nascer no sangue das veias, um pulsar ativo, de mais uma criança que só queria brincar de bola de gude, bola de meia.
Bendito
líquido preto, amargo e forte, sua avó quem apresentara. Droga lícita, desde a
infância consumida, hoje pra ele, se torna necessária. Pois o faz lembrar de alguém da
família, vovó Aparecida, que para explicar a falta que sentia, faltam-lhe poucas
e boas palavras.
Vovó
Aparecida. Indiazinha criada na roça. Sem muitas noções de vida, com seu
sorriso sempre trazia uma boa prosa, “quentand’no Sol’iôtrodia”. Antes pegar o sol que já
nascia n’outro dia, vovó Aparecida assistia Teletubbies enquanto a água do café
esquentava. Era pão de queijo, bolo, pão de sal e margarina que ela, com muito amor
envolvido, preparava, por ter o prazer de ter acordado mais um dia.
O garoto não
sabia o porquê, mas em sua cabeça vez ou outra criava a vontade de perguntar à mãe:
“Posso
ir na vovó Aparecida?”
“Pode, mas quando voltar, “compra” pães.”
“Pode, mas quando voltar, “compra” pães.”
E ele lá ia,
correndo ou de bicicleta, ver vovó. Porque ela era legal com ele. Porque ela
havia deixado um copo cheio de café esfriando pra ele quando chegasse. Porque
ela deixava ver desenhos até a hora do almoço sem ter que lavar as vasilhas, pois pra ela, criança não gostava de lavar vasilhas.
E
principalmente, porque de felicidade e curiosidade ele ria, de ver uma dona velhinha
gargalhando sem vergonha de mostrar a falta de dentes, e ele com vergonha
porque estava de janelinha. Era uma amizade livre e segura, que sabugos de
milho por ventura, que por sua avó lhes foram entregues, para virar nas mãos do
garoto, uma grande historinha de aventura. Era ela quem lhe dava tudo que podia, mesmo que para ele, nada precisava para estar em sua companhia.
“Vai
no armazém e compra amendoim pro seu vô”. Vovó sempre pedia.
“Oba! Vou comer amendoim com o vovô”. O garoto respondia.
“Oba! Vou comer amendoim com o vovô”. O garoto respondia.
Ele só queria
saber de vê-la todo dia, e depois da escola sempre corria para os braços da
vovozinha. Sua capacidade de apreciar os simples, seu afeto por coisas
pequenas, fazia valer à pena o passar dos tempos em sua casa. E na vovó, ia
e voltava, pois seja a hora que fosse o dia, parecia que, sempre, ela já o
esperava.
Bom, vovó, o garoto continua crescendo.
Continua parecendo criança que acabou de aprender a ler e escrever. Hoje
ele joga palavras ao vento de um vendaval de histórias, para uma estrela que
hoje brilha no céu.
A falta de uma avó, que hoje lhe vem na memória as
rugas de uma senhorinha banguelinha e sorridente. que acompanhava e ajudara a
criar o crescer de mais um bom menino, mais um de seus netinhos, que hoje é mais
um dos que de ti, sentem saudade.
Faz tempo que
ela deixou esse mundo. E só criança tem a completa certeza de que a vovó quando morre, sempre vai pro céu. Hoje a criança que habita em mim surgiu para fazer o garoto acreditar que por aí, em algum lugar, vovó ainda olha por ele. E por todos que
ela amava.
Estrelas são avós.
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