10 de dezembro de 2015

Bença, vó

Por Jéfferson Veloso.



Era um garoto. Moleque. Mais uma criança. Filho de dois perdidos por aí, no mundo. Cresceu forte, à base de alimento e suor da família, no decorrer do tempo que passava em seu dia a dia.
Mãe trabalhadeira, mulher forte, mais uma guerreira.
Pai motorista, subindo e descendo serras e ladeiras, na boleia dos caminhões de todo tipo de dono.
Todo santo Biotônico de cada dia, fazia dar fome àquele menino, que comia e que crescia. Fez nascer no sangue das veias, um pulsar ativo, de mais uma criança que  só queria brincar de bola de gude, bola de meia.
Bendito líquido preto, amargo e forte, sua avó quem apresentara. Droga lícita, desde a infância consumida, hoje pra ele, se torna necessária. Pois o faz lembrar de alguém da família, vovó Aparecida, que para explicar a falta que sentia, faltam-lhe poucas e boas palavras.
Vovó Aparecida. Indiazinha criada na roça. Sem muitas noções de vida, com seu sorriso sempre trazia uma boa prosa, “quentand’no Sol’iôtrodia”. Antes pegar o sol que já nascia n’outro dia, vovó Aparecida assistia Teletubbies enquanto a água do café esquentava. Era pão de queijo, bolo, pão de sal e margarina que ela, com muito amor envolvido, preparava, por ter o prazer de ter acordado mais um dia.
O garoto não sabia o porquê, mas em sua cabeça vez ou outra criava a vontade de perguntar à mãe:
“Posso ir na  vovó Aparecida?”
“Pode, mas quando voltar, “compra” pães.”

E ele lá ia, correndo ou de bicicleta, ver vovó. Porque ela era legal com ele. Porque ela havia deixado um copo cheio de café esfriando pra ele quando chegasse. Porque ela deixava ver desenhos até a hora do almoço sem ter que lavar as vasilhas, pois pra ela, criança não gostava de lavar vasilhas.

E principalmente, porque de felicidade e curiosidade ele ria, de ver uma dona velhinha gargalhando sem vergonha de mostrar a falta de dentes, e ele com vergonha porque estava de janelinha. Era uma amizade livre e segura, que sabugos de milho por ventura, que por sua avó lhes foram entregues, para virar nas mãos do garoto, uma grande historinha de aventura. Era ela quem lhe dava tudo que podia, mesmo que para ele, nada precisava para estar em sua companhia.

“Vai no armazém e compra amendoim pro seu vô”. Vovó sempre pedia.
“Oba! Vou comer amendoim com o vovô”. O garoto respondia.

Ele só queria saber de vê-la todo dia, e depois da escola sempre corria para os braços da vovozinha. Sua capacidade de apreciar os simples, seu afeto por coisas pequenas, fazia valer à pena o passar dos tempos em sua casa. E na vovó, ia e voltava, pois seja a hora que fosse o dia, parecia que, sempre, ela já o esperava.

 Bom, vovó, o garoto continua crescendo. Continua parecendo criança que acabou de aprender a ler e escrever. Hoje ele joga palavras ao vento de um vendaval de histórias, para uma estrela que hoje brilha no céu.
A falta de uma avó, que hoje lhe vem na memória as rugas de uma senhorinha banguelinha e sorridente. que acompanhava e ajudara a criar o crescer de mais um bom menino, mais um de seus netinhos, que hoje é mais um dos que de ti, sentem saudade.


Faz tempo que ela deixou esse mundo. E só criança tem a completa certeza de que a vovó quando morre, sempre vai pro céu. Hoje a criança que habita em mim surgiu para fazer o garoto acreditar que por aí, em algum lugar, vovó ainda olha por ele. E por todos que ela amava.

Estrelas são avós.