2 de julho de 2015

O dia em que me tornei Sarah



Encontrava-me a ler quando, de repente, os olhos fechei. Entrei naquele momento de transe estranho, sem muito conhecimento de causa, não sabendo ao certo se dormia ou descansava.

Senti meu corpo flutuar sem, contudo, sair da cadeira. Vi-me levada a uma realidade que não era a minha, mas fazia parte de um passado de moldura presente.

Amedrontei-me.

Olhei para mim e meu corpo estava só, desprovido de cobertura e repleto de uma luz branca que em minha pele se refletia. Rostos sem fisionomia me rondavam num giro rápido e contínuo, murmurando palavras das quais reconheci apenas meu sobrenome.

Asfixiei-me no ar denso, repleto de um cheiro pútrido de devassidão e isolamento. Meu corpo ardeu no gelo ao qual meu coração se aderia lenta e gradativamente.

O sol aqueceu minha nuca e eu, novamente, sem me perceber de fato, os olhos abri. As palavras se refizeram à minha frente, dando forma a um texto que antes era meramente narrativo.

Ali, lia-o como quem vive a realidade de quem morreu sem fim. Não mais fechei os olhos.

Chorei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário