Ele estava quieto, com os joelhos dobrados e os braços os envolvendo sem muita pressão. Olhava a lua pálida no céu e a enxergava toda borrada. Sentiu um vulto sentar-se ao seu lado e aguardar...
- A lua fica mais bonita se você não colocar filtros entre seus olhos e ela - Ela disse, e com os dedos mais delicados do mundo, enxugou as lágrimas dele.
- É verdade... mas posso sentir a sua luz, de toda forma.
Ele apertou contra si os joelhos e respirou fundo. A luz da lua lhe era mais importante do que qualquer estrela. Sentia-se vivo abaixo dela, e mesmo com os olhos marejados, uma singela felicidade brotava em seu peito.
- Não cheguei a lhe contar. Mas passei no teste - ele disse, sem olhar para ela.
Sentiu um abraço apertado, cheio de uma respiração ofegante e entrecortada por risos pequenos.
- Isso é maravilhoso! Mas não entendo o motivo do seu choro...
Ele a encarou pela primeira vez, e deixou que seus olhos se enamorassem daquela moça de pele alva, os cabelos amendoados e queimados de sol.
- É choro de medo. Medo de ser feliz. De gostar tanto da felicidade e ela um dia me deixar. Não quero voltar pra "isso" de novo.
Ela mordeu o lábio inferior, como fazia todas as vezes que queria dizer algo mas não sabia como. Ele sempre adorara os trejeitos dela, e não conseguiu deixar de esboçar um sorriso.
- A felicidade é traiçoeira, sim - ela disse, finalmente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha - Às vezes ela se mostra tão brilhante (como a lua, hoje) e faz com que nos apaixonemos por ela. E de repente ela se vai... Mas sabe? A gente só se sente infinitos, assim, porque a felicidade não é constante. É por isso que ela nos é tão cara. E maravilhosa.
Ele já tinha pensado em tudo aquilo, mas nada melhor do que ouvi-la falar. Ela era uma espécie de consciência apartada dele, uma outra cabeça que lhe fazia coro nos pensamentos mais perturbadores e controversos.
- Ainda assim, tenho medo.
Eles permaneceram com os corpos colados, em silêncio. Às vezes, não se precisa falar. O silêncio é capaz de comunicar mais do que um discurso num palanque.
Não se sabe quanto tempo se passou, até que ele olhasse novamente para o céu e percebesse que a lua havia se escondido.
- Vou sentir sua falta - ela disse, e ele percebeu que sua voz estava embargada. Não ousou olhar para ela e ver que seus olhos, agora, é que tinham filtros para olharem o céu.
- Vem comigo.
- Mas você nem sabe o destino, ainda - ela sorriu aquele sorriso triste.
Ele tocou seu rosto de leve, sentindo o tremor suave daquela pele cor de lua.
- E isso importa?
Um sorriso largo. Um beijo. O abraço mais apertado de todos. Até a lua resolveu espiar o que acontecia. E, dessa vez, o céu chorou uma chuva quente.
- Não. Não importa.
- Não. Não importa.
http://www.aconteceempetropolis.com.br/2014/10/20/chuva-ajuda-controlar-fogo-parque-nacional-da-serra-dos-orgaos/ |
Por Bia de SouZa
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