13 de abril de 2014

Aquele Sorriso Irônico


Sinto sua falta. Tempos atrás, confesso, estive viciado em você. Mesmo me fazendo tão mal era minha única companhia. Onde quer que eu estivesse, lá estava você. No reflexo da poça d'água de qualquer rua deserta eu via seu rosto sorrindo ironicamente, e aquilo me confortava, de certo modo. Ao lado daquela garrafa vazia, onde há minutos havia cerveja morna, você me fazia companhia. Na escuridão daquele minúsculo quarto, tão úmido e abafado, você sussurrava palavras de inquietação em meus ouvidos, e ser-lhe-ei grato por isto pela eternidade. 

No início eu não te queria por perto, te achava chata e vazia, e quando foi se aproximando tive medo que não fosse embora. Agora te acho irresistível e tenho medo de que não me visite mais. Essa sua mania de aparecer quando todos dão as costas me fascina, bem como os seus delírios e sua insanidade, que de repente se tornam meus, e nos tornamos um só, num caos em equilíbrio.

Sinto-te aqui do lado agora, pois a melancolia e a nostalgia estão entrando pela janela e tocando friamente a minha pele. Outras janelas, outros tempos e outras fotografias. Já te disse tudo isso enquanto estava por aqui da última vez, mas como você sempre volta com o mesmo sorriso, deixo-lhe bem claro novamente: eu te odeio. 
Odeio essa indiferença que exibe sobre o que sinto por você. Saiba também que preciso de você, pois só contigo do lado eu me enxergo sem filtros, me reconheço. Não vá demorar a bater à minha porta outra vez, se é que baterá algum dia, pois sinto sua falta, solidão. 
Só não se esqueça das passagens de volta.



Por Rafael Mota

Como Sempre, Eu Quem Quebro Os Feitiços E Encantos



Eu esmaguei uma formiga, linda e louca formiga. 
Em sua dor ela agoniza pela eternidade. 
Não avistei-a ali, já que estava demasiado distraído com meus míseros problemas.
Se eu ao menos tivesse o cuidado de observar onde pisava ela poderia estar vivendo normalmente.
Na verdade, não pisei em forma alguma, eu esmaguei algo muito maior. 
Se eu ao menos tivesse tomado o cuidado de saber onde você estava com a cabeça, de não pisar em nenhuma ferida sua, ainda poderíamos estar compartilhando aqueles momentos. 
Mas, como sempre, eu estava ocupado demais, distraído demais.
Eu sufoquei, esmaguei um amor, e por isso agonizarei em dores de culpa pela eternidade.
Eu sinto muito. Por mim. Por nós.


Imagem: http://wwwdeprofundis.blogspot.com.br/2012_10_01_archive.html


Por Rafael Mota