4 de março de 2014

Num piscar de olhos



De repente, num dia qualquer, você abre os olhos e não enxerga. Não vê nada, a não ser a negritude do mundo, uma cor tão preta que nem se sabe existente.

Você não escuta. Percebe sussurros inaudíveis, vozes em sua cabeça, uma série de vultos sonoros que não se formam concretos.

Você não consegue pronunciar palavras com coerência, apenas gritos de melancolia, de pura dor e desamor. Gritos desesperados, cheios de uma angustiante sensação de impotência.

Tudo o que você percebe é que nada faz sentido. Porque os sentidos não mais existem. Foram levados por quem deles não precisa, e retira dos que vivem completamente por um simples toque sensorial o que mais lhes é caro.

E é nesse momento que você pensa. Pensa, pensa, pensa e percebe que quem levou do mundo o seu sentido foi você mesmo. Simplesmente porque você não consegue ver as mudanças à sua frente, escutar o som do novo e falar com autêntica propriedade.

Você sumiu com o sentido do mundo. E o sentido de si mesmo foi-se com o dele, como dama de companhia.

Você simplesmente não mais existe. Apenas está.

Então, você decide fechar os olhos em mais uma tentativa desesperada de reencontro com tudo o que não mais existe. E quando você os abre, percebe que de preto, o mundo se tornou branco. Na junção de todas as cores, nada consegue se definir.

Nem mesmo você.


Por Bia de SouZa

Nenhum comentário:

Postar um comentário