19 de fevereiro de 2013

Avião



"You may say, I'm a dreamer..."

          Sonhadores não mudam, mas os ventos mudam de direção e “o tempo voa nas asas de um avião”. Apenas sonhos de criança. Quem disse que sonhos não morrem? Quem disse que é preciso sonhar? As almas mais felizes se desintegram no esquecimento com um sorriso sincero e inesquecível sem sequer saber o que são sonhos, os sonhos que sonhamos. Pobres decadentes, ricos sorridentes. Depressivas pílulas vermelhas ou azuis parecem não oferecer escolha. Cheira a destino, mas tem gosto bem real. Talvez exista uma chave, a questão chave, a resposta para a felicidade. Talvez ela realmente exista, em sua forma mais simples, tão simples quanto a própria, no sorriso ensolarado e suado, fétido e sujo, simples e encantador. O brilho nos olhos e a mãos calejadas, firmes na enxada, se confunde com o brilho nos olhos e as mãos calejadas, sem segurança no lápis. Tristeza é felicidade, sorrisos caem como lágrimas, explodindo em cores no lado escuro da lua.
"Can we pretend that airplanes in the night sky are
like shooting stars.
I could really use a wish right now"...
          De onde vem o ânimo? Por que viver entre latas de gente, sobras de ratos e aglomerados de lixo? E a inspiração do poeta, de onde vem? Mais uma vez se confundem as fontes, e os destinos se cruzam. Nada parece se tratar de escolhas de cores, perfumes ou sabores. O tempo não é mais uma linha. O presente se torna passado tão rápido quanto o futuro vira presente, e o que ecoa na mente é apenas o velho clichê: só existe o agora. Fugindo disso, ao passado, entre linhas - nas entrelinhas do horizonte - não tão distantes: o futuro é o presente.
         Não seria mais digno se despedir da sua realidade? Quanta ingenuidade! Que diferença faria? Eles são menos reais do que a felicidade. Sequer existem. Nunca existiram. Nunca existirão. Falando em felicidade novamente, voltamos ao ponto chave: o duplipensamento faz mais sentido do que parece, o (in)sensato diz que realmente ignorância é força e talvez a resistência seja idiotice. Tanto faz. Como num sonho de criança que um dia morreu afogado, porém sem deixar de bater os braços em momento algum mesmo vendo a praia tão distante e impossível de alcançar, pode ser que morra mais um sonho, dessa vez um sonho de verdade, aliás, mais que um sonho, um ideal. Mas como dizem os bons, não há nada mais imortal. Algo me lembra outra velha frase: nadou, nadou... e morreu na praia! Até que ponto isso é ruim? Talvez até que provem o que é realmente impossível, pois kamikazes nunca morrem.
O sonho não morreu, apenas mudou de aeronave.

8 comentários:

  1. Ok.

    Achei um texto que vai me dar muuuuuito trabalho para criticar, pela complexidade! E estou muito empolgada com isso! Rs.

    Num primeiro momento, apenas um comentariozinho: por favor, nao se mate, ok??

    Brincadeira,Rafa.
    Ja,ja posto un comentario decente.

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  2. Heheh, essa opção está em hibernação. Agora que percebi que a felicidade que eu descrevo está estampada nos olhos da imagem principal do blog. Seria isso o destino? Naaah! Heh.

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  3. Hibernação??

    Bem.

    Deixe-me comentar de maneira que a ideia permaneça onde está.


    Achei seu texto de uma sutileza e uma intensidade extremamente profundas. Todavia, vi na tristeza, numa forma de desilusão (com a vida? com a "Sua" vida? Com as pessoas? As coisas? Os Fatos? Os momentos passados e -não- vividos? Não sei ao certo dizer...)a motivação para a sua escrita. Como se toda a sua frustração conseguisse ser amenizada um pouco através de um texto - aparentemente sem nexo, mas completamente com sentido.

    Eu disse no meu primeiro texto que nós tendemos a escrever quando sentimos sentimentos negativos, mas vi nesse seu texto mais do que uma simples motivação pura e simples de escrever.
    Não sei... Pareceu-me uma justificativa. Só não sei bem sobre o quê.

    Especificamente sobre partes do texto:

    "Depressivas pílulas vermelhas ou azuis parecem não oferecer escolha. Cheira a destino, mas tem gosto bem real." - Matrix é um filme extremamente complexo, exige conhecimentos filosóficos, ainda que pareça apenas um blockbuster qualquer. Mas acima de tudo, Matrix me passa muito a ideia de como é possível que controlemos a nossa vida, o nosso destino, fazendo-o real. A Matrix ilude apenas aqueles que se deixam dominar por ela.Cabe a cada um de nós tomar posse da nossa própria vivência.

    "Tristeza é felicidade, sorrisos caem como lágrimas, explodindo em cores no lado escuro da lua." - Essa duplicidade é necessária, porque o Belo só existe ao lado do Feio,o que torna tudo mais especial. Tristeza, lágrimas e escuridão são necessárias à existência de todos os seus lindos opostos. (E apenas para descontrair: O Lado Escuro da Lua me lembra Transformers, o que por sua vez, lembra-me Megan Fox. Não preciso falar mais nada).

    "Não seria mais digno se despedir da sua realidade? Quanta ingenuidade! Que diferença faria? Eles são menos reais do que a felicidade. Sequer existem. Nunca existiram. Nunca existirão. Falando em felicidade novamente, voltamos ao ponto chave: o duplipensamento faz mais sentido do que parece, o (in)sensato diz que realmente ignorância é força e talvez a resistência seja idiotice." - É muita ingenuidade ter um pensamento com tendências suicidas, especialmente porque a morte nada soluciona, pois não se está presente para ver o resultado. Parabéns por saber disso! Agora, diferença, ah, faz muita diferença... Faz toda a diferença do mundo! Especialemente para quem fica. E quanto às duplicidades, novamente: será que o (in)sensato não poderia às vezes estar com a razão? Não sei, apenas não acho que se seja a todo momento livre de sensatez, não é mesmo? =)

    "Quem disse que sonhos não morrem?"
    "Como num sonho de criança que um dia morreu afogado"
    "pode ser que morra mais um sonho"
    "nadou, nadou... e morreu na praia! "
    "kamikazes nunca morrem." - Morte recorrente, sonhos recorrentes, sonhos mortos recorrentes em todo o texto. Acho que opinar muito profundamente sobre isso talvez não esteja ao meu alcance - ainda que tenhamos anos de convivência e contato - mas quer um conselho ao pé do ouvido, Rafa?

    Sonhe... sonhe sim... Sonhe mais! Pois se um dia seus sonhos morrerem, é sinal de que você ainda continua vivo e capaz de sonhar sonhos novos e reestruturar toda a sua imaginação.

    Seja como os kamikases, mas não haja como eles. Seja imortal em vida, uma vida vivida, repleta de sonhos (sim!), magia (por que não?) e pessoas (elas existem!)...

    E não deixe que a felicidade dos olhos da imagem principal do blog contagiem suas descrições. Essa felicidade está visível apenas para quem não percebe a profundidade verdadeira daquele olhar.



    "Enfim"...
    "All I wanna say is that..."
    I do really care about you!
    *-*






    Foda seu texto. Pronto, falei.

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  4. E perdão imenso pela opinião completamente deslocada do provável intuito do seu texto. Se acertei em algo? Graças!
    Se errei: Bem, depois que se escreve, o texto deixa de ser nosso e passa a ser dos outros.

    Agora é meu.

    ^^

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  5. O que quero comentar sobre seu(s) textos não vão ser totalmente coerentes em um simples comentário, Fael. Por isso peço já desculpas por não deixar um comentário cabivelmente feito como o que a Bia acabou de deixar. Vou deixar para comentar com ações. Ações estas que só poderei demonstrar quando eu te ver novamente.
    O que deixa para você hj é somente uma mensagem subjetiva de um irmão realista:
    "Avise quando for fazer a curva do avião, pois estarei fazendo a curva junto contigo."

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  6. Bia, muito obrigado pelos elogios (e por se dedicar a analisar o meu texto). É muito motivador ter a certeza de que ao menos uma pessoa realmente o leu. Jéfferson, teu sobrenome deveria ser Drummond, nesse caso.

    Creio que se o autor tiver que explicar o seu texto é sinal de que não foi bem escrito. Realmente não foi. Encare esse texto como uma conversa comigo mesmo, ou um simples palavrear para o blog. Um calor absurdo e a pressão de um primeiro dia de merda, digo, de aula e 30 minutos de atraso. Cabeça vazia... A arte só é arte porque não é imutável, como você disse, meu texto agora pertence a ti.

    Uma coisa muito importante: não me levem a sério, a não ser que eu insista.

    Como posso comentar sobre seus comentários, Bia, sem frustrar o leitor (o que nos inclui)? Você foi extremamente precisa ao dizer que o texto é "aparentemente sem nexo, mas completamente com sentido". O texto é apenas um pequeno reflexo de um feixe de luz branca que sai da minha cabeça, dos quais nem sempre tenho controle, que passa por um prisma - o próprio texto, no caso - se transformando num complexo e completo espectro de sete cores. Essa é uma das várias citações (in)diretas que coloquei ali, não com esse mesmo sentido. Acho que só estou “enigmatizando” mais as coisas. Mas esse feixe, o prisma e o espectro se referem ao disco Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, uma das muitas inspirações para o texto. Repare em inspirações, e não motivações. Leia novamente o terceiro parágrafo deste comentário. Matrix é um filme que levei a sério, mas só o primeiro, nada de muito especial. Terceiro parágrafo. A primeira citação do texto é de Carlos Maltz, através da música Depois de Nós, que ecoava na minha mente ao escrever algo sobre aeronaves. Perfeito! Acabo citando Engenheiros do Hawaii novamente, nas entrelinhas do horizonte dessa Highway, digo, desse texto. Perfeito!² Caralho, que comentário sem nexo esse meu! Ah, como eu amo a escrita! Estou apaixonado pela sua interpretação dos pontos do texto. Seria o paraíso da escrita se todo leitor fizesse isso. Isso me lembra seu ótimo texto sobre a escrita, no qual eu percebi as letras fora de ordem apenas após ler por duas vezes e ler o título em destaque numa busca, acredite ou não. Voltemos às citações, já perdi as contas, mas a mais influente delas no texto é a do duplipensamento, da mesma origem de DesIndivíduo: George Orwell. Acredito que tenho uma sensibilidade diferente à leitura - alguns chamam de fanatismo, inclusive o Rafael pessimista, o Rafael Durden -, pois estou cada vez mais desconfiado que, ao ler um texto carregado de sentimentos, de qualquer natureza, eu consigo mais do que captar a maioria deles, capturá-los e transformá-los em sentimentos meus (o que no caso de Orwell não é tão difícil, pois nossos pensamentos político-social-religiosos são bem parecidos). Isso explicaria um cara que lê tão pouco ter tanto o que escrever. Mais que quantidade, a essência é a intensidade. Tenho me deparado com livros, textos e músicas que se parecem muito comigo, mesmo sem procurar por isso, das maneiras mais casuais. Será isso o destino? Sem dúvidas... não. Afirmo isso sem ter uma explicação. Acaso? Coincidência? Talvez. Tanto faz! Terceiro parágrafo. Voltando à citação Orwelliana, ela responde à muitos dos seus questionamentos sobre o texto, e a única coisa que posso dizer sobre isso é que sentirei prazer em te emprestar 1984.

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  7. Mais do que livros e filmes, pessoas têm me inspirado muito nesses tempos, positiva e negativamente, mais o segundo do que o primeiro, e vice-versa, aliás, sempre foi e é assim, pois a arte imita a vida (no caso de 1984, "a vida imita a arte ou a arte imita a vida?" - Sábias palavras do Mr. LP). Pessoas como você, Bia, ou como o Jéfferson. Pessoas atuando como seres humanos, animais que são, irracionais por natureza, instintivas e repugnantes. Mas o que mais me inspirou nas entrelinhas desse texto, o mais relevante - e que você interpretou de um modo que, em dias em que Durden toma o controle por causa de animais irracionais, eu interpretaria - foram os animais emocionais. Apesar do sofrimento, apesar das mãos calejadas e do estômago vazio, mantém um sorriso escancarado, sincero, sorriso que se transforma no choro do poeta, que mal firma o lápis com as mãos trêmulas de emoção. Manter o brilho nos olhos e me inspirar a ponto de fazer brilhar os meus, na mesma intensidade, numa "perfeita simetria", é ser feliz. Ando citando muito Engenheiros. O que quero dizer é que a felicidade reside nas coias simples, no trabalhador que supostamente não tem motivos para tal. Mais uma vez o duplipensamento me intriga. Esse texto é mais uma das perguntas que faço a mim mesmo, nada mais que isso. Terceiro parágrafo, faço questão de enfatizar isso escrevendo um comentário do tamanho da Lua. ‘Ta aí o duplipensamento, Srta. inventora de palavras. Aliás, Orwell cria um alfabeto inteiro em 1984, não sei se comentei contigo, mas é algo que talvez te atraia. Esses olhos, esses seres que me dão inspiração e que "nunca existiram" são os "mendigos, indigentes, indigestos, vagabundos... o resto do mundo... ninguém". Caramba, não vou parar de citar nunca, mas só pra constar, essa é da canção O Resto do Mundo, d’O Pensador. Eu vejo os mendigos como seres humanos mais dignos do que eu, e a questão do suicídio é meio que empatia. Constantemente me coloco no lugar deles e faço reflexões.

    Sendo assim não se preocupem, a opção só deixará a hibernação se o sonho morrer - e ele sempre ameaça a morrer, mas só pra voltar mais forte - e, se reparar bem abaixo da imagem do kamikaze em chamas, há uma frase mais importante que o terceiro parágrafo. E, aliás, kamikazes não morrem por representarem um ideal. Ninguém deve ter percebido o quanto goto de citar, então lá vai a última: "As balas mataram um combatente da liberdade, mas não os seus ideais". - http://imagoverbalis.files.wordpress.com/2009/05/che.jpg?w=700

    PS: *Jesus morreu sem ver os resultados. Deus fugiu para não ter que lidar com o fracasso.
    * Só por curiosidade, o sonho de infância que (não) morreu, mudou de aeronave, foi o de ser piloto de avião, ou pelo menos estar em um. Sonhadores não mudam, mas o tempo voa... Espero estar sendo um pouco menos subjetivo do que de costume.
    *Citei também, nas legendas das imagens (encontradas no google imagens, para citar fontes), Imagine, do J. Lennon, que dispensa comentários, mas é importantíssima para a compreensão da imagem que coloquei o endereço no fim do comentário, se é que abriram-na, se é que leram até aqui, e citei também Airplanes, do BoB e Hayley Williams, que parece se encaixar no meu texto como peças de lego invertidas, e na qual fui me lembrar ao revisar e editar o texto. Acasos e distorções da luz branca que ecoa no meu cérebro e escorrem por minhas mãos de prisma de cristal.
    *Editei grande parte desse texto ao conversar com uma inspiradora hermana, a única companhia agradável de Paracatu*. Pra vocês duas, um beijo "De Fé"!

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