Ela acordou sobressaltada. Sentia os pingos de suor em sua testa, pescoço e colo. Estava ensopada, e a respiração falhava. Sentou-se na beirada da cama e passou as mãos pela pele molhada. Suas mãos tremiam.
Não havia sido um pesadelo. Mas um sonho erótico.
Tantas mãos, masculinas, apalpando-a por toda a superfície de seu corpo. Às vezes, faziam-na gritar de dor. Outras, de um certo prazer mórbido, estranho. Enervante. Era tudo escuro, preto e branco, como num filme noir de categoria B.
E ela detestava filmes noir.
Deitou-se novamente, sentindo-se grudenta e fedida. Não se permitia prazeres tamanhos enquanto acordada, quem diria dormindo! Tantas mãos...
Ela esfregou seu rosto, depois o pescoço com vivacidade, e depois o colo, o peito, a barriga e a virilha. Não queria vestígios daquelas mãos sem dono, pegando-a não se sabe onde, nem mesmo quando ou porquê. Esfregava-se como quem tira mancha de uma roupa imunda, até esgarçá-la nas bordas.
Esfregou-se, esfregou-se, esfregou-se...
E sentiu a perda do rumo, do prumo e do pudor. Do suor, chegou ao líquido sagrado, alvo e sacro, mais pura prova de amor próprio. Tremeu as entranhas frente à libertação do mal. Havia pecado.
Mas se redimiu.
Mas se redimiu.
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Imagem de Craig Tracy
Por Bia de SouZa
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