7 de novembro de 2015

O Adolescente Suicida




Após o sopro inicial do nascimento, a alma do homem segue um fluxo contínuo em direção ao seu reencontro com o nada. Nesse caso, o conceito de tempo seria traduzido nas marcas genéticas que afloram durante o amadurecimento do fruto homem somadas com as lapidações e cicatrizes adquiridas através da relação com o ambiente. O corpo é o veículo que dita a estética e suas transformações para a interação da alma com o mundo físico, assim como as peças de um computador que capturam estímulos externos para que os softwares possam trabalhar e então reproduzir o conteúdo na tela. A relação entre corpo e alma, dentre outras coisas, também exerce gravidade, quando passa a modificar o ambiente e as outras vidas ao seu redor, ao mesmo tempo em que é influenciado de forma direta e indireta por todo o ecossistema.
A inconsciência do animal humano sobre suas características existenciais básicas e sua influencia no meio externo, que em sua maioria envolve outros universos particulares também inconscientes, muitas vezes acarreta na dificuldade de interação e cooperação entre as pessoas em seus diversos grupos sociais, como nos ciclos de amizades ou na família, o que também vale para povos, nações e também pra humanidade como um todo. O homem é essencialmente diferente dos outros animais justamente pelas suas capacidades altamente avançadas de autoavaliação, comunicação, organização, inteligência, etc. Em outras palavras, o que difere o ser humano das outras formas de vida é a sua consciência – altamente ligada à moral - que funciona como um espelho que o faz olhar pra si mesmo, provocando a reflexão. Quando deixa de se autoavaliar e não toma as rédeas da sua interação com o meio, ele está sendo inconsequente com seu próprio futuro, passando a assumir os altos riscos de imprevistos negativos. Um forte empecilho evolutivo é que o homem mal saiu da sua fase de criança, onde tudo é fantasia e não tem responsabilidade sobre seus erros, e está no meio do processo de se descobrir pensador e capaz de grandes transformações positivas no ambiente, que facilitariam a incessável busca da preservação não só da espécie, mas da vida inteligente, até então única no universo, o que faz dele próprio a coisa mais valiosa existente, juntamente com tudo o que já criou entre tecnologia, conhecimento, arte, valores e etc. Enquanto amadurece, o homem se dá ao luxo de errar incansavelmente para que, com sorte, aprenda a se medicar.
Ao longo da história, devido à sua inconsciência natural, o homem adolescente foi inconsequente, como era de se esperar. Ao mesmo tempo em que produzia avanços inimagináveis a ponto de não se limitar em pisar apenas na superfície de seu planeta natal, produziu também uma série de relações altamente danosas à preservação da espécie e do ambiente em que habita, como a destruição de boa parte dos seus recursos naturais básicos e a precarização da condição da maioria dos indivíduos da espécie. O homem, além de não conhecer seu lado racional e transformador, também desconhece o seu lado animal e destruidor, lado qual que se beneficiou do potencial inteligente e estratégico do homem adolescente para aumentar sua eficiência autodestrutiva.
A luta do homem é, então, contra sua própria natureza, que o desafia a amadurecer mesmo que contra a própria vontade, com o propósito de preservar o que o universo demorou alguns bilhões de anos para lapidar, conscientemente ou não. A luta do homem é espiritual, física e mental. É uma luta contra o espelho, contra o ego e, claro, contra seu inconsciente ignorante, que é naturalmente adverso ao conhecimento em todas as suas formas. Sendo assim, os demônios que o homem tem que encarar são bem mais fortes do que os seres malignos que já imaginou: eles são reais, mas são invisíveis e estão cheios de boas intenções. São demônios individuais, mas que podem nos levar ao suicídio coletivo, fazendo com que, prematuramente, o universo adiante seu reencontro com o nada. Um universo vivo, talvez, mas inconsciente de sua própria beleza.


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