6 de setembro de 2015

Eu sou Raul II

Por Jefferson Veloso


Sou isso que veem:
Sou o vício do dia-a-dia
Das noites de extremo exílio
Sou o vento que dobra a esquina
Dos prazeres incessantes

Sou homem
Sou mulher
Sou guerreira
De tripé
Sem pudor
Sou amor
Sou o que tenho sem rancor

 Sou a mãe que repousa o filho
E o filho que cuida do Pai
Sou o saber do meu neto
Que é obra do meu avô

Sou o perigo da surdina
Em terras que brotam acasos
Sou chegada da corrida
De uma caminhada sem rumo

Sou o trago do cigarro de palha
Nesse estrago que causa euforia
Sou mansão cheia de tralhas
Sou a verdade da ilusão

Sou dos bares de cartões sem crédito
Sou falta do que tens pa’ro que não precisa
Sou mera planta doida-varrida
Que não sabe o por quê
Do porque se caminha

Sou o meu pré-conceito
Sou também o que não sei
Sou os meus não dizeres
Daquilo que não perguntei



Sou a falta de tempo
Dessa pressa de morrer
Com destino ilusório
Dos perigos que assumo

Sou o macaco que caiu n’água
E viu que sabia nadar
Comendo mortes para se ter vida
Sou simples barro que sabe andar

No sabor doce da luta
Sou ferida cicatrizada
Na lembrança do amor de infância
Sou o cansaço da jornada
No terror da sensação
Sou evolução da emboscada

Seja eu mais um alquimista
Que não conseguiu criar nada novo
Mais um Ateu que acredita em Deus
Sou duas respostas para a mesma alternativa

São tantos seres dentro do “ser eu”
Que não sei se sou de verdade
Que eu seja então metamorfose ambulante
Mais um simples metamorfo
Que sofre de multi-personalidade

Eu sou ator.