3 de junho de 2014


Simplesmente.
Uma simples mente revolve minh'alma, mentindo para mim.
Mente.
Mente!
Diz-me que não liga, não dança, nem canta essa doce coreografia de anjos suados e com gênero.
Fico fingida, sonsando com ela, e me encanto com a Sereia, tentando me levar a mar.
O que faz-me tão cálida e calma, num mar revolto, emaranhado de nós?
Nós dois, sem eira nem beira, beirando o abismo, abismando-nos com a força de tamanha intensidade, que emana d'uma mente brilhante.
E mentirosa.
Mente rosa!

Ah, amor...

1 de junho de 2014

Dom Quixote



Comecei escrevendo que este texto não seria poema, nem texto bonito; seria um desabafo, no sentido mais puro e sem poética que a palavra desabafar poderia ter. Algo feito para que o coração não fosse abafado e morresse asfixiado no próprio sentimento. Ou algo feito para que aquilo que ainda restasse em algum lugar permanecesse lá, sem desabar. Mas não é nada disso. À medida em que se vai falando, vai-se percebendo que as coisas nunca possuem um sentido pré-definido, o que torna a definição de um texto no primeiro parágrafo uma espécie de mentira. Sei lá. Que sejam apenas palavras escritas por necessidade e necessitando existir. Daí para frente a gente tenta construir um sentido melhor.

Eu já fui Alguém. Alguém que se dizia feliz, que não sentia que as dores do mundo poderiam acabar de uma vez com os sorrisos escancarados que sempre dei. Sim, alguém que tinha prazer em sentir o seu prazer emanar de si e de cada um cujo meu sorriso tocava o coração.

Já faz tempo que não mais sou Alguém. Nem Ninguém. Acho que não sou mais nada. E não ser nada nem tudo faz de você inexistente. Muitas vezes me pego pensando nos problemas, nas minhas angústias e medos, nas manias e fraquezas. Filosofo em meio a um choro constante, daqueles que impedem a respiração de acontecer, e chego a conclusão nenhuma. Chorar filosofando apenas nos mostra como as respostas às coisas são mesmo postas em segundo plano, quando não se sabe nem mesmo quais são as perguntas.

Deixo-me esvair em lágrimas, numa tentativa de encontrar respostas, e permaneço na dúvida por mais muitos outros choros subsequentes. A sensação de anestesia imediata após o choro sempre é boa. Mas como todas as coisas relativamente boas, não duram tempo suficiente para curar feridas. Apenas anestesiam-nas por gostosos momentos.

Tenho me questionado sobre a minha vida há algum tempo. Um tipo de questionamento novo, mais profundo e muito mais vazio. Os meus problemas parecem surgir de outro lugar, não de mim. Esse foi o veredito ao qual cheguei; que me encontro em um estado de alma consequência de escolhas que nunca foram minhas. Mas tão simples concluir que a culpa é do gramado verde do vizinho, quando as rédeas da sua vida se encontram nas suas mãos..

Mais uma vez filosofando, penso estar diante de um impasse relativamente simples de ser colocado: A vida fez uma curva, por caminhos trilhados por outros, e fui de carona. Desci do carro, dizendo que percorreria o meu próprio caminho. Mas me perdi.

E nunca mais, depois disso, consegui me encontrar.

Não sei qual a intensidade com a qual as pessoas se sentem perdidas. Mas não desejo que seja como a minha. O desnorteamento intenso só é bom para a poesia, a arte, essas belezas que surgem das mazelas humanas. Mas não quero ser poeta ou artista agora, quero apenas e tão somente falar. Falar na esperança de que alguém um dia me responda. E que seja eu, este alguém! Ou quem quer que seja... Eu poderia formular um pedido de ajuda, mas penso que algumas coisas não precisam de ajuda, mas de apoio. Apenas uma viga que impeça que o organismo caia em ruínas.

Hoje, tenho em mente muitas músicas. Creio que grande parte delas surgiram das mazelas do mundo. Acho lindo que a arte exista para extrair algo de bom das piores sensações e situações humanas. Mas especialmente uma recorre ao meu inconsciente como um passarinho bicando uma janela, querendo entrar.
Tenho vontade de me apresentar, dizer "Muito prazer, meu nome é otário", que sou um peixe fora d'água ou borboleta no aquário. Mas percebo que a água na qual me encontro é o que me afoga, e o aquário se encontra vazio, porque as borboletas estão no meu estômago. Provavelmente, já se acostumaram com o ácido que anda por lá. Devem ser borboletas bem fortes, aliás. Viciadas em café e com gastrite.

Eu tenho vontade de dizer "Hey! Não sei onde me encontro!". Mas sei. E se perder onde se sabe estar é pior do que estar realmente perdido.

"Muito prazer, muito prazer, muito prazer..." As notas desta frase ecoam pelos locais por onde imagino haja espaço dentro de minha cabeça para essas perambulações de pensamento. Queria que fosse um imenso prazer, meu respeitável público, apresentar-me assim e encontrar a chave da fechadura. Seja o que for... não estou aqui me apresentando, hoje. Muito provavelmente, estou tentando me esconder atrás de um jorro de palavras.

Sinto-me num impasse, mesmo. Porque não sei como cheguei aqui. E mais do que isso, eu não faço ideia de pra onde ir. A única coisa que se move em mim é a ânsia de querer escrever mais e mais e concluir algo depois de tudo. Mas me travo. Como tudo atualmente, travo-me e, ainda que eu saiba existir muito mais a ser dito, não consigo. Parece haver um quebra-cabeças de mil peças dentro da minha própria cabeça, que quebrou e não pode ser montado.

E outro verso vem a mim, nesse ínterim. Que "seja por amor às causas perdidas". Luto e reluto em me afirmar assim. Mas pensando bem, estou perdida. E se posso ser uma causa para alguém, que seja por amor a mim. E que o fim deste texto seja apenas o início de algo (bom) que ainda não sei.